Publicidade

Bentley Continental GT Speed. A soma das partes

Texto: Ricardo Machado / Fotografia: Vasco Estrelado
Data: 29 de Março, 2023

Um bocadinho de potência aqui. Um bocadinho tração ali. Eletrónica afinada acolá. Somadas as evoluções, o Continental GT Speed é o Bentley mais potente e tecnologicamente avançado de sempre.

Se há títulos que acarretam uma grande dose de responsabilidade, o de “Bentley mais potente e tecnologicamente avançado de sempre” é um deles. Uma distinção entregue ao Continental GT Speed. Os números envolvidos não deixam margem para dúvidas: 659 cv, 900 Nm entre as 1500 e as 5000 rpm, 3,6 segundos na prova de arranque e 335 km/h de velocidade máxima. Esmagadores! Diferenciam-se claramente da terceira geração do Continental GT W12 que lhe está na origem. Ou se calhar não…

Pormenor do motor do Bentley Continental GT Speed

Comparando apenas as fichas técnicas, as diferenças entre o Continental GT W12 e o Speed são irrisórias. No papel há mais 24 cv, mas como o binário se mantém inalterado o ganho no sprint até aos 100 km/h é de 0,1 segundos. A vantagem na velocidade máxima também não excede os 2 km/h. Margens tão insignificantes afastaram o W12 da gama nacional do Continental GT, onde o Speed convive apenas com o V8. Esta é, assim, uma excelente oportunidade para adquirir aquele que poderá ser um dos últimos motores de 12 cilindros a gasolina. O próximo, a existir, é provável que inclua uma ajuda elétrica.

Mais do que estatuto

Contrariamente ao que esta introdução possa deixar parecer, o Bentley Continental GT Speed não representa apenas estatuto. Num caso claro onde o todo supera a soma das partes, o Speed é muito mais do que um décimo de segundo aqui ou um par de quilómetros por hora ali. É uma experiência de condução única. Nem tem outra alternativa quando o objetivo a superar é um Continental GT W12 que se apresenta como um Gran Turismo com prestações de superdesportivo.

Nas palavras da Bentley, a solução para este problema passa por proporcionar ao condutor uma experiência de pilotagem até agora exclusiva dos modelos de competição. Em pista é possível dosear acelerador e volante para, progressivamente e sem esforço, ampliar o ângulo de rotação ao longo do eixo vertical… Nas nossas palavras, o Continental GT Speed anda de lado. Isso mesmo, um Bentley a fazer drift com a graciosidade de um Mazda MX-5.

Antes de sair com o Speed à procura de rotundas importa esclarecer dois pontos: as leis da física prevalecem sobre a mecânica e o Bentley pesa o dobro do Mazda. Sem possibilidade de conduzir o Speed na segurança de um autódromo, como a Bentley incentiva, encontrámos um recinto fechado onde desenhámos uma série de oitos. Não custa nada. Basta selecionar o modo Sport, desligar a eletrónica, virar a direção para um lado e acelerar.

De outro mundo

Se num primeiro instante a tração integral conduz as rodas dianteiras na direção traçada pelo volante, não tarda para que o eixo traseiro assuma o controlo da rotação. Num abrir e fechar de olhos temos a direção trancada no sentido oposto e um sorriso de incredulidade estampado no rosto. Também pode ser de satisfação… por termos optado por testar os limites, nossos e do Bentley, num ambiente controlado. Acabar o exercício com uma rotação de 180 graus é tão fácil como levar a direção ao batente.

Apesar de toda esta disponibilidade, as probabilidades de encontrar um Continental GT Speed num track day são mínimas. Os Bentley continuam a ser Gran Turismo e estradistas de eleição. Essencial para desfrutar em pleno dos 659 cv e 900 Nm, a pista é secundária na aferição das qualidades intrínsecas do novo Speed. De regresso à ficha técnica importa ver para além das prestações, procurar o que se esconde para atrás dos números. Componentes como o novo sistema de tração integral capaz de desviar até 95% do binário para o eixo traseiro, quando a versão normal não vai além dos 80%, com a frente a receber um máximo de 28%.

