Mercedes C 43 AMG Cabrio V6 3.0L

Texto: Ricardo Machado / Fotografia: Luís Viegas
Data: 5 de Agosto, 2018

Confortável, elegante e com um sonoro V6 trabalhado pela AMG até aos 367 cv, o C 43 AMG é um dos descapotáveis mais eficazes do segmento. Para desfrutar sozinho ou com companhia, mas sempre de capota aberta

AMG. Basta pronunciar as três letras que identificam a divisão desportiva da Mercedes para se entrar instantaneamente em modo extremo. Imaginam-se logo poderosos V8 de quatro litros, com mais de 500 cv, ou o bloco de quatro cilindros recordista de potência: o incontornável dois litros de 381 cv que anima as versões 45 AMG das diversas carroçarias do Classe A. Entre o que acabam por ser duas variantes do mesmo motor, genericamente o bloco de quatro cilindros corresponde a uma das bancadas do V8, existe um V6 de três litros e 367 cv. Falta-lhe a exuberância do V8 e, objetivamente, fica 14 cv atrás do motor de dois litros. Mais do que falhas, são traços de caráter que compensa com uma dose de equilíbrio e refinamento impossível de igualar pelo bloco de quatro cilindros e uma funcionalidade superior à do V8. Tem autonomia razoável, não precisa de uma pista para mostrar o que vale e custa menos 33 mil euros que o C 63 S de 510 cv.

Já a imagem é mais. Mais discreta que o V8, dispensa o volume e a agressividade da frente do C 63. Mais desportiva que as versões não AMG, de quem mantém a grelha com efeito diamante em vez da barra horizontal simples dos V8. Clássica e intemporal, a capota têxtil protege os quatro lugares das agressões do exterior, sem prejuízo para a imagem e com o mínimo impacto na mala. Com a capota recolhida os 360 litros baixam para 285 l e, independentemente da posição da capota, o plano de carga é sempre elevado e pouco funcional. Mas tem capacidade para transportar os sacos de golfe da ordem, nem que para isso tenha de rebater as costas dos bancos traseiros, operação que pode ser efetuada a partir da mala.

Botão do barulho

À frente, encontramos a boa posição de condução do costume, com ampla visibilidade e volante a obstruir a parte superior a parte superior do ecrã central do painel de instrumentos. É assim em todos os Mercedes desportivos, por culpa nossa, que gostamos de conduzir com o volante baixo, e só atrapalha a condução com a caixa em modo sequencial por esconder a indicação da relação engrenada. Não faz mal. Promove a condução por instinto, com o ouvido a marcar as passagens. O escape desportivo (1500€) ajuda, com sonoridade forte em todos os modos de condução, desde que se pressione o “botão do barulho”. É fantástico ouvir o ronco do V6 em modo Eco… Mas atenção, o pleno, com explosões nas passagens de caixa em aceleração ou reduções, só se consegue no modo Sport+.

Oriundo da família BlueDirect, o V6 de três litros foi trabalhado pela AMG até debitar 367 cv. Os 520 Nm de binário chegam logo às 2000 rpm, o que não impede o motor suba com gosto até às 6500 rpm. Rápida e fácil de dosear desde os regimes médios, a resposta do acelerador vai ganhando precisão à medida que o regime sobe. Temperamental como sempre, a caixa 9G-Tronic sobe à ordem da patilha direita do volante e reduz quando lhe apetece, por isso deixamos tudo no modo automático. O binário chega às jantes de 19’’, com pneus 225/40 à frente e 255/35 atrás, por meio de um sistema de tração integral. Obrigatoriedade imposta pela Mercedes que, no entanto, manteve as coisas simples e focadas no prazer de condução. Mínimo de eletrónica. Apenas um diferencial central que envia 31% do binário para o eixo dianteiro e os restantes 69% para o traseiro.

Parente rico

Desengane-se quem pensar que, por ser menos potente e estar limitado à tração integral permanente, o C43 é o parente pobre do C63. Pelo contrário. Desde a primeira impressão deixa claro que é mais ligeiro e interativo que o V8. Sem aquela afinação de direção pesada e muito direta, nitidamente a puxar para a pista, o C43 surpreende pela agilidade. Associada a um centro de gravidade baixo, a suspensão firme permite encarar a entrada em curva com confiança. Os travões aguentam a carga e o C43 avança seguro para o “apex”.

O problema é que, conforme nos aproximamos dos limites, percebemos que a direção não consegue transmitir o nível de aderência dos pneus. É preciso refrear o ímpeto inicial para não acabar a alargar a trajetória, como se de um tração dianteira se tratasse. Acelerar antecipadamente não vai ajudar. A frente levanta e a tração integral resolve o assunto sem sustos de maior. Eficiente, mas não bombástico. Acertando na travagem e mantendo a linha limpa, as saídas são sempre feitas em força. Muita força. Acelerador a fundo, escape a trovejar e a tração integral a garantir níveis de aderência invejáveis.

Este metodologia não foi aplicada a este ensaio. Passe para o capítulo seguinte, 'Ao detalhe'.

Ligação direta

Com exceção da ligeira dormência do eixo dianteiro, o controlo de movimentos da carroçaria é total. Como qualquer caixa a que se retire a tampa, não se equipara à solidez do coupé. No entanto, talvez por estar sujeito a forças menos intensas, oscila menos e produz menos ruídos parasita que o C63 Cabrio. Daqui a dizer que é confortável vai uma grande distância. Os bancos são firmes, estreitando a ligação com o chassis e fornecendo o apoio correto nos momentos de condução empenhada. Já dos modos de suspensão não há muito a dizer. São sempre firmes. Uma afinação, de certa forma, antagónica à postura descontraída do cabriolet.

Sendo inverno e tendo circulado em modo descapotável com temperaturas na casa dos seis graus, lamentamos que o defletor traseiro e o Aircap – defletor na parte superior do para-brisas – caiam para a lista de opcionais. O turbilhão não se sente mas, a julgar pelo frio que se entranha logo abaixo dos ombros, está lá. Com exceção do frio, é perfeito. Mesmo em autoestrada não é preciso aumentar o volume das conversas ou da música para compensar a falta da capota. Fechado é quase tão bem isolado como o coupé. Mas se fosse para andar fechado poupavam-se sete mil euros e a manutenção da capota têxtil. O Mercedes Classe C Cabrio é um dos melhore descapotáveis do segmento e, nesta versão 43 AMG, um dos mais eficazes.

Teste publicado na edição impressa Turbo 437