Opel Karl vs Smart ForFour vs Mitsubishi Space Star

Texto: Marco António / Fotografia: José Bispo
Data: 22 de Julho, 2017

Com a chegada do Opel Karl e a sua caixa de velocidades robotizada decidimos voltar ao tema dos carros pequenos e convocar o Mitsubishi Space Star com caixa CVT e o Smart Forfour com uma caixa de dupla embraiagem. Para avaliar até que ponto é bom dar descanso ao pé esquerdo!

Vale a pena relembrar uma frase de uma colega nossa quando, há vários anos, a convidámos a dar a sua opinião sobre um carro com caixa automática, dado na altura haver um estudo de mercado que apontava as mulheres como o público-alvo desse “mecanismo” ainda pouco comum no mercado português. A conclusão dela foi que os carros automáticos eram simpáticos pois permitiam que se namorasse mais no carro! Quando perguntámos porquê, afirmou simplesmente que podia dar mais vezes a mão ao namorado. Já tinhamos ouvido muitos argumentos a favor das caixas automáticas mas este, nunca. Presume-se que continue a ser um argumento válido, numa altura em que este órgão mecânico ganha cada vez mais adeptos(as) fruto da comodidade e também da evolução tecnológica.

TRÊS CAIXAS DIFERENTES

Estamos aqui perante três alternativas completamente distintas. A Opel continua a apostar nas caixas manuais robotizadas, agora com uma nova versão Easytronic, os japoneses da Mitsubishi continuam a acreditar que o sistema de variação contínua é a melhor solução teórica em matéria de rendimento e, por último, a Smart, que foi tão criticada na anterior geração por usar uma caixa automática irritante que se rendeu aos encantos da dupla embraiagem da Renault (EDC).

Por incrível que pareça, qualquer delas assenta como uma luva nas soluções propostas, embora tenham naturalmente desempenhos diferentes devido às formas de funcionamento e às caraterísticas dos motores escolhidos. Estes têm em comum os mesmos 3 cilindros mas debitam potências diferentes. Assim, o motor 1.0 Ecotec da Opel tem 75 CV, o motor 1.2 da Mitsubishi debita 80 CV e o motor 0,9 litros da Smart possui 90 CV por ser o único sobrealimentado. O objetivo deste comparativo é ver como é que cada uma das caixas de velocidades trabalha em função das necessidades e ambições de quem escolhe um carro com este tipo de transmissão.

E se quando a nossa colega apresentou como argumento a comodidade de condução, hoje em dia este tipo de caixas garantem também boas prestações e consumos que, nalguns casos, podem ser mais económicos que nos mesmos motores com caixas manuais. Esta evolução deve-se, sobretudo, a uma gestão da caixa cada vez mais integrada com o funcionamento do motor, através de uma cartografia capaz de tipificar com rigor o tipo de condução em tempo real.

 

RAZÃO PARA ESCOLHER AUTOMÁTICO

Mas há outras razões que levam os clientes a procurar estes carros mais vocacionados para andar na cidade, onde a frequência com que o pé esquerdo carrega na embraiagem é notavelmente superior à de uma viagem fora deste ambiente. Se pensar que a força média exercida sobre o pedal da embraiagem é de 12 Kg, imagine a ginástica que faz durante o tempo que anda na cidade. Só por isso vale a pena pensar nesta opção, embora haja outras razões, umas racionais outras emocionais. Por exemplo, ao contrário do que alguns pensam, o “novo” Mitsubishi Space Star não passa de uma renovação do anterior modelo, em especial na parte exterior, onde as mudanças são mais significativas, com destaque para os para-choques, cujo desenho provoca um aumento de 85 milímetros no comprimento. Um aumento que o aproxima cada vez mais do segmento B, de modelos como o Opel Corsa ou o Renault Clio.

Em contrapartida, o Smart ForFour é mais pequeno mas tem uma distância entre eixos maior em virtude de ter as vias mais próximos das extremidades, embora essa vantagem não se converta numa maior habitabilidade, nem tão pouco a sua mala beneficia com isso devido ao motor estar colocado atrás, como no Renault Twingo. O Smart é o único do seu tamanho com tração traseira, uma caraterística que marca muito o seu comportamento, sem que isso pressuponha uma conotação negativa. Neste caso, os técnicos da Smart e da Renault souberam muito bem equilibrar a dinâmica do ForFour, que mantém os pneus mais largos atrás do que à frente.

