O novo Peugeot 508 é um modelo radicalmente diferente do seu antecessor e da maioria dos seus adversários. Numa altura em que o mercado está dominado por novas formas como os SUV, é preciso imaginação para transformar conceitos conservadores em ideias inovadoras

Texto: Marco António / Fotografia: José Bispo
Data: 1 de Maio, 2019

O desafio de criar um modelo novo que rompa com o passado e consiga atrair uma clientela com ideias novas não é um exercício simples face ao domínio das marcas premium que, neste segmento de mercado mais conservador, dominam as vendas com ofertas diferenciadas (leia-se com diferentes tipos de carroçaria e motorizações).

Não admira que, neste segmento cada vez mais exclusivo, as marcas generalistas como a Peugeot não tenham a vida fácil, mesmo quando a reação das pessoas é aquela que aconteceu ao depararem-se com o estilo Fastback do novo Peugeot 508. A versão First Edition com o motor 2.0 BlueHDi de 180 cv foi a escolhida para este grande ensaio e para este primeiro embate com um mercado anónimo. Expressões como “que carro é esse?” ou “que diferente ele está!” foram frequentes durante quase uma semana. Até no meio do trânsito, parados nos semáforos, nos perguntaram que carro era, como se realmente o leão que continua a meio da grelha e atrás não denunciasse que era um Peugeot.

Carroçaria 34/50

As linhas exteriores deixam muita gente confusa, uma vez que a solução encontrada passa pela combinação de uma berlina e de um coupé. A ideia não é nova a já foi ensaiada por outras marcas, nomeadamente pela VW com o Arteon (que sucedeu a igual exercício ao Passat CC), o Audi A5 Sportback ou o BMW Gran Coupé, entre outros exemplos.

 

Esta solução Fastback da segunda geração do 508 tem como elementos diferenciadores de uma berlina clássica, para além da zona traseira mais inclinada, a ausência de moldura nas janelas, uma ideia acompanhada de outras inovações como uma assinatura luminosa distinta à frente e atrás onde os faróis de LED são de série nesta versão GT e uma grande grelha frontal.

O impacto visual destas transformações num modelo que é bastante mais compacto que o seu antecessor, por ser mais pequeno, é enorme e pouco habitual na marca, ainda que no passado tivesse havido modelos que causaram o mesmo impacto, como o 407 coupé desenhado pela Pininfarina ou, mais recentemente, o RCZ, que ainda hoje é um ícone e um embaixador importante da marca francesa.

 

A forma mais estilizada corresponde, entretanto, a uma aerodinâmica mais apurada, com a apresentação de um dos melhores Cx (0,26) da sua classe, apenas prejudicado por uma superfície frontal que, por ter 2,19 metros quadrados, eleva a resistência ao avanço para um valor (0,57) um pouco mais alto que o novo Mercedes Classe C ou que o Alfa Romeo Giulia. Um valor que, mesmo assim, não prejudica o seu desempenho, onde um conjunto de ajudas ativas, como o ESP, que nunca se desliga, ou o controlo de tração, assumem um papel relevante, a par da suspensão ativa, de série nesta versão limitada do 508.

Interior 48/70

Com menos 8 centímetros de comprimento, 2,4 centímetros de distância entre eixos e 6 centímetros de altura, o novo 508 consegue manter boas cotas de habitabilidade, enquanto a mala apresenta uma ligeira melhoria. O milagre tem a ver com o desenho dos bancos, especialmente atrás, onde o espaço para as pernas não é muito diferente do anterior. Mas nem tudo a Peugeot soube manter e um dos aspetos que piorou foi a acessibilidade traseira, ao contrário da mala, onde a solução da quinta porta facilita o acesso à bagageira agora com 487 litros de capacidade.

Uma mala que pode ser ampliada com o rebatimento assimétrico do banco traseiro. Outro aspeto negativo da forte inclinação do pilar mais recuado, juntamente com a reduzida altura, é a visibilidade. Esta fica reduzida ao mínimo quando transportamos dois ou três passageiros atrás. A limitação é tão grande que temos de recorrer a ajudas tão importantes como a câmara de marcha atrás nas manobras de estacionamento ou utilizar a função automática escolhendo o tipo de manobra em função do lugar para estacionar.

O desenho do tablier acolhe a última geração do sistema i-Cockpit onde o quadro de instrumentos assume um maior grau de personalização. Tudo isso com um enquadramento qualitativo mais elevado graças à utilização de materiais novos e um nível de montagem muito superior. A nova plataforma, para além de favorecer o comportamento dinâmico, tem um papel relevante na perceção da qualidade real.

