O CEO da Stellantis Carlos Tavares tem vindo a criticar o tratamento preferencial dado aos chineses e à Tesla pelos governantes europeus, designadamente franceses. O português não hesita entrar em rota de colisão com o ministro gaulês das Finanças acerca dos seus planos para a produção de automóveis elétricos compactos em países onde os custos sejam mais competitivos.
O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, e o ministro francês das Finanças Bruno Le Maire estão verdadeiramente de candeias às avessas. O episódio mais recente veio a propósito do tratamento privilegiado dado pelo Governo francês ao CEO da Tesla, Elon Musk, quando este último visitou a França em meados de maio.
Elon Musk teve uma reunião no Palácio do Eliseu com o presidente gaulês Emmanuel Macron que tentou convencer o CEO da Tesla a investir em França. Elon Musk foi levado para o Palácio de Versalhes, onde foi o convidado de honra entre 200 empresários convidados para discutir novos investimentos.
O ministro das Finanças Bruno Le Maire publicou na rede social LinkedIn uma selfie com Elon Musk com a etiqueta #ChooseFrance. Isto parece não ter sido do agrado de Carlos Tavares, o CEO da Stellantis, grupo que detém as marcas francesas Peugeot, Citroën e DS. O português mantém uma relação tensa com Bruno Le Marie, que entraram em rota de colisão quando a Stellantis anunciou o seu plano para aumentar a produção em países, onde os custos de mão-de-obra são inferiores.
Tratamento preferencial
Os alertas de Carlos Tavares acerca da chegada de carros chineses baratos parecem ter caído em saco roto, assim como a preocupação acerca da receção entusiástica à Tesla e à BYD, que procuram instalar fábricas na Europa.
Na semana passada, Bruno Le Maire pediu a Carlos Tavares de demonstrar algum “patriotismo económico” e seguir o exemplo da arquirival Renault na produção de um pequeno carro elétrico em França. Na verdade, a Renault não terá tido muita opção de escolha nesta matéria, já que o Estado francês é o seu principal acionista.
Carlos Tavares não perdeu tempo a responder, dizendo que os fabricantes de automóveis sem um legado de motor de combustão estão a receber um tratamento favorável face a construtores que contribuíram bastante para a riqueza da Europa Ocidental.
“Não existe motivo algum para assumirmos o risco adicional de produzir automóveis compactos num país de elevados custos”, afirmou Carlos Tavares durante uma conferência de imprensa online. “Se o país está a tentar atrair recém-chegados para investirem em novas fábricas, então peçam-lhes para assumirem o risco”.
Elétricos têm custos de produção mais elevados
Os motivos de Carlos Tavares são claros: o custo e a complexidade da transição para veículos elétricos. O Grupo Stellantis tem 14 marcas e 12 fábricas em todo o mundo, sendo que muitas delas necessitam de ser modernizadas. O português iniciou uma estratégia de redução de custos numa altura em que os governos tentam salvar empregos. Os sindicatos, por seu lado, queixam-se que a Stellantis não investe o suficiente na modernização de fábricas.
Por outro lado, a produção de veículos elétricos irá exigir menos operários e existe a preocupação que esses “recém-chegados” irão ser um desafio adicional. A Tesla já tem uma fábrica na Alemanha e o modelo elétrico mais vendido na Europa passou a ser o Model Y.
A BYD tem adotado uma estratégia de integração vertical, produzindo as suas próprias baterias e semicondutores para baixar custos e preços.
Para responder à ofensiva dos chineses e da Tesla, a Stellantis apresentou dois novos veículos elétricos. O Fiat 600, que é o sucessor indireto do Punto, e o Fiat Topolino, que basicamente é a versão da marca italiana do quadriciclo elétrico (microcarro) Citroën Ami.
Apesar de terem sido revelados na fábrica histórica de Turim serão produzidos na Polónia e em Marrocos, respetivamente. Isso levou o ministro italiano da Indústria a reclamar que a Stellantis não está a produzir carros suficientes em Itália e que o país tem espaço para uma segunda grande marca.
Espanha oferece melhores condições
Voltando a França, Bruno Le Maire quer que a Stellantis aumente a produção no país da versão elétrica do Peugeot 208 para salvar empregos e ajudar a controlar a inflação. Mas aparentemente, a Stellantis terá outras intenções e que passam por Espanha, onde a fábrica de Saragoça produz modelos utilitários como o Opel Corsa.
LEIA TAMBÉM
Stellantis admite produzir veículos elétricos na Índia para a Europa
A Espanha é um dos países mais competitivos para o investimento na produção de veículos elétricos não só devido às condições fiscais mais favoráveis, mas também, aos custos inferiores de mão-de-obra e energia.
“Os países do sul e do leste da Europa “são mais competitivos em termos de custos do que os do norte,” referiu Carlos Tavares. “Tenho a responsabilidade de tomar decisões razoáveis hoje que não tenham um impacto negativo no futuro da empresa daqui a alguns anos”.