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O futuro da mobilidade apresentado em toda a sua amplitude

Texto: Miguel Policarpo
Data: 18 de Maio, 2018

Preparar o futuro da indústria automóvel, que passa pela conetividade, pelos serviços de mobilidade partilhada, veículos autónomos e elétricos, é a aposta da Daimler. O grupo prepara-se para lançar a submarca Mercedes EQ, explicada por quem sabe na World Shopper Conference Iberian 2018. Será que isso implica necessariamente o abandono dos carros “tradicionais” dentro de décadas? Estes foram os temas abordados na World Shopper Conference Iberian 2018 por Joerg Heinermann, da Mercedes, que regressou a Portugal para oferecer uma visão bastante ampla sobre a transformação que decorre no mundo automóvel.

A discussão sobre o futuro do automóvel e da própria indústria aborda incontornavelmente noções como a conetividade, a digitalização e uma mobilidade em que os sistemas de condução autónoma e a tecnologia ganham expressão. A Daimler prepara a sua estratégia – que passa pelo lançamento da submarca Mercedes EQ – e redefine até o seu modelo de negócio, adaptado às necessidades individuais e que tem em consideração noções como a preocupação com o meio ambiente. Joerg Heinermann, Diretor Global de Vendas e Marketing da Mercedes EQ, foi um dos oradores do primeiro dos dois dias da World Shopper Conference Iberian 2018, evento realizado no Centro de Congressos do Estoril, onde abordou precisamente estes temas.

Um dos primeiros dispositivos de suporte à apresentação de Joerg Heinermann sublinha a “disrupção”. Uma mudança de filosofia que ocorre a um ritmo vertiginoso na indústria automóvel – tal como se sucedeu noutras eras, algo a que o responsável fez alusão – e algo a que a Mercedes procura dar impreterível resposta, numa perspetiva de “Abrir a mente e pensar em novas formas de mobilidade”. Assenta essa adaptação na estratégia ‘CASE’ – Connected, Autonomous, Shared & Services, Electric – cujas noções, até como a tradução literal indica, implicam a produção de veículos orientados para a condução autónoma, conectada, partilhada, com veículos elétricos e onde a oferta de serviços será fulcral.

 

Autónomos vão ganhar preponderância exponencialmente

Sem entrar em detalhes sobre os modelos que serão lançados, Heinnermann confirma 10 elétricos puros até 2022, começando  esta ofensiva pelo EQ C. Importa referir que os conceitos da ‘CASE’ remetem ainda para as noções de digitalização, através da conetividade, da individualização, graças à condução autónoma, e, através da prestação de serviços de partilha, para a urbanização. Todos eles se conjugam com a componente elétrica que remete, obviamente, para a sustentabilidade. Este responsável acredita que, no futuro, o desenvolvimento da condução autónoma permitirá que o carro se desloque sozinho à oficina, por exemplo, e permita aos passageiros usufruir da viagem a bordo de diversas formas: ver televisão, adiantar trabalho, fazer compras por via de dispositivos tecnológicos, entre outras.


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A mudança de mentalidades será, dada a importância desta revolução da mobilidade, uma necessidade clara. O que obriga a vencer a inata resistência humana à mudança, que a Mercedes acredita que vai acabar por desaparecer, permitindo exponenciar a evolução dos autónomos. O passado oferece este prognóstico, atendendo ao desenvolvimento de outras correntes disruptivas na indústria automóvel. A Daimler estima ainda que “o carro de uso exclusivo”, a viatura apenas de uso particular por uma pessoa, comece a perder preponderância, aproximando-se, de forma faseada, da curva referente à mobilidade partilhada.

