A revolução está aí. Neste caso, protagonizada pela Dacia e por aquele que é o seu primeiro modelo 100% elétrico, o Spring. O qual já tivemos, de resto, oportunidade de conduzir, para descobrir que esta é, provavelmente, a revolução mais racional a que já assistimos…
Hoje em dia a procurar descolar da imagem de marca low-cost do grupo Renault, com que foi inicialmente lançada, a Dacia vive, agora, uma nova fase na sua existência. Orientada, desde logo e nesta nova etapa, pelo princípio basilar do ‘best value for money‘ e com o propósito declarado de “redefinir constantemente aquilo que é o Essencial“. Para bom entendedor…
Ajudada por um percurso que começou há 16 anos e ao longo do qual soma já sete milhões de carros comercializados, em grande parte também devido ao sucesso de modelos como o Duster ou o Sandero – este último é, aliás, o modelo mais vendido em Portugal e na Europa, a particulares… -, desta nova etapa, acaba também fazendo parte a estreia na Mobilidade Eléctrica e, mais concretamente, o primeiro modelo 100% elétrico da marca romena, o Spring. Nome que, antevendo ele próprio uma espécie de nova primavera, assume-se, também enquanto modelo, como uma verdadeira revolução… elétrica e muito racional!
A reforçar esta ideia, um elétrico que, claramente, é a materialização perfeita daquele que é o novo posicionamento da Dacia, perante os seus clientes: uma marca fortemente racional, que procura oferecer aquilo que considera ser o essencial em qualquer proposta, também como forma de, mesmo em sectores do mercado ainda com preços muito altos, como é o caso dos elétricos, conseguir propor os preços mais baixos. Como, de resto, acontece com este Spring, o qual se anuncia, desde já, como o automóvel elétrico mais acessível e democrático do mercado!
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De que forma é que isso é feito? Fácil! Desde logo e mesmo sem prescindir de garantir uma estética exterior agradável e personalizada, tipo SUV, propondo um equipamento que, mesmo diferenciado segundo duas versões – Comfort e Comfort Plus -, procura assegurar aquilo que é visto, hoje em dia, como o essencial. E que, na mais equipada Comfort Plus, a qual representa 80% das encomendas feitas até ao momento, resulta na presença dos detalhes estilísticos em laranja, estofos em pele sintética (TEP), sistema multimédia MediaNav com ecrã táctil de 7″, sistema de navegação, rádio DAB, replicação smartphone compatível com Apple CarPlay e Android Auto, ligação Bluetooth, 2 altifalantes, entrada USB, entrada AUX, câmara de marcha-atrás e sistema de ajuda ao estacionamento traseiro.
Equipamentos a que se juntam, depois, outros argumentos provenientes da versão Comfort, como é o caso da assinatura luminosa LED, o ar condicionado, computador de bordo, vidros elétricos à frente e atrás, espelhos retrovisores exteriores com comando elétrico, jantes de 14 polegadas, o banco do condutor regulável em altura, sistema de ajuda ao arranque em subida, limitador de velocidade, sensor de luminosidade, e outros.
Dimensões de citadino, habitáculo (despido) de utilitário
Por outro lado e a contribuir igualmente para o epíteto de elétrico mais acessível do mercado, além de perfeitamente adaptado às novas formas de mobilidade urbana, dimensões exteriores de verdadeiro segmento A – 3,74 m de comprimento, 1,77 m de largura e 1,51 m de altura -, conjugadas com um habitáculo onde, além de uma lotação de quatro adultos sem dificuldades de maior, sobressaem também os mais de 23 litros de espaços para arrumação. E, principalmente, o maior espaço de carga do segmento: 290 litros, mas que a possibilidade de rebatimento das costas dos bancos traseiros facilmente faz disparar até aos 631 litros; e sem penalizações inesperadas decorrentes da presença do pack de baterias, que fica situado por baixo dos bancos traseiros.
Já no habitáculo, o reafirmar do conceito de essencial, com o Spring a despir-se de quaisquer embelezamentos estéticos, a não ser uma moldura em plástico preto brilhante, em redor do ecrã táctil de 7″ do sistema de infoentretenimento MediaNav. Sendo que, a partir daí e mesmo com um painel de instrumentos 100% digital de 3,5″ e de fácil leitura, são os plásticos de fraca qualidade que sobressaem (melhor a solidez de construção), a par dos comandos físicos de aspecto já algo ultrapassado. Ou seja, opções que deixam este Spring muito longe dos calcanhares do novo Sandero…
Já quanto à posição de condução, assumidamente alta e a procurar privilegiar, quer a visibilidade, quer o acesso aos (poucos) comandos, notória é, também, a presença de um volante demasiado grande, acompanhado de um banco confortável, mas que nos mantém muito longe, por exemplo, do botão rotativo que serve para seleccionar o sentido da marcha. Embora e neste caso, também devido ao facto deste último estar excessivamente baixo…
Com 44 cv… e energia suficiente para bons andamentos
Passando ao sistema de propulsão, o mesmo esforço de racionalidade e aposta no essencial, com o Dacia Spring a envergar um só motor elétrico, simples e funcional, a debitar não mais que 44 cv e 125 Nm. E que, alimentado por uma bateria de capacidade idêntica à do Twingo Electric, com 27,4 kWh, não apenas assegura uma capacidade de aceleração dos 0 aos 50 km/h em 5,2 segundos, como acaba contribuindo para uma autonomia maior que a do “primo” francês: 230 km em ciclo combinado WLTP, ou 305 km em ciclo urbano, também WLTP.