AGILIDADE É UM BOM ATRIBUTO

Com um chassis que parte de uma base bastante sólida, a qualidade global do pequeno Smart supera os seus concorrentes graças a uma rigidez estrutural superior, uma vantagem facilmente percecionada quando analisamos pequenos detalhes como um simples fechar de portas. Mas se na qualidade o Smart toma a dianteira, na aerodinâmica é prejudicado pela sua maior superfície frontal. Uma boa surpresa é o Opel Karl, detentor de uma linha agradável e de uma qualidade que resulta de uma estrutura competente e capaz de valorizar a sua vocação urbana.

E porque na cidade a agilidade é um atributo de todos, o Karl sobressai, não por ter um diâmetro de viragem tão bom quanto o Smart, mas por possuir uma direção muito leve, graças à função City. Esta é uma ajuda preciosa nas manobras de estacionamento ou quando circulamos a velocidades mais baixas, onde a sua caixa manual robotizada tem uma resposta muito suave ainda que não isenta dos solavancos, que caraterizam esta solução e que é fruto da atuação dos pequenos motores elétricos que comandam as diferentes passagens de caixa e a embraiagem. A evolução foi, ainda assim, grande em relação ao passado, quando o controlo eletrónico não era tão sofisticado. Além do modo automático, a caixa Easytronic também permite comando manual de tipo sequencial. Outra vantagem desta solução é ser relativamente barata e simples.

Ao contrário do Opel Karl, o Smart Forfour deve a sua grande agilidade ao menor diâmetro de viragem da sua classe e ao facto das rodas da frente serem mais estreitas, enquanto a caixa de dupla embraiagem confirmou ser a mais rápida e claramente a melhor. Ao contrário do que acontece com a versão de 71 CV, neste caso o seu desempenho é quase perfeito, pois o princípio de funcionamento é uma das melhores invenções dos últimos tempos em termos de automatização. A prova disso é a sua aplicação em carros como o novo Porsche Panamera ou no novíssimo Honda NSX. Não sendo uma tecnologia barata, os consumos não são altos, tendo em conta que a versão do Smart Forfour era a mais potente dos três.

Mesmo assim não foi tão guloso quanto o Mitsubishi, inclusive quando nos deixávamos contagiar pelo entusiamo e escolhíamos o modo sport, uma opção que torna a condução mais desportiva. O Kit da Brabus montado no Smart Forfour, que, entre outras coisas, baixa um pouco a altura da suspensão, tem neste caso uma influência decisiva no seu comportamento. Mais firme, ele é saltitante quando o piso se degrada e cola-se à estrada quando esta é mais lisa.

(passar à secção final)

A MELHOR ESCOLHA

Bem mais confortável é o Mitsubishi Space Star, cuja caixa de variação contínua mostrou grande destreza nos baixos regimes, embora continue a padecer do mesmo mal, um certo arrastamento que só não é mais acentuado porque a gestão foi melhorada. A direção, não sendo tão leve quanto a do Karl, não merece tantos elogios. Mesmo assim consegue ter um diâmetro de viragem mais pequeno que o Opel. Nas prestações, o mais despachado é o Smart, não só porque tem mais potência como porque tem a caixa mais rápida. Mesmo assim, a diferença para o Mitsubishi não é muito grande, quer na aceleração dos 0 aos 100 Km/h, quer nas recuperações.

O mais lento é, naturalmente, o Opel Karl, o que atesta a sua maior limitação fora da cidade, onde os outros são melhores. Para além de serem mais agradáveis de utilizar que as caixas manuais, qualquer das caixas automáticas aqui presentes é mais cómoda, geram boas prestações e proporciona bons consumos. O mais guloso acabou por ser o carro japonês, enquanto o mais económico é o Opel, com um consumo médio de 5,4 l/100 Km. Contudo, a nossa escolha acaba por recair no Smart Forfour por várias razões: relação preço/potência, consumo específico mais baixo, uma caixa automática agradável de usar, quer no modo manual, quer no modo automático e o comportamento dinâmico mais divertido.

 

Ensaio publicado na Revista Turbo nº 422, de novembro de 2016