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Alguém pediu um Euro 7? Marcas não poupam críticas a Bruxelas

Texto: Carlos Moura
Data: 20 de Novembro, 2022

As normas relativas aos motores Euro 7, que antecipam o fim dos veículos com motores de combustão a gasolina e a gasóleo, não agradam a ninguém e as marcas não poupam críticas a Bruxelas. 

A União Europeia aprovou uma proposta de normas de emissões mais rígidas para a última geração de motores de combustão interna no Velho Continente, que, alegadamente, se destinam a reduzir as emissões de partículas nas cidades.

A União Europeia defende que a nova norma Euro 7 irá permitir uma redução de aproximadamente 25% nas emissões de óxido nitroso pelos motores a gasóleo. Aquela substância pode danificar as vias respiratórias dos seres humanos, provocando infeções pulmonares e asma, além de poderem estar na origem de doenças crónicas nos pulmões.  

A norma Euro 7 é mais exigente nas emissões, designadamente de óxidos nitrosos

“O transporte rodoviário é a maior fonte de poluição atmosférica nas cidades”, afirma a União Europeia, em comunicado, acrescentando que a nova legislação vai possibilitar uma redução de 33% nas emissões de óxido nitroso até 2035 em comparação com os níveis permitidos pela lei atualmente. 

“A nova norma Euro 7 irá assegurar veículos mais limpos nas nossas estradas e melhorar a qualidade do ar, protegendo a saúde dos nossos cidadãos e o ambiente”. 

Objetivos do Euro 7

A adoção do novo regulamento, que exige a aprovação pelos Estados-membros e pelo Parlamento Europeu, tem vindo a ser sucessivamente diversas vezes, enquanto se discutiam se discutiam as medidas a aplicar.

Os executivos da indústria automóvel, incluindo o português Carlos Tavares, CEO da Stellantis, afirmaram que as últimas medidas impunham fardos desnecessários e irá abrandar a mudança do setor para a eletrificação. 

O abastecimento de gasóleo e gasolina terá tendência para diminuir à medida que o parque automóvel for sendo substituído

Os níveis de óxidos nitrosos para os motores a gasolina vão continuar os mesmos, permitindo emissões de 60 miligramas por cada quilómetro percorrido. Os motores a gasóleo vão ter de baixar para esse valor, o que representa uma diminuição face aos 80 miligramas autorizados pela norma Euro 6.

A proposta inclui igualmente limites para as emissões de partículas por parte dos travões e dos pneus, estendendo-se também aos veículos elétricos. Alguns estudos vieram demonstrar que a utilização dos travões é uma das maiores fontes de emissões não relacionadas com o escape nas áreas urbanas.

Reações diversas

A proposta da União Europeia já suscitou várias reações na indústria automóvel. A Ford, que criou duas divisões internas para veículos de combustão tradicionais (Ford Blue) e veículos elétricos (Ford-e), afirma que a legislação proposta tem o “potencial de enfraquecer o grande progresso que a Europa tem feito na mudança para a mobilidade elétrica”.

“Não deveríamos desviar recursos para a tecnologia do passado e em vez disso investir em emissões zero”, sublinha a Ford em comunicado. “O nosso objetivo na Ford é claro: emissões zero em todos os veículos de passageiros Ford até 2030 e para todos veículos Ford até 2035”.

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Por sua vez, a ACEA (Associação Europeia de Construtores de Automóveis) defende que a proposta de benefício ambiental do Euro 7 é “muito limitada” comparada com o aumento de custos dos veículos. A entrada em vigor em julho de 2025 para automóveis e julho de 2027 para camiões é “irrealista, atendendo ao elevado número de modelos e versões que necessitam de ser desenvolvidos, projetados, testados e aprovados até essas datas”.

A poderosa associação da indústria automóvel alemã VDA também entende que dificilmente será possível implementar o Euro 7 para veículos ligeiros até 2025 e 2027 para os pesados. “O desenvolvimento e aprovação dessa medida com uma transição de apenas um ano após a conclusão dos formalismos legais simplesmente não é viável”, refere a VDA.

Polémica continua

A organização ambientalista “Transport & Environment” sublinha que os novos limites da proposta são “assustadoramente fracos” e que a Comissão Europeu cedeu à pressão da indústria automóvel numa tentativa de branquear 100 milhões de carros altamente poluentes que serão vendidos na década até 2035.  

A CLEPA (Associação Europeia dos Fornecedores de Componentes da a Indústria Automóvel) considera que a proposta representa um passo significativo, mas alerta para os detalhes técnicos que necessitam de ser finalizados para que seja possível o desenvolvimento e testes das tecnologias. A CLEPA entende que é necessário um período de pelo menos 24 meses para a sua implementação, após a aprovação do Euro 7.

Os veículos novos com motores de combustão deixarão de ser poder vendidos na Europa a partir de 2035

Os defensores da nova legislação argumentam que muitos veículos comercializados entre 2025 e 2035 serão vendidos depois no mercado de usados e estarão em circulação nas estradas durante décadas. Isso significa que são necessárias medidas mais exigentes relativamente às emissões de partículas para salvar milhares de vidas. 

A União Europeia, recorde-se, chegou a um acordo para a proibição efetiva de novos carros com motor de combustão interna a partir de 2035. A medida acarreta riscos em termos de emprego e valor de aquisição dos veículos. O comissário europeu para o mercado interno Thierry Breton já veio dizer que poderá ser possível um atraso na implementação da medida até 2026.