A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui, na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje, contamos-lhe a história da AGB e da IPA.
Ao contrário da maior parte dos projetos nacionais automóveis dos anos 50, como a FAP, a DM, e a Alba, a AGB e a IPA não almejavam construir modelos de competição.
No entanto, conseguiram provar, de igual forma, a capacidade que Portugal tinha, para o estabelecimento de uma indústria automóvel.
AGB
A AGB surgiu da mente de António Gonçalves Batista. Português que tinha como objectivo criar um carro que fosse acessível a todas as pessoas que, até então, nunca tinham tido posses para ter um automóvel.
Também por este motivo, António Batista decide-se pela construção de um micro-carro, cujo primeiro protótipo surge em 1952.
Bastante rústico e com um motor de apenas 125 cc, este constitui um importante passo para surgimento, em 1954, do AGB Lusito.
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O AGB Lusito deu-se a conhecer com uma configuração clássica, de três volumes, e duas portas, assim como, com um desenho bastante fluido e redondo.
O motor foi remetido para a traseira, atrás do eixo posterior, ostentando uma configuração de apenas um cilindro, a debitar somente 6 cv.
Era, na verdade, um automóvel muito compacto e simples, tendo António Batista planos sérios para o produzir em série.
Desafortunadamente, nunca chegaria a esta etapa, pois, embora tenha sido obtida a permissão para a sua produção, a DGV proibiu a marca de fabricar motores e caixas de velocidade, inviabilizando o projeto.
IPA
De qualquer forma, o Lusito ainda conseguiu cumprir uma ultima missão: inspirar a criação da marca IPA.
Segundo consta, o criador da IPA, o engenheiro João Monteiro Conceição, decidiu criar o seu próprio micro-carro, na sequência de uma reparação ao AGB Lusito. Com o qual terá ficado deveras impressionado.
A IPA (Indústria Portuguesa de Automóveis) estabeleceu-se, assim, como uma marca, de certa forma, nascida das cinzas da AGB.
IPA 300
O IPA 300 foi o primeiro (e único) modelo desta marca, e em tudo se assemelhava ao Lusito.
Não obstante, apresentou-se como um carro superior, e que procurava, sobretudo, ultrapassar os obstáculos impostos à produção do quadriciclo da AGB.
Por esta mesma razão, adotou, como base, um modelo da marca inglesa Astra, ao qual foi buscar ainda o motor de 2 cilindros, capaz de oferecer, muito maior elasticidade e potência (16 cv), que o bloco do Lusito.
À semelhança deste, também no IPA, o motor surgia colocado na traseira.
O IPA 300 tinha duas versões: uma de dois lugares, e outra de "2+2" lugares. Ambas as carroçarias tinham um desenho fluido e avançado, que em nada perdia para os melhores micro-carros europeus daquela época, tendo-se mostrado um modelo bem concebido e capaz.
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O projeto do IPA 300 iniciou-se em 1956, tendo sido concluído e apresentado, em 1958, na Feira das Indústrias Portuguesas.
As duas versões foram apresentadas ao mesmo tempo, tendo captado uma enorme atenção, sobretudo mediática. Levando, mesmo, à presença do Presidente da República, Craveiro Lopes, e do Presidente do Concelho, Marcello Caetano. Fazendo, mesmo, antever um grande apoio da parte do Estado Novo, para uma eventual produção em série, muito pretendida pela IPA.
Apesar deste entusiasmo, de todas as condições reunidas, e de tudo indicar que seria, desta vez, que uma marca portuguesa iria finalmente produzir modelos em série, tal não veio a verificar-se.
Tudo indica que, desta vez, terão sido os interesse políticos a intrometerem-se no sonho automóvel português.
Segundo consta, foi o então Secretário de Estado da Indústria (António Ramalho), que vetou a IPA, pois, o estabelecimento da mesma, iria contra a sua política industrial, que estabelecia um maior apoio aos fabricantes estrangeiros, no nosso país.