Opinião: Ou entra mosca, ou…

Opinião de Júlio Santos, diretor da revista Turbo.

Dois factos marcam, com sinais contrários, o mês de fevereiro.

Por um lado as palavras do Ministro do Ambiente profetizando o fim dos motores a gasóleo e, por outro, o anúncio de que a fábrica do Grupo PSA, em Mangualde, vai também produzir as versões Comercial e de Passageiros do novo Opel Combo.

Apesar das profundas implicações para um setor que é responsável por milhares de postos de trabalho, as afirmações insensatas do Ministro, fundamentadas em considerações estritamente políticas, ou numa visão meramente pessoal, facilmente rebatível, não merecem, parece-nos, uma valorização superior à demonstração de confiança do grupo liderado por Carlos Tavares. Das duas situações resulta, aliás, uma lição tantas vezes comprovada: os políticos quando falam do que não sabem ou entra mosca ou… ou o melhor é fazerem o que manda o bom-senso, ou seguirem as recomendações de quem sabe.

Vale a pena recordar, na verdade, que o anúncio da produção em Mangualde do Opel Combo, muito importante para o futuro do maior empregador da região (mais de 500 postos de trabalho diretos) e para a economia nacional, foi antecedido de um longo período em que Carlos Tavares teve que usar toda a sua influência para conseguir a alteração da classe de portagem para os veículos comerciais. Também nessa altura não faltou quem incentivasse o Governo a não ceder a lóbis empresariais, ignorando por completo o facto de o mercado nacional absorver potencialmente cerca de 15% das vendas dos veículos produzidos em Mangualde que, ao serem taxados na classe 2, perderiam grande parte da competitividade, inviabilizando, muito provavelmente, a sua produção em território português.

Nesse caso, como, felizmente, em muitos outros, prevaleceu o bom-senso. O interesse nacional sobrepôs-se a fundamentalismos desprovidos de qualquer sentido. Só é pena que não seja sempre assim.

Artigo de opinião publicado originalmente na edição escrita da Revista Turbo de março de 2019.