Entreposto: a marca portuguesa que nos deu o SADO 550

Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje contamos-lhe a história da Entreposto, que nos deu o SADO 550.

A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui, na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje a história é sobre a Entreposto e o SADO 550.

O Grupo Entreposto é um grupo empresarial que, desde os anos 50, tem vindo a dedicar-se à metalomecânica, direccionada para o setor automóvel.

Contudo, em meados dos anos 70, o grupo decidiu fazer uma das incursões mais importantes no setor automóvel português, ao criar o seu próprio automóvel - o SADO 550.

Pequeníssimo micro-carro, o SADO 550 antecipou, em muitos anos, o conceito dos atuais Smart ForTwo.

Aqui o protótipo do SADO 550, fruto do Projeto Ximba, desenvolvido em Moscavide
Aqui o protótipo do SADO 550, fruto do Projeto Ximba, desenvolvido em Moscavide

O Projeto Ximba

O desenvolvimento do micro-carro começou em 1975, com o lançamento do Projeto Ximba.

Este projeto, experimental, durou cerca de três anos. Teve como principal objetivo a concepção de um veiculo de dimensões extremamente reduzidas, que pudesse interessar a consumidores portugueses, que fizessem trajetos curtos, em regime urbano.

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Outro objetivo deste empreendimento, era desenvolver a melhor técnica de construção, capaz de ajudar a concretizar este projeto de forma mais económica possível. Recorrendo, para tal, a material nacional.

Testaram-se, assim, várias configurações de chassis, motores e carroçarias.

O SADO 550

Chegados ao ano de 1978, a Entreposto entrou, finalmente, na fase de conceção final, daquele que viria a ser o seu micro-carro.

Na sua versão final, o SADO 550 seria um veiculo de 4 rodas, com um motor Daihatsu (AB20), tendo por base um chassis tubular construído em aço, acoplado a uma carroçaria em poliester, reforçada a fibra de vidro.

A escolha do chassis e carroçaria teve como intuito alcançar, não só altos níveis de rigidez estrutural, como, também, uma solução económica, no que toca aos processos de produção.

À esquerda o desenho técnico do SADO 550, à direita, a sua montagem, em Setúbal
À esquerda, o desenho técnico do SADO 550; à direita, a sua montagem, em Setúbal

Em comparação com outros projetos de carros portugueses, o SADO 550 tinha também um maior cunho nacional. Uma vez que, a sua incorporação nacional, era de quase 70%.

Existiram cinco versões, que custavam de entre 70 000 escudos e 290 000 escudos.

Apesar disso, o motor era sempre o mesmo. Montado na dianteira, tinha 547 cc, 2 cilindros e debitava 29 cv. Isto, para um peso total de 670 kg.

Curiosamente, a tração era traseira, ao invés de dianteira. Configuração que, aliás, vinha a ganhar, à época, imenso sucesso, entre os carros compactos e/ou económicos.

A caixa de velocidades era de 4 mudanças, e também era comum a todas as versões.

A grande altura, relativamente ao comprimento, permitia ao SADO 550 acomodar dois adultos
A grande altura, relativamente ao comprimento, permitia ao SADO 550 acomodar dois adultos

As dimensões exteriores eram mínimas, sendo que media apenas 2,4 metros de comprimento, a distância entre os eixos era de 1,42 m, e a altura era de 1,49 m.

A sua aparência podia deixar um pouco a desejar, com aspeto de brinquedo, mas era um automóvel capaz. Mesmo com a sua suspensão a não conquistar muitos pontos, em termos de conforto.

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Já o motor, era extremamente elástico e com potência suficiente para lidar com subidas íngremes.

Possuía espaço para acomodar 2 adultos, com relativo conforto, em trajetos curtos, mais bagagem, em local próprio.

Beneficiava de uma visibilidade excelente, o que era uma grande vantagem, nas manobras de estacionamento. 

Aqui num estacionamento "em espinha", os dotes de estacionamento do SADO 550 faziam "corar" até um Mini
Aqui num estacionamento "em espinha", os dotes de estacionamento do SADO 550 faziam "corar" até um Mini

É tão bom, não foi?

O Sado foi lançado em 1982 e comercializado até 1985. Período de comercialização curto, devido à falta de viabilidade económica de todo o projeto.

Logo em 1982, um dos responsáveis do projeto revelava, à revista Turbo, que, "apesar do baixo custo da nossa mão-de-obra, a falta de planeamento e de produtividade da maioria das empresas, acarreta custos de produção mais elevados do que seria normal esperar. Mas, também, dos que são praticados em outros países da Europa".

O SADO 550 apenas estava disponível na cor branca, mas podiam ser obtidos em amarelo ou azul, via encomenda. O interior era espartano e possuia apenas o essencial
O SADO 550 apenas estava disponível, à partida, na cor branca, embora pudesse ser obtido em amarelo ou azul, por encomenda. O interior era espartano e possuía apenas o essencial

O Sado foi fabricado em Setúbal (daí o seu nome), ao lado de outro modelo de concepção portuguesa, o Datsun Sado.

No total, foram vendidos 500 SADO 550, durante a sua curtíssima carreira.