Comprei um carro elétrico… e agora?

São cada vez mais as pessoas que optam pela compra de um carro elétrico, como único carro. Mas será que todas sabem como o utilizar corretamente de forma a tirar o melhor rendimento dessa escolha?

Muito temos falado na Turbo sobre as vantagens e as desvantagens da mobilidade elétrica e se uma das vantagens são os custos de energia mais baixos, também temos alertado que isso só acontece se tivermos a possibilidade de carregarmos a bateria numa rede doméstica, porque se tivermos dependente dos postos de carregamento públicos os custos sobem para valores bastante superiores.

Em média o custo do KWh situa-se nessas circunstâncias nos 85 cêntimos ao mesmo tempo que temos de ter em conta que entre a tomada e a bateria há perdas médias da ordem dos 25 por cento.

Isto quer dizer, por exemplo, que um carro que tenha um consumo de 16 kWh/100 km aquilo que efetivamente pagamos são 20 kWh!

Conheça como carregar

Ao carregarmos na rede pública há que conhecer que tipos de postos existem desde os postos de carregamento normal (PCN) até aos postos de carregamento ultrarrápido (PCUR), passando pelos postos de carregamento rápido (PCR).

Estes distinguem-se pela potência de carregamento e se os primeiros têm como limite de 22 kW em corrente alterna, os segundos podem atingir potências superiores a 150 kW, enquanto os carregadores rápidos têm em média uma potência de 50 kW.

Os carregadores rápidos e ultrarrápidos trabalham em corrente contínua, ou seja, carregam diretamente a bateria.

O tempo de carga depende por isso da potência a que a bateria está a ser carregada, mas esta poderá não corresponder à potência máxima anunciada de cada posto já que existe um filtro interno que condiciona a potência em função de vários parâmetros de avaliação do estado da bateria e um deles é a temperatura.

Vamos imaginar o cenário ideal e considerar que a bateria tem uma capacidade de 50 kWh, nesse caso seria preciso apenas 1 hora para a carregarmos num posto de 50 kW (visto que 50 kWh:50 kW = 1 hora).

Se o fizermos num posto de carregamento doméstico de 7 kW o tempo sobe para as 7 horas (50 kWh:7kW = 7,1 horas).

São contas simples, mas que normalmente correspondem a tempos maiores uma vez que, como já referimos, há fatores que influenciam a potência de carga da bateria pelo que o processo não é assim tão linear.

Outro aspeto importante é não confundir kW com kWh porque se o primeiro é uma medida de potência, ou seja, indica a quantidade de energia que um aparelho elétrico consome, por unidade de tempo, o segundo é uma medida de energia que indica a energia que um aparelho precisa para funcionar durante uma hora.

Fazer contas

Pegando nestes conceitos vejamos então como é que podemos calcular a autonomia real.

Voltando ao caso da bateria de 50 kWh se o consumo real for de 16 kWh/100 km a autonomia total é de 312 km.

Este cálculo é, no entanto, uma aproximação pois ninguém conduzirá um veículo até esgotar toda a capacidade da bateria, pois isso significaria ficar parado na estrada e termos de chamar um reboque porque ao contrário de um motor a combustão não podemos fornecer energia a um carro elétrico da mesma forma como o fazemos com um carro a gasolina ou a gasóleo.

Ao consumo registado chama-se eficiência energética, um conceito que convém conhecer para fazermos outros cálculos, como seja, a energia que precisamos para percorrer a distância que nos falta para alcançar um determinado destino.

Por exemplo, sabemos que se durante uma hora pusermos a bateria à carga num posto de 7 KW conseguimos ganhar 7kWh, se a eficiência é de 16 kWh/100 km esses 7 KWh permite-nos obter uma autonomia de 43,75 km que é o equivalente a 7/16 de 100 km.

Se a eficiência enérgica, for de 20 kWh/100 km a autonomia gama é de 35 km que é o equivalente a 7/20 de 100 km. Estes cálculos ajudam a termos uma ideia dos ganhos parciais em termos de autonomia.

Estudar a curva de carga

Outra informação importante a reter tem a ver com a curva de carga de uma bateria, isto porque existe um intervalo em que o carregamento da bateria é mais eficiente e mais rápido.

Se o nível de carga na bateria for muito baixo (inferior a 20%) demora mais tempo a alcançar a velocidade máxima de carregamento, o mesmo se passa quando atingimos os 80% pelo que carregar a 100% num PCR ou PCUR numa viagem mais longa não vai encurtar o tempo de viagem, pelo contrário.

Além disso torna o carregamento mais dispendioso uma vez que, para além do custo de energia pagamos o aluguer do posto ao minuto.

Uma vez que a maioria dos carros elétrico permite limitar a carga, o ideal é estabelecermos os 80% como limite e ao mesmo tempo não deixarmos que a carga baixe dos 20%.

A eficiência energética referida anteriormente depende, entretanto de uma condução eficiente que aproveite ao máximo a travagem regenerativa já que os veículos elétricos possuem essa caraterística única que é recuperarem carga através da travagem e nas desacelerações.

Esta é uma das razões por que ao contrário dos carros com motores de combustão o consumo energético de carro elétrico é menos na cidade do que na estrada ao invés do que acontece com um motor a gasolina ou a gasóleo.

Outro conselho é utilizar as aplicações móveis para planear com rigor e segurança as viagens mais longas. Hoje já muitos carros elétricos possuem essas ajudas que permitem ao colocar o destino no sistema GPS saber qual a autonomia no destino.

No caso de autonomia não chegar o sistema indica onde podemos carregar para recuperar a autonomia restante sem stress. Embora o carro elétrico ainda seja um meio de mobilidade mais vocacionado para andar na cidade é possível seguindo estes conselhos fazer uma viagem longa mais tranquila e económica.