VW Golf GTI: Mais pulmão

Além de resolver os problemas do sistema operativo da oitava geração, o restyling do Golf GTI elevou a potência do motor 2.0 TSI para os 265 cv. O espírito funcional e a garra desportiva mantêm-se intocados.

Além de resolver os problemas do sistema operativo da oitava geração, o restyling do Golf GTI elevou a potência do motor 2.0 TSI para os 265 cv. O espírito funcional e a garra desportiva mantêm-se intocados.

Gran Turismo Injection. Não deve haver um apreciador de automóveis que não conheça a sigla GTI. Mesmo que a confunda com Gran Turismo Internacional… o resultado é o mesmo. Remete para a versão desportiva do automóvel desenhado em 1974 por Giorgetto Giugiaro. O primeiro VW Golf GTI nasceu dois anos mais tarde, em 1976, fruto do esforço conjunto de Herbert Schäfer, diretor de design, e Gunhild Liljequist.

Esta dupla foi responsável pelos apontamentos que transformaram o Golf GTI numa lenda: as três letras mágicas, o remate encarnado da grelha, o spoiler dianteiro, as embaladeiras de plástico, o contorno do óculo traseiro preto mate, o forro do tejadilho preto e os bancos desportivos com padrão tartan. A bola de golfe no seletor da caixa foi ideia de Schäfer, grande adepto daquele desporto.

Com 3,82 metros de comprimento e apenas 840 kg, o primeiro Golf GTI destacou-se num mercado a recuperar do choque petrolífero de 1973 com um motor 1.6 de quatro cilindros em linha e oito válvulas. Desenvolvia 110 cv e 140 Nm, o suficiente para arrancar até aos 100 km/h em 9,1 segundos e anunciar uma interessante média de 8,7 l/100 km.

Oito gerações e quase 50 anos depois, o Golf GTI está de volta. Tem mais 20 cv e um sistema operativo novo. No entanto, a grande novidade é ter vencido a barreira dos seis segundos na prova de arranque até aos 100 km/h.

Sempre divertido

Como o tempo do sprint deixa adivinhar, o GTI não pretende ser o Golf mais rápido. Procura, isso sim, ser o Golf mais divertido. Um automóvel funcional e confortável no quotidiano, capaz de se transformar numa máquina de diversão sempre que a estrada o permita.

Os clientes habituais do track day ficarão mais bem servidos com o Golf GTI Clubsport, com 300 cv, molas e amortecedores mais firmes, travões maiores e mais leves e mais camber negativo nas rodas dianteiras. Se a ideia passar por encontrar uma alternativa acessível ao Audi S3, a escolha terá de ser o Golf R, com tração integral e 333 cv.

De todas as opções, a mais equilibrada, a mais indicada para levar os miúdos à escola e seguir para o trabalho pelo caminho mais sinuoso, é o Golf GTI. Entre os concorrentes diretos também é o mais equilibrado, com os 51 099 € a posicionarem o Golf GTI entre os 50 640 € do Hyundai i30 N e os 52 466 € do Ford Focus ST.

Os adversários têm algumas cartas na manga, como a potência superior (ambos com 280 cv) e a caixa manual de seis velocidades, mas não se destacam nas prestações. O Hyundai iguala os 5,9 segundos no sprint até aos 100 km/h e os dois décimos que o Ford retira a este tempo não são percetíveis pelo condutor. Só mesmo pelo cronómetro.

Antes de “apertar” com o GTI numa boa estrada secundária, pusemo-lo à prova no seu habitat natural. É curioso observar como os anos passam, quase 50, a cidade não fica indiferente ao Golf GTI. Está longe de ser um desportivo barulhento ou espampanante e, no entanto, continua a captar a atenção de quem com ele se cruza. Devem ser as jantes exclusivas de 19 polegadas, os faróis de nevoeiro em “X”, o par de ponteiras de escape cromadas ou o símbolo da VW iluminado na grelha.

Mais funcional

No seguimento das dificuldades de utilização que ensombraram o sistema operativo lançado com a oitava geração do Golf, a VW utilizou o restyling para fazer uma alteração profunda ao infoentretenimento. Trocou o ecrã tátil de dez polegadas por um de 12,9 polegadas, utiliza processadores mais rápidos e apresenta menus mais interativos. Mantém a superfície sensível ao toque para ajustar o volume e a temperatura (deslizando o dedo), agora retroiluminada para facilitar a utilização durante a noite, e devolveu os botões ao volante.

