Atualizado para a base mecânica do Fiesta, o Ford Ecosport deu um importante salto qualitativo. Ainda não chega para igualar os principais concorrentes europeus, mas está no bom caminho Muita tinta correu sobre a estética do Ford Ecosport. À mistura com algum preconceito, afinal tratava-se de um modelo global originário do Brasil e produzido na… Read more »

Texto: Ricardo Machado / Fotografia: José Bispo
Data: 7 de Abril, 2019

Atualizado para a base mecânica do Fiesta, o Ford Ecosport deu um importante salto qualitativo. Ainda não chega para igualar os principais concorrentes europeus, mas está no bom caminho

Muita tinta correu sobre a estética do Ford Ecosport. À mistura com algum preconceito, afinal tratava-se de um modelo global originário do Brasil e produzido na Índia e na Tailândia, criticava-se o pneu pendurado no portão traseiro e a sensação geral de falta de qualidade. Profundamente revista e melhorada, a versão de 2018 aproxima o pequeno crossover dos padrões de concorrentes europeus como o Peugeot 2008 e o Renault Captur. Um importante salto qualitativo, sustentado pela utilização de mais de 2300 novos componentes, onde se incluem a base mecânica do Fiesta e um interior decalcado do popular utilitário da Ford.

Sem a mochila às costas, toda a carroçaria do Ecosport ganha uma alma mais dinâmica, atual. Inspirada nos SUV da casa, Kuga e Edge, a grelha frontal reforça a imagem de família, colocando o Ecosport no mesmo patamar de design dos concorrentes. Pelo menos enquanto não se tentar abrir o portão traseiro. A roda desapareceu, mas a abertura continua lateral e pouco funcional em espaços apertados. Por outro lado, o interior do portão é cavado, ajudando a maximizar a utilização dos 356 litros da bagageira. As costas dos bancos rebatem 60:40 para ampliar o espaço até aos 1238 litros, criando um piso inclinado e tão fácil de aproveitar como o plano.

 

Com as costas na posição normal, os bancos traseiros recebem dois adultos com conforto. O lugar do meio está lá, mas… Elevando os assentos em relação aos dianteiros, o Ecosport facilita o acesso e liberta espaço para as pernas. À falta de um túnel volumoso para atrapalhar, é a consola central recuada que rouba espaço aos pés e dificulta a passagem de um lado para o outro. Avançando uma fila, sentamo-nos num banco alto, com a posição dominante sobre o trânsito caraterística das carroçarias SUV/Crossover.

Salto qualitativo

A herança de design e soluções tecnológicas do Fiesta revê-se na apresentação cuidada do interior. Elementos como o ecrã tátil do tipo flutuante ao centro do tablier, habilitado a espelhar smartphones, disfarçam a menor qualidade de alguns materiais. Está mais próximo, mas ainda lhe falta um “bocadinho” para apanhar os rivais europeus. Falta-lhe principalmente refinamento. Sobre bom piso e com velocidade estabilizada, é todo silêncio e moderação. Altere-se qualquer uma das condicionantes e lá se vai a compostura.

 

Quando se conduz um modelo desenvolvido sobre a base do Fiesta cria-se uma certa expectativa. Afinal, trata-se de um dos utilitários mais entusiasmantes de conduzir. Não é o caso do Ecosport. As dimensões ajudam a resolver o enigma. Com 1,65 metros de altura, para 1,77 m de largura e 4,10 m de comprimento é tão alto e estreito como as imagens sugerem. A suspensão desportiva e as jantes de 18’’ acentuam os efeitos dos 2,5 m de distância entre eixos no comportamento sobre piso degradado.

A direção é ligeira e a suspensão enganadoramente firme. Muito composta nas curvas rápidas e mudanças de direção ligeiras da cidade. Sem ser desconfortável, não alisa as irregularidades como seria de esperar de um crossover. Podendo mesmo o eixo traseiro saltitar sobre pisos mais degradados. Em estrada, depois da confiança inicial, os amortecedores perdem a compostura de forma súbita. Acaba-se a força e perde-se o controlo da carroçaria.

 

Em condução tranquila, a frente é muito precisa e fácil de posicionar. Aumentando o ritmo ou fechando a linha de forma brusca, os amortecedores cedem, a carroçaria inclina, a frente vai atrás por arrasto e o ESP entra em modo de histeria aumentando o desequilíbrio do Ecosport. Por esta altura a traseira ganha vida própria, mas é devolvida à ordem pela eletrónica.

Três cilindros

Também aqui o motor 1.0 EcoBoost, que tanta dinâmica empresta ao Fiesta, fica aquém das expectativas. Sem força nos baixos regimes, em cidade não dá descanso à caixa manual de seis velocidades. Como é preciso recorrer muitas vezes à segunda velocidade, os consumos disparam para os 9,5 l/100 km. Desde que não se puxe pelos três cilindros, a média em estrada baixa para os 5,2 l/100 km, mas a ponderação final ficou nos 8 l/100 km.

 

Proposto a partir dos 21 335€, o Ford Ecosport 1.0 EcoBoost 125 cv é ligeiramente mais caro que os dois concorrentes mais diretos. Um problema para um crossover, que não é tão refinado ou funcional como o Peugeot 2008 ou o Renault Captur. Para complicar mais a vida ao Ecosport, a Brisa classifica-o como classe 2. Um equívoco resolvido de forma gratuita pela Ford, por meio de um ajuste feito às molas dianteiras. Depois basta submeter o documento oficial à Brisa e esperar que esta emita um cartão para pagar classe 1 nas portagens manuais e na Via Verde.

Texto publicado na Turbo 440