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Como será o mercado português em 2030

Texto: Nuno Fatela
Data: 1 de Junho, 2018

Foi apresentado o Cepsa Outlook Energy 2030, uma estimativa sobre como poderá ser o mercado mundial de energia dentro de doze anos. Além desta análise global, destaque para a apresentação do cenário do mercado automóvel português em 2030, que demonstra que os veículos eletrificados vão ter grande peso nas vendas, mas não no total de veículos nas estradas

Normalmente as transições de tecnologia são um processo que leva o seu tempo a proceder efeitos significativos. Exemplo disso é a mudança de paradigma nas motorizações automóveis, como fica demonstrado agora pelo Cepsa Outlook Energy 2030, um documento que analisou as perspetivas do mercado de energia global. Documentos similares já foram apresentados por outras entidades, como a BP, Shell, Exxon, OPEC, Agência Mundial de Energia e outras. Mas neste estudo existe um elemento adicional de interesse, e que passa pela análise do mercado automóvel português em 2030, demonstrando a forma como se deve processar a aceitação de novas tecnologias por parte dos condutores nacionais. As principais conclusões podem ser encontradas na fotogaleria seguinte:

Em comparação a 2015, espera-se que em 2030 os veículos eletrificados (elétricos mais híbridos de Plug-In elétrico-gasolina) representem metade das vendas
Dentro de doze anos espera-se os diesel sejam 15% do mercado (menos 53% que em 2015), os gasolina sejam 35% (+5%), os híbridos de Plug-In gasolina-elétrico também 35% (+33,3%) e os elétricos sejam 15% (+14,7%)
No entanto, no parque automóvel, continuarão a ser os motores de combustão interna a dominar em Portugal
Os gasolina vão ser os mais representativos (48%), os diesel ainda vão ser 38% dos veículos nas estradas. Os híbridos de Plug-In já vão ter um volume total de 11% e os elétricos apenas serão 3% do total
A nível global os valores serão um pouco diferentes. As vendas de veículos eletrificados vão representar 41% do mercado total, e no parque automóvel mundial vão existir 5% de veículos elétricos e 10% de híbridos Plug-In
Para isso será importante a esperada descida no preço e evolução tecnológica das baterias. O custo vai descer dos 270 dólares por kWh em 2015 para os 100$ em 2030. Já a densidade energética vai passar dos 300 Wh/l para os 545 Wh/l.
Espera-se que a eficiência das motorizações cresça nos próximos anos. Na União Europeia um carro será capaz de cumprir 20km com cada litro de combustível, em comparação com os atuais 14km
Em termos de consumos e emissões espera-se uma a mesma situação. Quando contemplados os benefícios dos híbridos e elétricos, espera-se que a média de consumos desça dos 3,8L/100km em 2020 para os 2,7L/100km passados dez anos, de acordo com os objetivos comunitários
Nas emissões a descida será das 119g/km de CO2 em 2015 para as 95g/km em 2020 e depois até às 66g/km em 2030. Isto prevendo o cumprimento das normas estabelecidas pela Comissão Europeia
Espera-se que, a nível mundial, as vendas de veículos elétricos alcance um total de 80 milhões de unidades no final da próxima década. Nessa altura já devem circular na estrada 10 milhões de carros totalmente autónomos
Na lógica utilizada para a evolução das tecnologias, isto vai significar passar da fase inicial designada “Experimental”, superar o nível de “Adesão” e estar em 2030 na fase de “Lançamento”. Faltará chegar ao ponto atual dos motores de combustão interna, o do “Crescimento Sustentável”
O estudo demonstrou ainda quais as vantagens para os clientes ao trocar já um modelo com motor de combustão interna por um elétrico. Por ano seriam menos 1000l de combustível (entra na equação a forma de produção de energia) e mais 3000kWh consumidos, reduzindo-se o consumo de energia em 50%
Esta análise tem em conta que 60% da produção de energia nacional provém de fontes renováveis. Dessa forma, o impacto na redução das emissões entre um carro com motor de combustão interna e um elétrico fica nos 75%
Embora ligado apenas de forma indireta ao sector automóvel (pela obtenção de eletricidade para os veículos sem emissões poluentes), aproveitamos para destacar também a evolução do sector energético português
O primeiro dado tem a ver com o pico do consumo de petróleo, que em Portugal se registou há 16 anos. Desde então nunca mais os valores se aproximaram desse máximo, e em 2017 eram mesmo 40% inferiores aos números de 2002
Dos 15,7 milhões de toneladas adquiridos em 2002 deve descer-se para quase metade em 2030, com “apenas” 8,6Mt
Observando outros países desenvolvidos, esse pico registou-se na Itália em 1995, no Japão e Alemanha em 1997, na França em 2000, Espanha em 2005 e no Reino Unido e Estados Unidos em 2006
Em Portugal no ano 2000 as energias renováveis eram apenas 20% da produção total, tendo subido para os 50% em 2015. Dentro de doze anos, em 2030, devem ser 65% de toda a eletricidade produzida
No final da próxima década as energias eólica e solar serão 40% do total, a energia hidráulica mais 25% e os combustíveis fósseis apenas a origem de 35% da eletricidade gerada
O Cepsa Energy Outlook 2030 demorou dois anos a concluir e tem por base três variáveis: de atividade, de eficiência e de substituição

O primeiro destaque vai para a mudança nas preferências dos clientes no mercado automóvel português em 2030. O maior prejudicado será o diesel,  enquanto os veículos eletrificados vão passar a ter uma quota de mercado de 50%, dividida entre os híbridos de Plug-In gasolina-elétricos e os modelos apenas alimentados por eletricidade através da bateria. Mas, observando como será o parque automóvel, podemos concluir que os carros a gasolina são os “vencedores” desta corrida, passando a ser os mais representativos do mercado.