Desenvolvido sobre a arquitetura modular MQB, o GTI mantém o trem dianteiro McPherson com eixo traseiro de quatro braços e, no caso da unidade das imagens, amortecimento dinâmico DCC (783 €). Nada de novo, tal como o bloqueio eletrónico do diferencial dianteiro XDS+ ou o motor de dois litros e quatro cilindros.

A quarta evolução do conhecido bloco EA888 resultou no aumento da potência para os 265 cv, com 370 Nm de binário entre as 1600 rpm e as 4500 rpm. Eliminada a caixa manual, a transmissão fica a cargo de uma DSG de sete velocidades afinada para tirar o melhor do motor sobrealimentado de 1984 cc.

Quatro programas de condução permitem ajustar a mecânica ao gosto do condutor. Eco, Comfort e Sport dispensam apresentações, tal como o Individual que permite calibrar direção, chassis e motor ao longo de 15 passos. Do conforto ao ataque total. Preferimos uma solução intermédia, com a direção em Comfort, motor e caixa em Sport e a suspensão DCC num dos sete patamares entre Comfort e Sport. É a combinação que nos parece mais adequada para atacar as estradas nacionais com garra sem andar aos saltos sobre os remendos e as imperfeições do asfalto.

Máquina de precisão

Com o deferencial XDS+ a orientar o binário para a roda onde é mais necessário, o Golf GTI é uma máquina de precisão, que faz do chassis a estrela principal. O motor é um ator secundário, fiável, sempre disponível para explorar o regime máximo de potência entre as 5000 rpm e as 6500 rpm. Aproxima-se do redline sem medo, impulsionado por uma almofada de 370 Nm binário estável entre as 1600 rpm e as 4500 rpm, sempre acompanhado por uma sonoridade áspera.

Sem a exuberância de um Hyundai i30 N, o VW Golf GTI desenha curva atrás de curva, sem esforço aparente e com grande controlo de movimentos da carroçaria. Levada ao limite, a frente vai acabar por ceder, mas é preciso querer que a subviragem aconteça.

Já a traseira ligeira das gerações anteriores, sempre disposta a reagir a uma transferência de massa para a frente, parece ter seguido o caminho da caixa manual. Desapareceu. No entanto, de um modo geral, o novo Golf GTI é um pouco mais assertivo na entrada para as curvas e composto na saída que o modelo que vem substituir.

Muito resistentes, os travões, com discos de 17 polegadas, são agradáveis de utilizar em cidade sem perderem acuidade durante utilizações intensivas.

A direção progressiva segue o mesmo exemplo. Começa por ser leve e filtrada no pára-arranca, ganhando peso e rapidez de resposta em função do aumento da velocidade. Em autoestrada é precisa sem ser desconfortável, reforçando a posição do VW Golf GTI entre os compactos desportivos. Sim, o Hyundai i30 N é capaz de ser mais interativo numa pista. Tínhamos de os colocar lado a lado. Contudo, se a dita pista ficasse a umas centenas de quilómetros não temos dúvidas sobre qual dos dois escolher para a viagem: VW Golf GTI.

VEREDICTO

Ícone entre os compactos desportivos, o VW Golf GTI dispensa apresentações. A idade parece não passar pode um modelo que está cada vez mais viciante. Para conduzir sem restrições.

FICHA TÉCNICA

VW Golf GTI

PREÇO  51 099 € (54 768 € - unidade ensaiada)

MOTOR 4 cil, 1984 cc

POTÊNCIA 265 cv (195 kW)/5250-6500 rpm 

BINÁRIO 370 Nm/1600-4500 rpm

TRANSMISSÃO Dianteira

COMP./LARG./ALT. 4,29/1,79/1,47 M

DISTÂNCIA ENTRE-EIXOS 2,63 M

MALA 374 - 1230 L

ACEL 0 - 100 KM 5,9 S

VEL. MAX 250 KM/H

CONSUMO WLTP 7,1 (8,2*) l/100 km

* Medições Turbo

GOSTÁMOS

NÃO GOSTÁMOS

Comportamento

Conforto

Preço

Prestações