Targa Florio. Conheça a corrida mais bela e perigosa do mundo

Conheça a história e algumas "estórias" da Targa Florio, a corrida mais antiga do mundo e uma das mais perigosas de sempre do automoblismo.

Conheça a história e algumas "estórias" da Targa Florio, a corrida mais antiga do mundo e uma das mais perigosas. Alguns nomes célebres do automobilismo mundial tiveram a oportunidade de conhecer as mais de 900 curvas do seu traçado.

Idealizada pelo conde Vincenzo Florio no início do Século XX, a Targa Florio é considerada uma das corridas do mais antigas do mundo do Desporto Automóvel, sendo mesmo anterior às célebres 500 milhas de Indianapolis. Não existe qualquer outra prova com caraterísticas semelhantes.

Muitas corridas históricas deixaram simplesmente de ser realizadas e as que resistiram estoicamente como a Corrida Panamericana tiveram de se adaptar à realidade dos tempos modernos.

Lamentavelmente, a Targa Florio foi uma das corridas que não conseguiu resistir à passagem do tempo. O motivo até é bastante simples: a sua realização nas condições originais deixou simplesmente de ser possível.

Luigi Musso e Olivier Gendebien levaram o Ferrari 250 TR 58 até à vitória em 1958

Será de referir que uma volta ao traçado da primeira edição tinha uma extensão de 148 quilómetros, utilizando estradas da Sicília por asfaltar e totalmente desprovidas de qualquer tipo de segurança específica. Alessandro Cagno inscreveu o seu nome na história desta competição por ter ganho a sua primeira edição, tendo necessitado de mais de 9h30 para concluir a corrida.

Como o evoluir dos tempos, a Targa Florio também se foi adaptando às novas realidades até encontrar um formato mais adequado, enquanto corrida. No figurino definitivo, o traçado tinha uma extensão de 72 quilómetros através do interior de Cefalú, atravessando as belas montanhas de Madonie.

Mais de 900 curvas

Com início no Templo de Himera em Buonfornello - também conhecido como o Templo da Vitória - o itinerário ficou marcado na memória de pilotos e adeptos com os nomes de Cerda, Caltavuturo, Castellana, Petralia Sottana e Soprana, Geraci, Castelbuono, Isnello, Collesano e Campofelice.

Nem mesmos as duas Guerras Mundiais conseguiram interromper a sua realização, tendo sido disputada se interrupções entre 1906 e 1977. A Porsche é uma das marcas com melhores recordações desta prova, tendo alcançado onze triunfos entre 1956 e 1973.

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A Alfa Romeo também foi feliz na Targa Florio, com dez vitórias entre 1923 e 1977. Por sua vez, a Ferrari também viu os seus pilotos subirem sete vezes ao lugar mais alto do pódio, entre 1948 e 1972.

A Bugatti, por sua vez, venceu cinco vezes consecutivas, entre 1925 e 1929, enquanto a Maserati também dominou quatro vezes seguidas, entre 1937 e 1940.

https://youtu.be/pF_oF-ZMhD0

Contudo, era quase impossível aos pilotos não cometerem erros durante a prova quando tinham de passar por mulas, carruagens, automóveis ou camponeses nas pequenas aldeias. Igualmente difícil era manterem a concentração para fazerem as mais de 900 curvas do traçado siciliano.

Passagem pela reta de Buonfornello a 300 km/h

Um dos poucos locais onde, teoricamente, seria possível aos pilotos respirar durante alguns momentos era a reta de Buonfornello. Claro que os pilotos aproveitavam esse ponto para carregarem a fundo no acelerador e os automóveis mais potentes viam o ponteiro do velocímetro chegar aos 300 km/h!

Por outro lado, os treinos eram efetuados em estradas abertas ao trânsito, com todos os perigos inerentes. Mesmo quando já estavam fechadas para a corrida não era nada inédito encontrar alguma surpresa inesperada ao longo do trajeto.

Nomes míticos do automobilismo

No início da década de 1970, os Alfa Romeo T33/3, Ferrari 512 e Porsche 908/03 elevaram a fasquia até aos 500 cv de potência. As velocidades começaram a ser alarmantes: Helmut Marko conseguiu bater o recorde da melhor volta com o tempo de 33 minutos e 41 segundos, com uma velocidade média de 128 km/h.

Porsche e Ferrari são duas das marcas mais vitoriosas no Targa Florio. Em 1966, o triunfo foi para a marca alemã

Este não foi o único piloto de topo a participar na aventura do Targa Florio. Alguns dos outros célebres participantes foram Tazio Nuvolari, Vic Elford, Sir Stirling Moss, Joakim Bonnier, Hans Herrmann, Juan Manuel Fangio, Graf Berghe von Trips, Lorenzo Bandini, Clay Regazzoni, Jo Siffert, Rolf Stommelen, Sandro Munari e Jacky Ickx.

A última edição oficial da corrida Targa Florio como competição internacional foi realizada em 1973. A CSI  (Commission Sportive Internationale) decidiu retirar a prova do calendário devido aos perigos que acarretava a corrida.

A saída de estrada de um veículo na edição de 1977 resultou na morte de dois espectadores e ditou o seu fim como prova desportiva. Não obstante, o espírito da corrida mantém-se vivo, sendo recordada em concentrações de veículos desportivos, de clássicos e mesmo num rali.

Foi assim que se pode ver os carros de ralis do Grupo 5 - Lancia Stratos Shilouette, Montecarlo, Porsche 935, BMW/Schnitzer 2002 Turbo, Zakspeed Escorts - a voarem pelas estradas italianas, conduzidos por pilotos de renome como Walter Röhrl, Giles Villeneuve, Riccardo Patrese ou Markku Alén, competindo na denominada Volta a Itália do automobilismo. Essa prova recuperava a filosofia do Targa Florio e possibilitava a participação de automóveis de competição espetaculares e de prestações alucinantes.

O sapateiro dos pilotos e o Targa Florio

Muitos pilotos também de viajaram até Cefalú para visitar aquele que é apontado como o "sapateiro" mais famoso desta classe: Francesco "Ciccio" Liberto.

Das mãos deste siciliano saíram sapatos para os pés de famosos como Helmut Marko, Niki Lauda, Dario Franchitti, Mario Andretti, Jacky Ickx, Carlos Reutemann, Leo Kinnunen, o ator Daniel Brühl e Sebastian Vettel.

https://youtu.be/oJPinnX5vH4

Vic Elford também encontrou uns sapatos à medida: 45,5 para o pé direito e 43 para o esquerdo. Um acidente em criança obrigou à amputação do dedo maior do pé esquerdo.

Com este calçado conseguiu ganhar no dia seguinte a edição de 1968 da prova e iniciou uma amizade duradoura com o jovem sapateiro, que ficou encarregado de lhe fornecer um par de sapatos novos todos os anos.