Quanto a carregamentos, a vantagem de poder escolher entre várias opções e que vão desde a tomada doméstica de 220V, na qual o Spring regista a maior demora para realizar uma carga completa (abaixo de 14 horas), até à wallbox de 7,4 kW, que, com recurso a um cabo modo 3, exige menos de 5 horas ligado à corrente. Ou, ainda, através de um posto de carregamento rápido de 30 kW DC, com cabo de carregamento integrado, no qual basta menos de uma hora para repor 80% da capacidade da bateria.
Mas, e ao volante?
Pode dizer-se que, mais uma vez, é a racionalidade a imperar, com o Dacia Spring a revelar-se uma proposta mais vocacionada para uso descontraído e com a preocupação centrada no conforto dos ocupantes, do que propriamente com questões de eficácia dinâmica.
Algo bem visível, de resto, quando por estrada aberta e com ventos laterais um pouco mais fortes a “fustigarem” o pequeno EV, momentos em que a instabilidade mais se faz notar, pedindo, mesmo, um levantar mais acentuado do pé no acelerador. Isto, como forma de contrariar os efeitos não só dos 151 mm de distância ao solo, como também dos pequeninos e estreitos pneus de 14 polegadas. Dois argumentos que causaram, aliás, impressão bem mais positiva nos estradões de terra, junto ao rio Sado, por onde também tivemos oportunidade de circular…
Já quanto ao sistema de propulsão elétrico escolhido para este Spring, uma boa surpresa, sem dúvida, com até mesmo os 44 cv de potência anunciados pela marca, a confirmarem que são perfeitamente suficientes para a utilização versátil que este elétrico propõe. Garantindo não somente uma desenvoltura agradável em cidade, graças a uma agilidade e manobrabilidade assinaláveis – precisa apenas de 4,8 m para fazer inversão de marcha -, como também boas velocidades de cruzeiro, quando em estrada aberta.
E tudo isto, acrescente-se, com consumos aceitáveis – num percurso de cerca de 150 km e com quase metade em autoestrada, uma média de 12,2 kWh/100 km, e praticamente sem recorrer ao modo Eco, o qual limita, quer o total aproveitamento do sistema elétrico, quer a velocidade máxima. Sendo que, uma vez estacionado o Spring na sede da Dacia Portugal, ainda restava energia para mais 66 quilómetros…
Dacia Spring já chegou, mas não vem sozinho
Entretanto e a terminar, nota para o facto da Dacia Portugal já estar a entregar as primeiras unidades dos mais de 550 carros que foram encomendados ainda na fase de pré-reserva e que levam os responsáveis da marca a acreditarem de que será possível posicionar este EV entre os três mais vendidos no mercado nacional.
A contribuir para esta expectativa, um preço que começa agora nos 17.000€, mas que, após o apoio do Estado, fica por apenas 14.000€. Isto, para a versão Comfort, já que o Comfort Plus tem como preço de arranque 18.500€, ou seja, 15.500€, quando descontado o apoio dado pelo Executivo aos elétricos.
Ao mesmo tempo e apesar do mercado da Dacia passar, preferencialmente, pelo Cliente Particular, a promessa de que as empresas não serão esquecidas. Mais precisamente, com o lançamento de duas outras versões deste mesmo Spring: a Business, particularmente indicada para as frotas, e a Cargo, cujo posicionamento se insere nos pequenos comerciais de apenas dois lugares, com rede divisória e, neste caso, com um espaço de carga com mais de 1.000 litros. Além de capaz de transportar até 330 kg de carga.
No entanto e porque tem início de produção agendado apenas para abril de 2022, o mais certo é que o Spring Cargo só chegue a Portugal em maio do próximo ano e com preços ainda por definir.
Em suma, argumentos que, como a própria Dacia anuncia, confirmam a revolução que agora chega a Portugal. E que, prometendo trazer consigo a democratização do veículo elétrico, é também feita de forma muito racional..