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Autonomia EV. Os campeões europeus… com um chinês que desafia todos

Texto: Júlio Santos
Data: 16 de Dezembro, 2022

As autonomias elétricas estão a evoluir depressa tal como os tempos de carga. O campeão europeu é, por agora o Mercedes EQS com 725 km mas… cuidado: os chineses da XPeng acabam de apresentar o SUV de luxo G9 para o qual anunciam uma autonomia de 702 km e, principalmente, um tempo de carga de cinco minutos para repor energia para 200 km – um novo recorde

Distraídos com o dieselgate que o grupo Volkswagen parece ter conseguido varrer para debaixo do tapete (…) e embalados pela “música” dos novos motores a gasolina, os construtores europeus acordam agora para a dura realidade que é a clara liderança tecnológica dos chineses no domínio da mobilidade 100% elétrica.

O segredo está na redução do custo do armazenamento (que era de 1332 dólares/kWh em 2010 e que os chineses conseguiram já reduzir para menos de 100 dólares/ kWh) o que irá permitir-lhes alcançar, com largo avanço, a meta da paridade de preço entre um veículo elétrico e outro equivalente equipado com motor a combustão. Este é o principal chavão de quase todos os construtores mas… adivinhem que está à cabeça do pelotão…

Com verdadeira "paciência de chinês", os fabricantes automóveis chineses como a XPeng anunciam-se à Europa com elétricos com autonomias elétricas superiores aos melhores registos europeus, como é o caso da Mercedes
Com verdadeira “paciência de chinês”, os fabricantes automóveis chineses como a XPeng anunciam-se à Europa com elétricos com autonomias elétricas superiores aos melhores registos europeus, como é o caso da Mercedes

Como é que foi possível que os europeus se tenham deixado enlear nas suas próprias redes? A resposta é fácil: desde logo porque a paciência de chinês mais uma vez mostrou-se muito mais acutilante do que a arrogância dos europeus, convictos de que o perfume parisiense, o fato por medida italiano ou, mesmo, o rigor da qualidade alemã, tudo conseguiriam resolver. Eternamente!

“Só” isto (e já não seria pouco). Não. A verdade é que enquanto nos andávamos todos a rir com o design “patusco” dos carros “Made in China”, ou com o seu défice de qualidade, pacientemente os construtores chineses, ao mesmo tempo que se multiplicaram, evoluíram em todos aqueles domínios… de que prendem as atenções dos europeus: gadgets tecnologicamente avançados e a preços muito mais convenientes, um desenho muito mais evoluído ou níveis de segurança que preenchem por completo os requisitos europeus são apenas alguns exemplos.

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O cenário para a tempestade perfeita está presente em todos os radares – os americanos já assumiram isso mesmo, colocando barreiras fiscais cuja legalidade está a ser discutida. Desde logo porque o assalto à Europa e aos EUA é absolutamente obrigatório para as marcas chinesas que realizaram investimentos gigantescos na hegemonia tecnológica que já lhes é reconhecida, investimentos esses que não conseguirão ser recuperados apenas com as vendas no mercado doméstico, como aconteceu nos últimos 20 anos.

Quem toma a dianteira?

Quase de um dia para o outro, europeus, japoneses, coreanos e americanos viram, então, escapar-lhe o controlo da indústria e muitos observadores acreditam que isso irá acentuar-se, ainda mais, nos próximos anos, principalmente com a chegada da próxima geração de baterias (as baterias de estado sólido), no final da corrente década. Principalmente porque as maiores reservas de materiais raros, cruciais para a produção das novas baterias (tal como para as atuais), estão… adivinhem onde: na China, claro.

O SUV elétrico U5 é o ponta de lança da ofensiva da Aiways na Europa... e em Portugal
O SUV elétrico U5 é o ponta de lança da ofensiva da Aiways na Europa… e em Portugal

Não admira por tudo isto que “todos os dias” nasçam na China novos construtores, com uma capacidade de afirmação espantosa, como é o caso da Aiways, já presente em Portugal, uma “start up” com apenas cinco anos que iniciou já a construção de uma segunda fábrica fora da China (na Tailândia, mais exatamente) ou da XPeng, com apenas três anos, de que falaremos mais adiante.

Como os cogumelos, a oferta chinesa multiplica-se e chegará em força à Europa nos próximos dois anos, seja tendo como protagonistas as novas marcas ou, como se espera, tendo como catalisador aqueles que são já os construtores tradicionais, como a Geely, a Saic, a Great Wall ou a BYD.

Mas porque é que esse “assalto” à Europa não começou já? A resposta tem a ver com um certo “apego” que os europeus ainda têm às suas marcas mas explica-se, principalmente, à luz dos inesperados problemas causados pela guerra na Ucrânia, os quais estão bem refletidos nas vendas de veículos elétricos (incluído híbridos plug in) no primeiro semestre deste ano que na Europa cresceram apenas 9%, enquanto na China superaram os 113% e 49% no Canadá e EUA, com as vendas totais no mundo a alcançarem os 4,3 milhões de unidades (um crescimento de 62% face ao primeiro semestre de 2021).

