MERCEDES-BENZ CLA 220 CDI SHOOTING BRAKE

Texto: Marco António / Fotografia: José Bispo
Data: 13 de Agosto, 2017

A Mercedes não dá tréguas à eterna rival BMW e a prova disso está na apresentação do CLA Shooting Brake, um modelo há muito esperado, seja na versão 45 AMG, seja nesta 220 CDi de 177 CV.

A marca alemã volta a surpreender com o CLA Shooting Brake, um modelo que, seguindo a receita do CLS Shooting Brake, usa a mesma plataforma do Classe A, conhecida por MFA (Modular Front Architecture) destinada aos veículos de tração dianteira, sendo por isso o quinto modelo compacto que a Mercedes lança depois do A, do B do GLA e do CLA, em relação aos quais apresenta vantagens adicionais importantes como a mala, a agilidade, o preço e uma habitabilidade mais generosa que o CLA. Tem ainda a vantagem de ter um estilo inconformista e que impressiona, ao ponto de ofuscar os concorrentes, ainda que seja difícil definir quem são os seus verdadeiros adversários.

Esta falta aparente de concorrentes será com certeza uma vantagem importante para o CLA Shooting Brake conquistar uma franja de mercado relevante e quase inexistente, mas que, para a marca alemã, está perfeitamente definida. Como diz a publicidade institucional, é um modelo que, juntando o fascínio de um coupé e a versatilidade de uma station, tenta ser o melhor de dois mundos.

O EXTERIOR TAMBÉM CONTA

Custando apenas mais 600 euros que o CLA de 4 portas para versões equivalentes, obviamente, esta versão mais familiar conserva as medidas exteriores do coupé (exceto a altura, onde é 3 milímetros mais alto), inclusive a distância entre eixos que é igual à do Classe A, com que partilha a generalidade dos órgãos mecânicos.

Para além de uma silhueta que dá nas vistas pela singularidade da parte traseira, esta nova carroçaria goza de uma qualidade de construção exemplar, que pode ser avaliada por pormenores tão simples como as folgas entre os vários painéis, ou como o chassis se comporta quando submetido a torções mais intensas. É o que acontece quando circulamos por estradas mais degradadas, onde a suspensão, mais baixa por ser desportiva (um dos muitos itens do pack Orange Art como o aro das jantes de 18” e alguns frisos em laranja), valoriza o comportamento dinâmico sem que o amortecimento mais firme ponha em causa o conforto.

A aerodinâmica é outra qualidade que o CLA Shooting Brake reivindica como a melhor da classe. Para além do mais baixo Cx (a versão ensaiada anuncia 0,26), a superfície frontal é também muito baixa, fazendo com que a resistência ao avanço seja mais reduzida, o que favorece o consumo e reduz os ruídos aerodinâmicos.

O reforço estrutural da carroçaria resultante de uma plataforma modular tem repercussões na segurança ativa, em especial no comportamento dinâmico, onde o desempenho supera o do coupé, em relação ao qual tem uma distribuição do peso pelos dois eixos mais equilibrado. De qualquer forma não faltam ajudas, desde as mais banais até às mais sofisticadas, como a indicação do ângulo morto ou o controlo de estabilidade.

MAIS ESPAÇOSO

A parte traseira da carroçaria, sendo mais alta, torna a habitabilidade nessa zona mais desafogada que o coupé, onde a altura conta com mais 4 centímetros, evitando que os passageiros mais altos toquem com a cabeça na parte interior do tejadilho. Ao mesmo tempo esconde uma mala também mais generosa, com uma capacidade que pode ir dos 495 litros (mais 25 litros que o coupé) ou 595 litros se reduzirmos a inclinação das costas dos bancos sacrificando um pouco o conforto, até aos 1354 litros se rebatermos assimetricamente as duas partes que dividem o banco traseiro, criando uma base plana com um acesso mais fácil. Também a acessibilidade ao banco traseiro é naturalmente melhor, devido ao desenho da carroçaria nessa zona que torna a abertura das portas mais ampla.

O espaço interior goza por isso de um melhor índice de habitabilidade, sobretudo porque a altura atrás é maior e não tanto por o habitáculo ser mais comprido ou mais largo devido à distância entre eixos ser a mesma do A e do CLA (2,69 metros). A inclinação menos acentuada da carroçaria atrás garante também uma visibilidade um pouco mais ampla. Esta seria melhor se entretanto os bancos laterais atrás não continuassem a integrar os encostos como na frente (só o encosto do passageiro do meio é que é escamoteável). Mesmo assim as ajudas ao estacionamento continuam a ser imprescindíveis, ou então o sistema de estacionamento ativo que permite estacionar o CLA Shooting Brake sozinho.

