Adeus motores V8

Ainda que muitos vaticinem a continuidade dos motores de combustão para além de 2035, os V8 serão substituídos bastante mais cedo pelos motores V6 que se adaptam melhor à hibridização e aos combustíveis sintéticos

Paulatinamente marcas como Ferrari,  McLaren,  Aston Marin, Maserati e até a Mercedes que apresentou recentemente o AMG Projet One onde colocaram um motor V6 da Fórmula 1 que fez o campeonato de 2017, estão abandonar a arquitetura V8.

Esta é uma transição energética em que os motores V6 aparecem como uma solução melhor para, juntamente com ajudas elétricas relevantes e inovadoras controlarem as emissões, ainda que para lá de 2035 a sua sobrevivência dependa da utilização de combustíveis sintéticos.

A Porsche é uma das marcas que tem estudado essa solução que, do ponto de vista ambiental, parece tão promissora quanto outras.

Ainda que do ponto de vista desportivo esta transição seja difícil de entender dada as caraterísticas mais favoráveis sob essa vertente, a verdade é que os motores V8 estão a acabar.

Isto pode parecer paradoxal em carros que custam na generalidade centenas de milhares de euros, mas é verdade e até a Ferrari cuja arquitetura V6 carateriza a sua gama mais baixa apostou há pouco tempo num novo modelo (296 GTB) com motor V6 na mesma linha de sucessão do Ferrari Roma e Portofino!

Outra explicação está nas normas ambientais cada vez mais restritivas e que abrangem, desde o controlo do CO2 até aos hidrocarbonetos não queimados, passando pelos óxidos de nitrogénio entre outros elementos com menor impacto no ambiente.

Para conseguir uma redução significativa desses elementos resultantes da combustão, um dos caminhos mais eficazes é combinar o “downsizing” reduzindo o tamanho dos motores, a sobrealimentação e a hibridização.

Transição Racional

Isso não quer dizer que não haja motores V8 biturbo com níveis de potência mais modestos da ordem dos 600 cv (é o caso do Audi RS 6, o BMW M5 ou do Mercedes AMG GT).

No entanto essa solução não tem o mesmo desempenho do ponto de vista dinâmico.

No fundo trata-se de uma solução demasiado pesada para se extrair uns humildes 150 cv/litro de potência específica, por isso não admira que estejam a ser subestimados por motores como o 2 litros do Mercedes AMG A 45S (com 211 cv/litro) ou o 3.0 litros do BMW M4 (510 cv e 170 cv/litro).

Com as técnicas de sobrealimentação atuais, um V8 é demasiado potente e consequentemente ambientalmente insustentável face às futuras normas ambientais. 

Ter motores V8 com potências da ordem dos 1000 cv como é o caso do Ferrari SF 90 Stradale obriga a outros investimentos ao nível do chassis e da tração, bem como no controlo das emissões que a Ferrari resolve com a utilização de três motores elétricos num esquema complexo para que o nível de CO2 não ultrapasse as 250 g/km!

Um exemplo seguido por outros modelos do género como o Honda NSX ou o lendário Porsche 918 Spyder. Outro grande exemplo é o motor Nettuno, um dos motores V6 mais evoluídos da atualidade e nesta transição dos motores V8 e até V12 para arquiteturas mais pequenas.

Com uma potência específica superior a 200 cv/litro este é um bom exemplo de que se podem fazer motores mais pequenos com a mesma raça desportiva de um V8.

O tamanho não ajuda

A dura realidade da hibridização em carros deste género é que, para termos um desempenho consistente e estável é preciso regenerar tanta energia quanto a que consumimos e isso é muito mais energia do que os sistemas conseguem recuperar durante a travagem, o que só se consegue com sistemas complexos muitas vezes incompatíveis com o espaço ocupado por um motor V8.

É possível construir motores com esse tipo de arquitetura mais pequenos e sobrealimentados, mas com custos enormes e com uma cilindrada unitária muito abaixo do ideal em termos do rendimento termodinâmico que se pretende de um motor deste género.

Há áreas em que a arquitetura V8 é imbatível e por isso passar para uma arquitetura com menos dois cilindros significa fazer algumas concessões.

A primeira é a suavidade de funcionamento graças a um binário que evolui de forma mais progressiva que num V6 em relação ao qual é mais equilibrado em termos de vibrações, enquanto a sua sonoridade é mais forte, embora as medidas ambientais como a utilização de catalisadores e filtro de partículas altere essa melodia tão típica. 

Também por isso os V8 estão a perder o encanto de outrora, o que aliado à necessidade de eletrificar os modelos superdesportivos, muitas marcas tenham preferido abandonar a construção dessa arquitetura e migrar para os V6.