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Toyota GR86. Renovar a esperança

Texto: Francisco Cruz / Fotografia: Interslide / Paulo Maria
Data: 10 de Maio, 2023

Numa época em que os riscos do Automóvel se tornar não mais do que um meio de transporte parecem aumentar, o novo Toyota GR86 é o tipo de proposta que nos faz voltar a acreditar que a Emoção, tal como a Esperança, não morreu. Pelo contrário, surge renovada!…

Depois da (boa) surpresa causada com o GT86, um desportivo purista que mereceu palmas e elogios da generalidade dos fãs das emoções ao volante, eis que a Toyota decide levar mais além o desafio… e a fórmula inicial. Agora, através do GR86, o sucessor perfeito daquele que foi o modelo original, e, tal como este, a professar a pureza da mecânica, com alma e potência renovadas.

No entanto, é ainda no primeiro olhar que constatamos as inúmeras semelhanças entre os dois modelos, com o novo GR86 a manter posicionamento, estética e dimensões muito idênticos aos do antecessor (apenas mais 5 mm entre eixos e menos 10 mm na distância ao solo…), além do perfil assumidamente coupé.

Linhas que, em conjunto com umas desportivas jantes negras de 18″, além das já emblemáticas ponteiras de dimensões generosas, como que anunciam que nada falta para que a diversão seja muita…

Um habitáculo como antecâmara da condução

Já no habitáculo, de acesso baixo e em que a saída se afigura bem mais difícil, em particular, para todos aqueles já sem a ginástica de outros tempos, o prazer imediato de um posto de condução que nos faz sentir parte do carro, graças também a um banco que, além de surgir 5 mm mais baixo que no antecessor, encaixa o corpo na perfeição, apoiado por uma pedaleira e apoio de pé esquerdo em metal, assim como por um volante ajustável e boa pega. Argumentos que também mostram, de imediato, qual a finalidade de uma proposta como esta – entregar-se à condução.

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Por outro lado, também valerá a pena avisar, desde já, que não estar à espera de um habitáculo a exaltar qualidade, nomeadamente, através de um cuidado extremo nos revestimento, já que o plástico, rijo e nalguns casos rugoso, ainda que com uma construção que nos parece sólida, domina. Tal como não deverá estar à espera de grandes cuidados em termos estéticos, já que, ao invés de nos deixar a olhar para os acabamentos, a Toyota preferiu proporcionar um ambiente simples, negro e desportivo, em que até mesmo os comandos físicos adoptam a simplicidade como qualidade principal.

Desta forma, a cativar a atenção, só mesmo o painel de instrumentos 100% digital e a que não falta sequer uma animação inicial, ou o ecrã central táctil a cores, parte de um sistema de infoentretenimento, ele próprio, com um layout quase tão básico quanto o plástico e botões (tradicionais) que o acompanham.

Ainda assim, verdadeiramente difícil de ultrapassar, são as limitações em termos de espaço interior, com o GR86 assumir-se, tal como, de resto, já acontecia com o seu antecessor, como um carro para apenas duas pessoas. Até porque, uma vez colocados perante o espaço existente, será difícil convencer um, ou até mesmo dois, temerários, dispostos a, mesmo que por curtas distâncias, aceitarem acomodar-se naquilo a que a Toyota chama de ‘bancos traseiros’!

Uma designação que, diga-se, pouco menos é do que exagerada, não apenas fruto da dificuldade de acesso e saída que os lugares apresentam, como também e até mesmo, das limitações que a própria bagageira apresenta. A qual, com os seus 226 litros de capacidade inicial, além de acesso alto, acaba agudizando as sensações negativas decorrentes de um habitáculo em que os espaços de arrumação praticamente não existem e onde, encontrar um espaço para colocar uma carteira e restantes pertences que connosco transportamos, pode revelar-se um desafio difícil de concretizar!…

Porque é ao volante que tudo faz sentido…

Felizmente e uma vez colocado o GR86 em andamento, tudo isto acaba por e a exemplo de vários outros aspectos menos conseguidos, passar para segunda plano, com o surgimento do quatro cilindros boxer, agora com 2,4 litros naturalmente aspirados e potência aumentada dos 200 para os 237 cv às 7000 rpm, além de um binário que subiu dos 205 para os 250 Nm (também passou a estar disponível mais cedo, logo às 3700 rpm, contra as anteriores 7000 rpm), a mostrar, desde o início, que é ele, sem dúvida, um dos principais protagonistas num conjunto que tem tudo para apaixonar.

A começar, fruto de promessas como é o caso da aceleração dos 0 aos 100 km/h em 6,3s ou de uma velocidade máxima fixada nos 226 km/h. Mas, principalmente, um envolvimento na condução que nos faz querer andar sempre a espicaçar o carro!

De resto e sem necessitar de recorrer a modos de condução complexos que influem tanto no desempenho do motor, como da caixa de velocidades (quando automática) e direcção, mas, tão-só, a um conjunto de quatro níveis de intervenção do controlo de estabilidade (Neve, Normal, Sport e Pista), acaba sendo através da plena expressão do bloco, logo a partir dos regimes intermédios, que, em conjunto com a mais valia da tracção traseira e uma distribuição equilibrada de peso (53:47), o GR86 melhor exalta as suas qualidades. As quais acabam sendo transmitidas ao condutor também através de uma caixa manual que, igualmente atualizada, oferece uma engrenagem curta e precisa; uma direcção que, com peso o correcto, torna fácil a colocação do desportivo em curva; e um sistema de travagem que nunca se mostrou permeável ao cansaço.

Por outro lado e embora primando por um pisar convincentemente informativo, desengane-se caso pense que este desportivo nipónico não sabe o que é a preservação do conforto; pelo contrário, mostrou sempre, durante o tempo em que esteve ao nosso serviço, competência para uma utilização no dia-a-dia, ainda que com uma média de consumo de 9,2 l/100 km que dificilmente cativará tanto quanto o desempenho. Mas que também encontrará explicação no facto deste desportivo não dispor do hoje em dia totalmente vulgarizado Stopt&Start…

O veredicto?…

Mesmo com consumos pouco adequados aos dias que correm, algo que, também se poderá dizer do preço que começa nos 52 650€, a verdade é que, ainda assim, não faltam argumentos a este Toyota GR86, que justifiquem a opção por uma proposta que, apesar de todas as suas (naturais) limitações, corre o risco maior de tornar-se uma verdadeira raridade.

Situação que, assumimo-lo, deixa-nos, sem dúvida, tristes, até porque, são modelos como este GR 86, que conseguem manter vivo aquilo que é, verdadeiramente, a emoção na condução que só o Automóvel consegue oferecer…

Toyota GR86

Preço 52 650€ (52 650€ preço versão ensaiada)

Motor Gasolina 4 cil, 2.387 cc
Potência 234 cv às 7.000 rpm
Binário 250 Nm às 3.700 rpm
Transmissão Traseira, Man., 6 vel.
Peso 1.339 kg
Comp./Larg./Alt. 4,26/1,77/1,31 m
Dist. entre eixos 2,57 m
Mala 226 l
Desempenho 6,3 s 0-100 km/h; 226 km/h Vel. Máx.
Consumo 8,7 (9,2*) l/100 km
Emissões 198 g/km

* Medições Turbo

GOSTÁMOS

– Comportamento
– Motor
– Posição de condução

NÃO GOSTÁMOS

– Plásticos
– Espaços de arrumação
– Bancos traseiros