Tirando os pormenores que constituem o pack “Orange Art” como as riscas laranjas e brancas nos bancos (à frente e atrás) e a costura também laranja, o interior é em tudo igual ao do CLA, desde o desenho até aos materiais, passando pelos equipamentos, como o monitor central tipo tablet. Não sendo sensível ao toque, o controlo das várias funções é feito a partir de um comando rotativo colocado entre os bancos, junto de vários locais de arrumação, uma caraterística que confere grande funcionalidade ao interior e que resulta da transferência do comando da caixa automática de sete velocidades para o lado direito da coluna de direção.

COMPORTAMENTO EXEMPLAR

A caixa automática de sete velocidades de dupla embraiagem é a única opção possível nesta versão CLA Shooting Brake 220 CDi de 177 CV (a terceira mais potente da gama atrás do 250 a gasolina de 211 CV e do 45 AMG também ensaiado nesta edição). Com um funcionamento muito suave mas que pode ser mais acutilante quando escolhemos o modo sport, a caixa 7G Tronic é neste caso a melhor aliada de um motor que responde prontamente a partir dos 1400 rpm, altura em que o binário passa todo o seu valor máximo de 350 Nm para as rodas da frente.

Como já dissemos, o CLA Shooting Brake que aproveita a nova plataforma destinada aos modelos de tração dianteira da marca, não transmite a potência às rodas traseiras como é apanágio do resto da gama. Neste momento só o 45 AMG tem tração às quatro rodas graças ao sistema 4 Matic. Isto não significa que a suspensão dianteira, por usar uma estrutura mais simples, não controle eficazmente a motricidade e a aderência. E quando isso não acontece as ajudas ativas como o controlo de tração e de estabilidade que nunca se desliga totalmente, mostram estar à altura da fama que têm em safar-nos das situações mais complicadas.

Com mais 30 quilos que o Coupé, a Shooting Brake tem prestações marginalmente piores. Assim, em vez dos 230 Km/h, atinge os 228 Km/h enquanto as acelerações e as recuperações precisam, em média, de mais um décimo de segundo. Sabemos que estas não são prestações de colar o corpo ao banco, como acontece com o 45 AMG quando aceleramos, mesmo assim permite-nos imprimir bons ritmos. Especialmente nos trajetos mais sinuosos, onde a elasticidade do motor e a resposta da caixa no modo sport tornam a condução muito agradável.

Esta reação é valorizada pela precisão exímia da direção, que desenha as trajetórias com a máxima segurança graças a uma desmultiplicação variável (Direct Steer) de acordo com a velocidade e a rotação do volante. A suspensão desportiva garante, nessa circunstância, uma boa aderência e uma relação de confiança muito grande. Mas se nas curvas a carrinha do CLA goza de grande agilidade, em estrada o seu comportamento beneficia de uma grande firmeza nas reações, o que proporciona viagens agradáveis.

RÁPIDA E SEDUTORA

A posição de condução mais baixa que o normal e uma ergonomia correta tornam a sua utilização agradável, embora continuemos a não gostar da colocação do comando da caixa automática. Em compensação, apreciamos o comando manual a partir das patilhas colocadas atrás do volante, que possui a dimensão ideal. A travagem mostrou-se altamente competente em qualquer circunstância, com espaços de travagem reduzidos e eficazes, o que não deixa de ser um fator de confiança muito importante num carro capaz de acelerar dos 0 aos 100 km/h em apenas 8,4 segundos ou de recuperar dos 40 aos 120 km/h em 10 segundos.

Embora o CLA Shooting Brake não pretenda competir com o Classe C Station, a Mercedes corre esse risco. Durante o nosso ensaio o unanimismo foi claro em classificar a Shooting Brake como muito mais bonita. Mais bonita e também mais barata e com consumos que rondam, em média, os 6,2 litros sem qualquer preocupação de nos aproximarmos dos 4,2 litros que a marca anuncia. Também do ponto de vista ambiental há uma certa responsabilidade social ao sujar apenas a atmosfera com 108 g/Km de CO2.

A relação preço/equipamento, não sendo espetacular, está em linha com os modelos mais recentes da marca e com os concorrentes, se é que os tem. O resultado final tem todos os ingredientes para agradar.

Artigo publicado originalmente na Revista Turbo 404, de maio de 2015