Em 2018 o número total de viaturas adquiridas com contratos de renting em Portugal atingiu um novo máximo, batendo um registo de 2010. Este foi um dos dados mais importantes que foi revelado durante a Conferência “Financiar o Futuro: o Papel do Factoring e do Renting na Modernização da Economia Portuguesa”, que decorreu na última semana
Criada em 1984, a Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting reuniu-se para uma conferência na última semana, aproveitando esta ocasião para fazer o balança da sua atividade no ano transacto mas também para deixar um olhar especializado ao futuro do financiamento especializado na economia portuguesa. Revelando dados importantes como o recorde de viaturas em renting assinalado em 2018, esta associação que congrega 30 empresas (17 de leasing e 13 de factoring) demonstrou através de dois debates com especialistas do sector automóvel como as oportunidades criadas pela revolução da mobilidade abrem novas oportunidades de negócio.
Os números da ALF em 2018
O recorde de viaturas obtidas através de contratos de leasing em 2018 foi um dos números mais importantes da intervenção de Alexandre Santos, Presidente da ALF. Ele demonstrou como todos os ramos de atividade da ALF demonstram indicadores positivos, em linha com o crescimento da economia, e o exemplo máximo está nos 37494 automóveis adquiridos em renting, batendo o registo de 35471 carros em 2010. Apesar de tudo, a média de viaturas adquiridas por renting em Portugal está nos 14%, abaixo da média europeia de 21,7%.
Também o leasing tem indicadores positivos, mantendo-se em crescimento contínuo desde 2014. O aumento foi de 13,8% no último exercício, para um total de 3436 milhões de euros, ainda longe dos 4136 milhões alcançados em 2010. Também o factoring mostra evolução, tendo aumentado 21,2% para um total de 31,8 mil milhões de euros tomados em créditos. Já com os dados do primeiro trimestre de 2019 compilados, a ALF revelou ainda que se registou no início do ano um crescimento do leasing, enquanto o renting seguiu sentido oposto.
O futuro da mobilidade
Foi então o momento do Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, revelar a sua visão sobre como as pessoas se vão movimentar no futuro. Destacando desde logo como as atividades de Renting, Factoring e Leasing se cruzam com muitas outras áreas de negócio, este membro do governo recordou que “não há economia sem financiamento”, daí que o crédito especializado seja fulcral nesta fase de transição, pela versatilidade das ofertas existentes.
Quando muitos falam sobre o fim do automóvel, o Secretário de Estado assinalou que isso não será verdade. Porque as pessoas vão continuar a movimentar-se, podem é encontrar novas soluções para o fazer. E deu as razões para tal:
Combater as externalidades negativas do sistema de transportes: emissões, congestionamentos, etc;
Digitalização: Maior eficiência nas deslocações, conseguir combinar a oferta e a procura;
A partilha: Como o automóvel privado está parado 92% do tempo, algumas pessoas vão optar antes por veículos partilhados, car-sharing e outras soluções.
O Papel do Financiamento na Modernização da Economia
A questão do financiamento especializado foi abordada no Forum da ALF por um painel composto pela ACAP, a Transportes Paulo Duarte, a Confedereação de Comércio e Serviços de Portugal (CCP) e a PricewaterhouseCoopers (PWC). E foi precisamente a CCP a dar o mote, com o seu Presidente, João Vieira Lopes, a recordar o histórico défice de capitalização das empresas em Portugal. Algo que está associado às alterações cíclicas do sistema bancário (“do 8 ao 80”) mas que diz poder ser contrariado pelo financiamento especializado. Porque, afirma, ela inclui uma análise muito mais profunda dos créditos, com a CCP a considerar mesmo que este é o seu maior mérito para a indústria portuguesa.
A Transportes Paulo Duarte destacou a necessidade constante de renovação das frotas, algo que exige financiamento mas, recordou também, a falta de atenção do governo a quem aposta na modernização. E deu como exemplo a taxação da categoria D, que é sempre a mesma independentemente da idade e nível de poluição dos camiões. E veio ainda destacar, quando é preciso financiamento, o “pecado” das análises puramente contabilísticas de capitais próprios vs dívidas, em detrimento da observação dos resultados operacionais… Da parte da PwC o destaque foi também para áreas como a taxação, indicando que a quantidade de informações que a Autoridade Tributária recolhe já permitiria a discriminação positiva de quem aposta em carros mais novos, que são menos poluentes e mais seguros.
Depois das primeiras intervenções foram ainda abordados temas como a necessidade de ajustar os créditos aos ciclos económicos das empresas. A Paulo Duarte deu o exemplo de que 85% dos custos na área dos transportes acontecem a 30 dias (como combustíveis e salários), mas que as empresas habitualmente começam a pagar a 90 dias. Uma demonstração de evoluções que ainda são necessárias para o futuro.