 

Ao lado da instrumentação integralmente digital aparece um ecrã tátil de 10” por cima das teclas que servem de atalho direto a várias funções, como o sistema de navegação, a climatização, o rádio e outras que são visualizadas diretamente no ecrã. Uma ideia prática, mas que carece de uma correção, já que a sua posição não permite durante o dia ver a função que controla.

Mais abaixo e a meio da consola encontra-se a manete estilizada da caixa automática de 8 velocidades da Aisin, uma opção que como veremos mais à frente faz todo o sentido. A transmissão pode ser também manuseada manualmente a partir das duas patilhas colocadas atrás do pequeno volante que continua a caraterizar os modelos da Peugeot e que tem tantos fãs quantos o que não gostam da ideia, estes com o argumento de que é uma solução que prejudica a leitura da instrumentação.

Mecânica 38/50

Embora haja versões mais baixas e menos potentes, o motor 2 litros Diesel desta versão First Edition de 180 cv mostrou cumprir bem a sua função, sendo a mais interessante do ponto de vista desportivo, capaz de rivalizar com o 1.6 Puretech a gasolina com a mesma potência e que, em 2019, servirá de base à versão híbrida plug in, juntamente com um motor elétrico de 105 cv (juntos produzem 225 cv).

 

Numa altura em que todos apontam para o fim do Diesel, este ainda continua a ser a melhor opção para quem faz muitos quilómetros, especialmente em estrada, onde o híbrido tem limitações. Homologado já de acordo com o novo ciclo WLTP, este motor tem a virtude de ser bastante progressivo e de fazer uma boa parelha com a caixa automática de oito velocidades.

Uma combinação que se traduz numa enorme suavidade de funcionamento, razão porque se sente muito pouco a presença do motor dentro do habitáculo, ainda que para isso contribua a boa insonorização e a mais moderna plataforma do grupo francês. Uma plataforma que influencia igualmente o comportamento dinâmico e otimiza a nova suspensão traseira, composta por uma estrutura de duplo braço, tipo multilink. Nesta First Edition a suspensão ativa faz toda a diferença na forma como 508 se relaciona com a estrada, sem nunca comprometer o conforto.

Ao Volante 35/50

Além de favorecer os consumos e as prestações, a transmissão automática, conhecida de outros modelos, suaviza o funcionamento do motor que, quando puxado pelo modo
manual da caixa automática e no modo de condução mais desportivo, proporciona um andamento mais expedito, ainda que não seja essa a vocação desta versão, razão pela qual o ESP nunca pode ser desligado.

Impressionante é também a forma como a nova plataforma EMP2 favorece o comportamento dinâmico, ao otimizar uma suspensão totalmente reformulada e independente atrás, onde os pneus Michelin Pilot Sport 245/45 e as jantes de 19 polegadas garantem uma boa aderência e um controlo da trajetória muito superior ao seu antecessor.

A boa definição das trajetórias e um trem dianteiro imune a desvios prematuros complementam um comportamento que, não sendo a referência do segmento, está entre os melhores, mesmo considerando os concorrentes premium. Ainda que esse desempenho seja obtido no programa mais desportivo, o conforto não é comprometido sejam quais forem as circunstâncias de utilização, um binómio conseguido pelo desempenho da suspensão ativa (conhecida por Active Suspension Control).

 

Com uma relação peso/potência (8,5 kg/cv) semelhante a alguns dos seus rivais, as prestações também não andam muito longe, desde a velocidade máxima, que chega facilmente aos 235 km/h graças ao escalonamento das duas últimas relações de caixa até às acelerações, até às recuperações, graças a um motor rápido na resposta. Este é um fator que contribui para um elevado prazer de condução e consumos que oscilam entre os 4,4 l/100 km e os 6,7 l/100 km.

Economia 41/60

Em resumo, a nova geração do Peugeot 508 promete revolucionar e introduzir uma nova dinâmica num mercado dominado pela Audi, BMW e Mercedes, que fazem valer os seus argumentos no mercado das empresas, onde a Peugeot quer voltar a entrar em força.

 

Para isso contribui uma nova imagem e custos de manutenção e utilização competitivos, a par de uma relação preço/equipamento bastante atrativa. Ainda que esta não seja a versão mais barata e por isso a mais competitiva do ponto de vista empresarial, ela é uma das mais interessantes do ponto de vista dinâmico.

Num mercado em constante mudança, acreditamos que a nova proposta da Peugeot tem possibilidades de se afirmar num ambiente cada vez mais pulverizado por novas ideias. Argumentos não faltam, nomeadamente uma gama de motores perfeitamente enquadrada no novo ciclo WLPT

Gráficos a colocar brevemente

Artigo publicado na Revista Turbo 446, de novembro de 2018. Descubra a nossa Edição Online