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Renault e Mercedes-Benz. Saiba o que resta de uma importante parceria

Texto: Carlos Moura
Data: 2 de Setembro, 2022

A Renault e a Mercedes-Benz desfizeram quase totalmente uma parceria iniciada neste século, com exceção para um modelo bastante importante para ambos os construtores. A carreira comercial de outros modelos ficou aquém das expectativas. Mais positivas foram as sinergias nos motores.

Recentemente, a Renault e a Nissan venderam as participações que detinham na Mercedes-Benz e como resultado já pouco resta de uma longa colaboração iniciada neste século, com exceção de um modelo importante, quer para a Mercedes-Benz, quer para a Renault.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como diria o poeta, ou quase. Isto aplica-se à colaboração entre a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi e a Daimler (atualmente Mercedes-Benz Group) que resultou de conjugação de vontades de duas personalidades do setor automóvel que conheceram destinos diferentes: Dieter Zetsche, que se reformou em 2019; e Carlos Ghosh, que abandonou a presidência do grupo automóvel franco-nipónico de uma forma bastante atribulada.

Atualmente pouco resta da colaboração entre a Daimler e a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, para além de um divórcio amigável. 

Sucesso e insucessos

A Renault vendeu a sua participação na Mercedes-Benz em março de 2021, enquanto a Mercedes-Benz alienou as suas ações na marca francesa em novembro de 2021. A separação tornou-se definitiva em 2022 quando a Nissan se desfez da sua parte no capital Mercedes-Benz por 1,2 mil milhões de euros. 

Todavia, a ligação entre a Renault / Nissan com a Mercedes-Benz não se rompeu por completo: a plataforma do Renault Kangoo / Nissan Townstar continua a ser partilhada com a Mercedes-Benz para a produção do seu comercial compacto Citan, assim como o MPV compacto Classe T.

O Classe T é um dos produtos que subsiste da colaboração entre a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi e a Mercedes-Benz

Com exceção dos comerciais ligeiros compactos não se pode dizer que a colaboração entre os dois grupos automóveis tenha sido um enorme sucesso. A Infiniti não se conseguiu impor na Europa com uma versão baseada no Mercedes-Benz GLA, já que o crossover Q30 não foi suficientemente apelativo para o consumidor do Velho Continente, habituado aos produtos alemães.

Por outro lado, a Infiniti também não conseguiu transmitir uma imagem de marca premium no mercado europeu pelo que aquele crossover fabricado em Inglaterra não teve a implantação que se esperava e a sua carreira comercial foi bastante curta. Em Portugal, por exemplo, nem chegou a ser vendido.

Pick-ups e smart

A Renault / Nissan e a Mercedes-Benz também participaram num projeto de uma pick-up de uma tonelada, baseada na Nissan Navara. 

Todavia, as vendas do Renault Alaskan foram um fiasco devido ao preço a que a Nissan vendia esta pick-up à marca francesa, enquanto o sucesso do Mercedes-Benz Classe X também ficou bastante abaixo das expetativas dos responsáveis da marca de Estugarda.

Renault Alaskan, baseada na Nissan Navara, teve uma vida curta

Abaixo das expetativas também ficaram as vendas do smart forfour produzido com base na plataforma da terceira geração do Renault Twingo. Como resultado, a Mercedes-Benz decidiu vender 50% da smart à Geely e transferir a produção para a China. 

Sinergias nos motores

Nem tudo ficou abaixo das expectativas na colaboração entre a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi e a Mercedes-Benz. Uma das parcerias produtivas e duráveis ocorreu no domínio dos motores, Se a Infiniti beneficiou dos motores V6 e quatro cilindros diesel da Mercedes-Benz, foi a marca alemã que teve ao seu dispor um motor diesel “K9K” para os seus modelos compactos.

Em 2012 era lançado o Classe A equipado com um motor Renault. Para muitos era um sacrilégio, mas para a marca alemã foi muito proveitoso, De tal maneira que aquela motorização também passou a estar disponível no GLA, CLA e noutros compactos.

Mercedes-Benz A 180 d utilizou o conhecido motor diesel de 1,5 litros da Renault

Esta colaboração durou oito anos porque o motor de 1,5 litros da Renault foi utilizado quase até ao fim pela Mercedes-Benz em 2020. 

Um segunda colaboração na área dos motores consiste no M282, um quatro cilindros de 1,3 litros turbo, desenvolvido pela Renault, Nissan e Mercedes-Benz, que está presente em vários modelos das três marcas.

Esta parceria não durará tanto tempo porque a Mercedes-Benz pretende deixar de vender veículos com motores de combustão na Europa até 2030.