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O super Mercedes GLC 43

Texto: Ricardo Machado / Fotografia: José Bispo
Data: 30 de Abril, 2017

Um SUV com um motor potente não é a combinação mais óbvia. A Mercedes discorda e o GLC 43 mostra-nos como é possível conciliar conforto e prestações. Desde que as curvas não fechem muito, o V6 é um caso sério de eficácia

Enquanto os “paparazzi” da indústria automóvel enchem cartões de memória com imagens dos mais recentes testes daquele que será o Mercedes GLC 63 AMG, o construtor de Estugarda arranca com a comercialização do Mercedes-AMG GLC 43 4Matic. Com um nome tão grande, o motor não pode ser V8. É uma regra tácita da nomenclatura da AMG. As três letras mágicas só aparecem no fim quando o bloco tem, pelo menos, quatro pares de cilindros e, atualmente, mais de 500 CV.

Assim, o V6 de três litros e 367 CV deste Mercedes-AMG 43 é “apenas” a versão mais desportiva do GLC. E também a única alimentada exclusivamente a gasolina, o que pode representar um fator decisivo para os puristas, que não querem ouvir trabalhar o diesel e não se revêm na tecnologia híbrida Plug-in associada à outra motorização a gasolina, o dois litros turbo de 292 CV.

Este é o GLC combina a pose e a funcionalidade deste tipo de veículos com a alma desportiva de um V6 biturbo a gasolina. Se esta combinação faz sentido do ponto de vista dinâmico é uma história diferente.

A Mercedes esforçou-se. Desenvolveu leis específicas de amortecimento para a suspensão pneumática Air Body Control, privilegiou o eixo traseiro na repartição do binário feita pelo sistema de tração integral permanente e variável 4Matic e, no nosso caso, até montou umas vistosas jantes opcionais de 21 polegadas, com pneus 255/40 à frente e 285/35 atrás. Tudo em nome da dinâmica em curva. No entanto, domesticar uma massa de 1845 kg em movimento acelerado e equilibrada num centro de gravidade elevado, não é fácil.

 

Dynamic Select

Há muitas forças opostas em ação, com a inércia a impor-se às demais. Independentemente do modo de condução escolhido no Dynamic Select, os habituais quatro passos entre o Eco e o Sport+, o GLC nunca questiona o conforto dos ocupantes. Um comportamento em linha com as dimensões para que, apesar da alma do motor, nunca nos esqueçamos que estamos ao volante de um SUV. Quase nunca, porque quando se acelera dos zero aos 100 km/h em 5,5 segundos é fácil ignorar as duas primeiras iniciais e concentramo-nos apenas no C 43 AMG.

Bem geridos pelo sistema de tração integral e pela caixa de nove velocidades 9G-Tronic, os 520 Nm de binário, estáveis entre as 2500 e as 4500 rpm, são transferidos para o asfalto quase sem perdas. Uma aceleração poderosa, que a caixa no modo automático mantém de forma ininterrupta. Esta progressividade é, juntamente com o controlo dos consumos, um dos pontos fortes da caixa, que continua a não ser das mais rápidas a reduzir. Como é despachada a acelerar, as ultrapassagens sucedem-se a um ritmo vertiginoso, sempre bem acompanhadas à câmara de ressonância desportiva pelo escape AMG. Vigorosas, as notas sobem de tom num crescendo que desafia os limites do “red line”.

A este entusiasmo desportivo contrapõe-se a corpulência de um SUV que, apesar da surpreendente agilidade, não deixa de ser “pesadão”. Penalizado na entrada das curvas pelo excesso de peso, acaba sempre por arrastar o eixo dianteiro ou ser estrangulado pela eletrónica. Confiando na resposta vigorosa do motor, mostra-se sempre mais rápido e eficaz na saída. Com a eletrónica desligada pode-se aproveitar o movimento da carroçaria para balancear o GLC para a curva, aproveitando o consequente escorregar da traseira para sair em deriva. Um “miminho” da tração integral que, apesar de repartir os 520 Nm de forma variável pelos dois eixos, favorece sempre o traseiro para onde, em condições normais, envia 69% do binário.

Esta manobra exige tanta habituação ao peso, como antecipação da travagem, para não cair na inevitável subviragem.

Conduzir um SUV compacto de forma tão empenhada exige muito dos travões e dos pneus, o que se pode medir pelo fumo libertado por uns e pela quantidade de bocadinhos de borracha e detritos, os “marbles” das corridas, acumulados na superfície dos outros.

Apesar da utilização intensiva, tanto os discos perfurados, e ventilados à frente, de 360 mm no eixo dianteiro e 320 no traseiro, como os pneus Continental ContiSportContact de medida 225/40 à frente e 285/35 atrás superaram as provações com nota positiva.

Porque nem só de potência e curvas a varrer vive um veículo com o selo de qualidade AMG, o GLC traz um pacote estético a condizer com as prestações. Pormenores em encarnado, que vão do V na tampa do motor aos cintos de segurança, passando pelas costuras dos diversos acabamentos em pele, sublinham os pacotes de equipamento AMG para interior e exterior. No entanto, os elementos mais visíveis, como os estribos em alumínio, os acabamentos interiores em carbono, o volante em pele ou os bancos conforto, acarretam custos que totalizam 2700€. Nada de extraordinário, quando se individualiza um SUV de 83 650€.

No Mercedes-AMG GLC 43 4Matic das imagens a personalização fixa o preço nos 100 446€. Um valor que, depois de excluídos uns bons 10 mil euros em extras desnecessários, os estribos, por exemplo, que só servem para sujar as calças, é perfeitamente justificado pela performance pura do V6. E pelo conforto, porque se o GLC não é mais ágil em condução desportiva, é porque a suspensão nunca se torna demasiado seca.