O futuro da Mobilidade Automóvel
Apesar da primeira intervenção do Secretário de Estado José Mendes já ter abordado o tema da mobilidade nos próximos anos, o segundo painel do Fórum AFL também se debruçou sobre esta questão. E contou com a presença de entidades e empresas que ajudam a moldar esse futuro, como a ACAP (representada pelo Sec. Geral Hélder Pedro), a Brisa (falou Eduardo Ferreira de Lemos, Diretor de Planeamento Estratégico) e o Grupo PSA (pela voz de João Venâncio, responsável de mobilidade). A moderação do segundo debate ficou a cargo de António Oliveira Martins, Vice-Presidente da ALF.
Foi a ACAP a lançar o mote para o debate, ao revelar perspetivas de futuro do sector automóvel e que obrigam a transformações no sector. Aqui se inclui, por exemplo, a necessidade de redução de 37,5% das emissões até 2030 (obrigando não apenas a elétricos e híbridos, mas a um mix de motores onde também entra o Diesel, com menos CO2 emitido que os gasolina). A Brisa destacou como está a tentar abraçar essa mudança, tanto pela eletrificação da frota como ao apoiar as novas formas de mobilidade com empresas como a DriveNow. E, falando sobre os dois temas anteriores, o Grupo PSA destacou também a aposta na evolução das motorizações (vêm ai elétricos como o e-208 e híbridos como o 508, 3008 ou DS7 Crossback, mas o consórcio tem também no Puretech o Motor Internacional do Ano na sua categoria no triénio anterior) e aquele que foi o primeiro car-sharing 100% elétrico de Lisboa, o emov.
Uma forte tomada de posição
Outro momento-chave deste evento foi para a clarificação da resposta às polémicas declarações do Ministro do Ambiente no início do ano sobre o fim dos Diesel. António Oliveira Martins recordou desde logo que a taxa de penetração de veículos eletrificados nas associadas da ALF é o dobro comparativamente ao resto do mercado automóvel. E por isso explicou que o único desejo desta entidade é uma transição gradual, sem alarmismos e onde não existam declarações proferidas sem o suporte de dados técnicos e que trazem disrupção desnecessária.
Também a ACAP destacou este momento, colocando ênfase no que a ACEA tem vindo a pedir. E que passa pela neutralidade tecnológica, em que cada marca pode escolher o seu caminho para alcançar as reduções de emissões exigidas pelas autoridades comunitárias, seja com os Diesel, os elétricos ou os híbridos de Plug-In. E o Secretário-Geral da ACAP, Hélder Pedro, recordou que até o comissário europeu com esta pasta disse que a Comissão não se mete nesta questão. Ou seja, dando liberdade para escolher entre diferentes estratégias…
A necessária renovação…
Quando se fala de emissões, muitas pessoas olham apenas para os novos carros vendidos. Mas neste fórum ALF foi focado aquele que é, provavelmente, o maior problema nesta área. Falamos do envelhecido parque automóvel nacional, sendo destacado que as empresas de renting, factoring e leasing têm um importante peso na renovação das frotas. Com benefícios para o ambiente e para a segurança. Até porque, recordou o representante da PSA, o financiamento especializado permite ter acesso aos veículos de baixas emissões ou sem emissões poluentes com a vantagem de ter outras soluções alternativas agregadas.
O caso do CASE
A terminar foram abordadas com maior detalhe as quatro grandes tendências de futuro para o sector automóvel, habitualmente definidas pelo acrónimo CASE. Que se traduz por Conectados, Autónomos, Shared (partilhados) e Elétricos. Ou seja, todos eles a agregarem novos conceitos de mobilidade, muitos deles a necessitar também renovações das frotas automóveis. E, segundo a visão deste painel de debate, a exigirem uma oferta diversificada de serviços para o qual pode ter um papel importante o financiamento especializado e a gestão das frotas. E até houve tempo para, num ambiente descontraído, ouvir algumas tiradas engraçadas, como quando a Brisa disse que nos anos 90, com a Via Verde, criou o primeiro carro conectado às infraestruturas em todo o mundo.
Sobre estes temas, destaque ainda para a intervenção final de João Venâncio, da PSA, que recordou o mote recentemente lançado pelo grupo: o futuro não vai ser nada aborrecido. Afirmando que existem muitos desafios, e todos eles muito aliciantes, desde a mobilidade elétrica aos serviços de mobilidade, diz que o Grupo PSA está presente em todas essas áreas e que por isso os próximos anos serão bastante aliciantes para estar na indústria automóvel. E a ALF também demonstrou, durante o Fórum ‘Financiar o Futuro: O Papel do Leasing, do Factoring e do Renting na modernização da economia portuguesa’ que ter ter papel ativo nesta transição e na forma como as pessoas se deslocam no futuro…