Além disso, como o parque automóvel é bastante maior que o total de vendas anuais, dentro de uma dúzia de anos os Diesel ainda vão ser 38% dos carros nas estradas. Isto pode-se explicar facilmente ao recordar os dados mais recentes que a ACAP revelou sobre o cenário do automóvel em Portugal, e que mostram que a idade média dos carros no nosso país é de 14 anos. Mantendo-se esta situação, no final da próxima década estaremos, em média, a conduzir carros lançados em 2016! Isto significa que mesmo que os veículos eletrificados representem metade do mercado automóvel português em 2030, ainda vão ser uma minoria nas estradas nacionais nessa altura.

 

Mas os condutores podem esperar gastar menos combustível (embora com a crescente subida de preços isto possa não significar gastar menos dinheiro por mês com combustível…). Porque espera-se que cada carro na União Europeia cumpra 20km com um litro de gasolina, o que significa mais 6km do que os valores analisados em 2015. O aumento da eficiência, em combinação com a eletrificação, vão significar uma descida dos consumos médios dos 4,7L/100km observados em 2015 para um registo ponderado de 2,7L/100km em 2030. As emissões seguem uma tendência idêntica, decrescendo das 119g/km de CO2 para as 66 gramas.

Igualmente interessante é analisar as perspetivas da produção de energia em Portugal, já que elas têm impacto nas vantagens ambientais obtidas com os veículos elétricos. E pode-se confirmar que em solo nacional elas são significativas, já que espera-se que em 2030 as energias renováveis sejam já 65% da eletricidade em Portugal. O que ajuda a tornar ainda mais evidente as vantagens da condução de um veículo elétrico em solo nacional.

Hector Perea, Diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Negócio da Cepsa e responsável pelo Energy Outlook 2030

 

A apresentação do Cepsa Energy Outlook 2030 permitiu à Turbo fazer uma pequena entrevista com o responsável por este estudo que aborda o mercado automóvel português em 2030, Hector Perea, que nos explicou a metodologia aplicada a esta investigação. Segundo o Diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Negócio da empresa, o estudo demorou dois anos a ficar completo e partiu das análises exaustivas do mercado que a divisão que dirige faz para a definição dos planos da Cepsa. “Compilámos bastante informação de mercado e pensámos que podia ser útil colocá-la toda num estudo completo para partilhar”. Foi explicado que por trás do Energy Outlook 2030 está um “modelo de análise que foi criado por nós, de projeções sobre a procura, e que basicamente se constrói para cada uma das variáveis energéticas”.

Hector Perea resume esta avaliação a três variáveis, “uma de atividade, outra de eficiência e outra de substituição. Vou dar um exemplo, procura de energia para os veículos ligeiros de passageiros. A primeira variável é a atividade, que é os quilómetros percorridos anualmente com o nosso carro e como isso vai evoluir (o que depende de outros fatores, como a economia). O segundo é a eficiência, como vai ela melhorar nos próximos anos. E vimos na projeção que na Europa, por exemplo, existem legislações que obrigam a reduzir as emissões. Isso serve para traçar um cenário sobre como vão evoluir os automóveis. O terceiro vector é o da subsituição, que outras energias podem responder a essa procura de energia no futuro. Neste caso temos os veículos elétricos, a gás, o hidrogénio. E a soma desses três factores é o que dá as projeções, é o que aplicamos a todos os sectores. E dessa forma construímos um modelo que suporta todas as projeções do estudo”.

 

Tratando-se do Diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Negócio, foi questionado como está a Cepsa preparada para responder a essas alterações preconizadas pelo Energy Outlook 2030. Perea explica que “estamos já a instalar pontos elétricos de carga. Em Portugal temos já em quatro estações de serviço e o objetivo é instalar oito a curto prazo. Também temos pontos de abastecimento LPG, cerca de 30 postos, e se os condutores exigirem outras fontes de energia vamos adaptar-nos a essa procura”. Sobre a possibilidade de fazer investimentos em empresas ligadas ao ramo, como por exemplo fez recentemente um dos concorrentes no sector de energia com a aposta numa fabricante de pontos de carga, Hector Perea explicou que a Cepsa “está a investigar, a estudar opções, mas ainda não anunciámos qualquer alternativa. Mas estamos a contemplar essa possibilidade”.

 

Este estudo do mercado automóvel português em 2030, o Cepsa Energy Outlook 2030, está acessível para consulta online através deste link.