Tão importante para a agilidade do eixo posterior como a distribuição do binário, o controlo eletrónico do diferencial traseiro (eLSD) é uma estreia na Bentley. Afinado em conjunto com os controlos de tração e de chassis é uma ferramenta essencial para antecipar a aceleração na saída das curvas mais fechadas. Um cenário onde o eixo traseiro direcional, com as rodas a virarem um máximo de 4,1 graus, também desempenha um papel de destaque. Tal como as barras estabilizadoras ativas – Bentley Dynamic Ride baseado na rede elétrica de 48 V e estreado no Bentayga – e a suspensão pneumática adaptativa de três câmaras.

Estilo único

Contrariando a tendência da indústria para reduzir, encolher, cortar ou outro verbo que se enquadre no conceito de downsizing, a Bentley não emagreceu o Continental GT Speed. Manteve o bloco twin turbo de seis litros e 12 cilindros dispostos em W e o peso numas consideráveis 2,2 toneladas. Para encontrar um componente mais leve é preciso trocar os discos de travão de série por outros em carbono cerâmica, com 440 mm de diâmetro, atacados por maxilas de dez pistões. Custam 13 170 € e, para além de ficarem a matar no interior das jantes específicas de 22’’, poupam 33 kg em massa não suspensa.

Com 900 Nm de binário disponíveis às 1500 rpm, o Continental GT Speed gosta de andar para a frente. Basta encostar o pé ao acelerador e lá vai ele. Sempre com elegância. O modo de condução Bentley é o mais equilibrado, com o Comfort e o Sport a ajustarem suspensão pneumática e caixa de acordo com os respetivos nomes. O escape também sobe um tom no modo desportivo, mas desengane-se quem esperar rateres ou outro tipo de fogos-de-artifício. Sente-se a força, a potência, o poder dos 12 cilindros sem nunca perder a pose “very british” que lhe é caraterística. Mesmo quando nos divertimos a desenhar oitos no chão de um parque fechado.

Suave, suave

Está visto que o Continental GT Speed gosta de andar depressa. Um nervosismo que não se limita às retas. Capazes de abrandar com progressividade na condução citadina, quando utilizados com determinação os travões carbocerâmicos têm a capacidade de fazer os olhos sair das órbitas. Uma vez e outra e outra… Agarrando-se ao asfalto como podem, os Pirelli P Zero (275/35 ZR22 à frente e 315/30 atrás) não deixam os créditos por mãos alheias. Levam a capacidade de inserção em curva do eixo dianteiro a nível surpreendentes, para depois darem liberdade de movimento à traseira.

Por maior que seja a disponibilidade, a volumetria do Speed não lhe permite ser ágil numa estrada secundária. O risco simplesmente não compensa. O melhor é trocar o modo manual da caixa automática de oito velocidades, essencial para manter os turbos no regime ideal, pelo automático e desfrutar da alcatifa que o Continental GT estende aos ocupantes. A suspensão pneumática absorve todas as imperfeições, sendo preciso um atentado ao piso para perturbar a paz interior do Speed. Mesmo no modo Sport, as tampas dos coletores de saneamento não passam de um rumor distante.

Traseira do Bentley Continental GT Speed

Tendo em conta o potencial de drift associado ao “Bentley mais potente e tecnologicamente avançado de sempre”, conduzir o Continental GT Speed em ritmo de passeio parece um desperdício. Para isso conduz-se o W12. O efeito sala de estar é o mesmo. No entanto, como tantas vezes acontece com os automóveis dos segmentos superiores, o que importa não é tanto o que se faz o com potencial à disposição, mas sim o facto de ele estar ali. Nesse caso, o Bentley Continental GT Speed é o brinquedo mais desejado. Com a grande vantagem de cumprir tudo o que promete.

Bentley Continental GT Speed

Preço 360 500 euros

Motor W12
Potência 485 kW (659 cv)/5000-6000 rpm
Binário 900 Nm/1500-5000 rpm
Transmissão Auto, 8 vel.
Tração Integral
Peso 2273 kg
Comp./Larg./Alt. 4,85/1,95/1,41 m
Dist. entre eixos 2,85 m
Mala 358 l
Desempenho 3,6 s 0-100 km/h; 335 km/h Vel. Max.
Consumo 13,7 (17*) kW/H
Emissões CO2 311 g/km

* Medições TURBO

GOSTÁMOS

– Prestações
– Conforto
– Motor

NÃO GOSTÁMOS

– Preço
– Consumos
– Peso