Paixão. Se é dos que acredita que este é o combustível essencial para a vida tem de visitar o Museu da Miniatura Automóvel, em Gouveia. Autêntica refinaria de sonhos.
Qual o valor de uma memória? Que importância dá quando olha para algo simples, quase banal, e logo começam a surgir na sua mente recordações dos tempos em que acreditava que “o sonho comanda a vida”?
É provável que para muitos dos nossos leitores não seja óbvio o porquê desta reportagem sobre o Museu da Miniatura Automóvel, em Gouveia, no âmbito das visitas que temos vindo a fazer aos melhores museus do automóvel, um pouco por todo o mundo. Não há, efetivamente, uma razão, porque, afinal, as paixões não se explicam. Podem, ou não, perceber-se mas, para isso, vai ter que aceitar o desafio: vá!
Mesmo que não seja um apaixonado pelos automóveis dificilmente evitará a sensação de estar a viajar no tempo; aos seus melhores tempos, quem sabe. De entre as quase quatro mil miniaturas que ali estão expostas o destaque vai para a vertente “desporto” mas, entre as coleções expostas em permanência estão, também, réplicas dos carros utilizados por celebridades como o presidente Kennedy ou o Papa João Paulo II, John Lennon e o Porsche 550 ao volante do qual o ator James Dean perdeu a vida. Isto já para não falar da certeza de reencontrar o Renault 16 que era o carro do pai da “miúda” da sua vida…, o MGB-GT que era o seu ideal de automóvel desportivo e tantos outros exemplos que nos recordam a fabulosa evolução desta indústria que adoramos. Que nos trazem as nossas melhores memórias.
RÉPLICAS
Paixão. A palavra com que abrimos este artigo, foi a centelha que permitiu que um belo sonho se tornasse realidade. Poderá Deus ter dado uma ajuda, a fazer fé na frase de Fernando Pessoa (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”), mas a verdade é que entre os mentores deste projeto há, pelo menos, um ponto em comum: essa vontade interior de colocar de pé aquilo que parecia impossível.
Fernando Taborda, jurista, que há quase quatro décadas materializa a paixão pelos ralis numa coleção de miniaturas que há muito ultrapassou a “casa” dos milhares, conversava um dia com Luis Celínio, homem de múltiplos instrumentos, entre os quais, jornalista e responsável pelo clube Escape Livre, na Guarda e… a ideia (a paixão) acabou por contagiar Luis Tadeu, presidente da Câmara de Gouveia, que teve a clarividência de perceber que a cultura tem múltiplas expressões e que pode ser (é) uma ferramenta de dinamização do concelho.
A requalificação (a cargo do arquiteto Caldeira Cabral) de um edifício contiguo ao museu Abel Manta arrancou e a estrutura nascia. Parecia algo ambicioso… para expor miniaturas mas não foi preciso esperar muito tempo para se perceber que, afinal… Hoje estão ali expostas mais de 4000 réplicas em miniatura, em que apenas uma parte integra a coleção permanente. Apenas e só porque não há espaço para mais. Pelo menos enquanto não se concretizar a ampliação para outro edifício ali não muito distante.
Réplica em miniatura é a expressão que, propositadamente, temos vindo a utilizar pois não faltam exemplos de autênticas peças de arte, feitas à mão ou decoradas com incomensurável desvelo, que reproduzem fielmente os automóveis que marcam para sempre o automobilismo mundial. Lembra-se do Alpine A110 com que Jean Pierre Nicolas venceu o Rali de Portugal? E do Ford GT 40 que triunfou nas 24 Horas de Le Mans? E do DS de Francisco Romãozinho, do Lancer que permitiu a Rui Madeira sagrar-se campeão do Mundo de Ralis? E… As páginas de uma edição inteira não chegariam para inúmerar as memórias que enchem vitrinas. O que mais nos impressiona? O que torna exta exibição única? Essa é a pergunta mais difícil de responder. Como seria possível uma só resposta quando ali encontramos, por exemplo, todos os vencedores do Mundial de Ralis, todos os vencedores das 24 Horas de Le Mans, todos os vencedores do Nacional de Ralis, todos os Ferrari de F1, todos os automóveis que alimentaram os nossos sonhos.
O que mais nos impressiona? Sim, temos uma resposta: a coerência de toda a exposição. O que faz uma coleção de qualidade não é o número de exemples expostos, nem o valor das peças, nem sequer a qualidade das mesmas. O que faz uma coleção única é, realmente, a sua coerência e detalhes como o facto de não existir um só modelo que não tenha competido realmente. Parabéns!
Artigo publicado na Revista Turbo nº 404, de maio de 2015