 

“O que nós oferecemos é mobilidade”

Estas noções e prognósticos empurram a Daimler para ampliar o seu modelo de negócio, assumindo duas dimensões – a de fornecedor de veículos ‘hardware’, como refere Heinnermann – e a de prestador de serviços. Não significa que o fabricante deixe de produzir o que o responsável denomina por viaturas de uso exclusivo ou de veículos destinados ao transporte, onde se incluem as pessoas. A Daimler pretende tornar-se também num relevante prestador de serviços, e isso passa pela colaboração com outras empresas, nomeadamente de serviços partilhados. A Mercedes investe já nos serviços Me Connect e no de carsharing Car2Go. A Me Account é o exemplo perfeito de como a digitalização já está presente nos dias de hoje, pois Heinnermann diz que “Estamos a oferecer liberdade de mobilidade”.

E o caso específico de Portugal?

Joerg Heinermann ressalva que cada país e cidade tem as suas caraterísticas. O desenvolvimento dos serviços de car-sharing em Portugal depende da resposta do mercado em relação às soluções disponíveis atualmente. Ainda assim, e com base nos quase três anos que passou recentemente como Diretor-Executivo da marca em Portugal, este responsável sublinha que o mercado português atualmente está muito focado nos carros exclusivos.

Os serviços de mobilidade partilhada em Portugal vão desenvolver-se com a chegada dos autónomos, crê Heinermann, que aponta também para a necessidade de uma conexão entre formas de transporte. É a intermodalidade das viagens a ganhar preponderância, sendo oferecido como exemplo a possibilidade de ter à sua disposição um automóvel logo à saída do comboio.Em relação aos elétricos EQ, o Diretor Global de Vendas e Marketing desta submarca da Mercedes confirma que os modelos serão lançados no nosso país simultaneamente com os restantes países da Europa. A Mercedes EQ estará, desta forma, presente desde o inicio em Portugal.

 

Êxito dos veículos elétricos e influência estatal

A consolidação dos veículos elétricos dependerá ainda da vontade das pessoas e da regulação. Do lado do fabricante terá de haver flexibilidade para que os elétricos passem a ser produzidos nas cadeias de montagem dos veículos tradicionais, de motores de combustão interna. Joerg Heinermann apontou ainda para a influência da regulação e do Estado, sendo um interveniente decisivo na mudança para a mobilidade livre de emissões. Questionado sobre se uma redução nos preços do petróleo poderia colocar em causa os elétricos, Heinermann reconhece esta ideia como válida, aludindo uma vez mais para a importância decisiva do Estado. O responsável aponta ainda para um valor de autonomia ideal para os veículos elétricos: 550 quilómetros.

Desaparecerão os automóveis de uso exclusivo?

A esta questão, Joerg Heinermann responde prontamente e sem deixar margem para dúvidas: nunca. “Vemos isso com os clássicos”, exemplifica, remetendo para o facto de que os ainda hoje se encontram automóveis clássicos nas ruas e que existe uma paixão para com estes veículos. O responsável alude ainda para a liberdade que os automóveis pessoais de uso exclusivo, conferem.

O valor sentimental que os automóveis têm para alguns proprietários está também garantido. Como ficou patente, os carros individuais e de uso exclusivo continuarão a fazer parte do modelo de negócio da Daimler ,e Heinermann acredita que a relação entre os proprietários e os automóveis não se vai perder. O responsável estabelece até uma tríade: casa, escritório e viatura. Admite, no entanto, que nem todas as pessoas têm interesse em possuir um carro, o que até é considerado como uma ideia dispensável para alguns.

Com esta visão positiva e de esperança em relação ao futuro e à forma como será a relação entre homens e automóveis, terminou esta conferência. Mas há que destacar a amplitude da visão, pela posição que tem, que foi demonstrada no World Shopper Conference Iberian 2018 por Joerg Heinermann, sendo de destacar a forma como foi demonstrada a interligação entre vários elementos (conetividade, automação, eletrificação, etc) para o que promete ser uma verdadeira revolução na forma como nos movemos e como vivemos . Mais do que apresentar as perspetivas de um gigante como a Daimler, Heinermann ofereceu assim neste evento uma perspetiva de futuro fundamentada pela atualidade da indústria.