A atual gama europeia da BYD é composta pelo SUV Han, a berlina Tang e o SUV compacto Atto 3 (da esq. para a direita)
A atual gama europeia da BYD é composta pelo SUV Han, a berlina Tang e o SUV compacto Atto 3 (da esq. para a direita)

Apesar do “lockdown”, devido à crise do Covid (situação que começa agora a ser levantada) a China continua, portanto imparável, o que ajuda a explicar o peso preponderante dos construtores locais. Testemunho disso mesmo é a liderança alcançada pela BYD cujas vendas globais de elétricos, no período em questão, aumentaram 320%, muito à custa, no entanto, do sucesso dos seus híbridos plug-in. Já no que respeita aos 100% elétricos (BEV) a Tesla continua a ser a número um, com as vendas globais a crescerem 46%. Ainda no que diz respeito exclusivamente aos BEV o primeiro semestre do ano sorriu de forma especial à BYD, à General Motors, ao Grupo Volkswagen e ao Grupo Hyundai, mas os grupos Geely (334%) e Chery (220%) registaram, também performances assinaláveis.

O canto do cisne europeu?

Nos números relativos às vendas de automóveis elétricos no primeiro semestre deste ano salta igualmente à vista a forte progressão dos já referidos “novos construtores” (onde se inclui, por exemplo a Yodo, a Aiways ou a XPeng, entre outros). Esta é, aliás, uma tendência que os analistas consideram que poderá acentuar-se nos próximos anos dado que as propostas que estes apresentam conseguem já, em muitos casos, ofuscar aquilo que as marcas tradicionais europeias são capazes de oferecer. Principalmente, disponibilizando soluções que contornam aquelas que são as principais preocupações ainda inerentes á mobilidade elétrica.

O Wey Coffee 01 é mais um SUV chinês de ambições premium, neste caso híbrido plug-in, e que promete colocar os europeus em sentido
O Wey Coffee 01 é mais um SUV chinês de ambições premium, neste caso híbrido plug-in, e que promete colocar os europeus em sentido

Exemplos disso não faltam. O Coffee 01, da Wey, que acaba de ser lançado na Alemanha, é um híbrido plug-in com 146 km de autonomia elétrica que alcançou a classificação máxima nos testes de segurança europeus, enquanto a XPeng, com apenas três anos, anunciou agora o seu terceiro modelo. Nada menos do que um SUV de luxo, com quase cinco metros de comprimento, que quer rivalizar com o Range Rover, que está equipado com as tecnologias de segurança mais avançadas e os dispositivos de conetividade de última geração, com destaque para o ecrã central de 15 polegadas.

Mais elucidativo, ainda: está equipado com uma bateria de iões de lítio com 96 kWh que lhe permite anunciar uma autonomia de 702 km… de acordo com o ciclo “local” (CLTC) que, no entanto, tem um desfasamento face ao regime de homologação europeu (WLTP) que chega aos 25%, o que quer dizer que, ainda assim, a autonomia real deverá situar-se entre os 550 e os 600 km, o que o deixa numa posição interessante face aos melhores valores dos europeus (ver galeria de imagens abaixo).

Mesmo que o XPeng G9 não bata o recorde de autonomia, testemunho do apuro tecnológico é o tempo recorde que anuncia para repor energia suficiente para percorrer 200 km: apenas cinco minutos. Ainda que, também aqui, seja necessário ler a letrinhas mais pequenas: desde que seja utilizado um carregador com 480 kW de capacidade, inexistentes na europa onde ainda predominam os de 350 kW.

O Xpeng G9 é um SUV premium que pretende rivalizar com o estatutário Range Rover... e destronar o Mercedes EQS como proposta no topo das autonomias elétricas
O Xpeng G9 é um SUV premium que pretende rivalizar com o estatutário Range Rover… e destronar o Mercedes EQS como proposta no topo das autonomias elétricas

Enfim… o futuro começa todos os dias!

Conheça os 10 modelos com maiores autonomias

Mercedes EQS
Autonomia: 784 km / Preço: 123 149,99€
Mercedes EQS SUV
Autonomia - 672 km / Preço - 129 349,99€
BMW iX
Autonomia - 630 km / Preço - 89.150,00€
Mercedes EQE
Autonomia - 626 km / Preço - 74.650,00€
BMW i7
Autonomia - 625 km / Preço - 146.850,00€
Polestar 3
Autonomia - 610 km / Preço - 96.200€
Tesla Model 3 Long Range
Autonomia - 602 km/ Preço - 62.990,00€
Ford Mustang Mach-E
Autonomia - 600 km / Preço - 75.024,00€
Tesla Model S Plaid
Autonomia - 600 km / Preço - 141.990,00€
Skoda Enyaq iV
Autonomia - 544 km / 52 564,78€