Volvo C40 Recharge Twin. Um primeiro passo…

Texto: Francisco Cruz
Data: 16 de Setembro, 2022

Anunciado como o primeiro Volvo desenhado e pensado, de raiz, para ser 100% elétrico, o C40 Recharge Twin resultou naquilo que facilmente se designa de um crossover elétrico a transbordar estilo, a que a soma de um trem de força com 408 cv acaba adicionando alguns genes mais desportivos. Concluindo, dois óptimos argumentos, mas que, ainda assim, não conseguem esconder aquilo que vulgarmente caracteriza qualquer primeiro passo…

Depois do primeiro assomo na Mobilidade Eléctrica concretizado com o lançamento da variante zero emissões do seu já famoso XC40 Recharge, a Volvo acabou dando o verdadeiro primeiro passo nesta nova caminhada, com o lançamento do C40. Um modelo que, embora com muitas semelhanças relativamente ao irmão (quase) gémeo, acaba destacando-se pela maior audácia nas linhas, fruto do posicionamento crossover, com laivos de coupé.

Marcado, assim e desde logo, por uma fórmula cujo sucesso e aceitação já está, nos tempos que correm, mais do que comprovada, é caso para dizer que, pelo menos no que ao aspecto exterior diz respeito, são muitos argumentos capazes de cativar corações. Não apenas fruto da versatilidade anunciada por atributos que vulgarmente cativam em qualquer SUV ou crossover dos dias de hoje, como é o caso da (ligeira) maior altura ao solo, das protecções em plásticos de cor contrastante nos limites da carroçaria,  ou até mesmo das jantes generosas e especialmente aerodinâmicas de 19 polegadas, como também resultado de vários outros predicados a exalarem uma certa vocação mais desportiva.

Foto: Turbo

É o caso, por exemplo e desde logo, do perfil tipo coupé que se prolonga até ao extremo da tampa da bagageira e cuja superfície em vidro, longa, é não somente delineada pelos esguios farolins traseiros que definem a traseira, como integra vários apêndices aerodinâmicos – no topo, dois pequenos spoilers que acabam sobressaindo da linha do tejadilho, ao passo que, na base, uma asa traseira que acaba fazendo sobressair ainda mais o plano cortado com que este Volvo C40 Recharge Twin termina.

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E que, em conjunto com vários outros pormenores, fazem desta secção a zona mais marcante, em termos de design.

INTERIOR

Mas se, por fora, o C40 faz questão de marcar as diferenças face ao “irmão gémeo” XC40, já no habitáculo, é fácil esquecermo-nos de qual o modelo que estamos a conduzir. Uma vez que, tanto os ambientes, como as sensações a bordo, pouco ou nada mudam, independentemente do modelo.

Excepções? Só, talvez, a visibilidade traseira, embora não para melhor. Pois se, no XC40, este já era um aspecto difícil, no C40, só mesmo a presença de câmaras no exterior, nomeadamente, através do opcional sistema de visibilidade 360° em redor do carro, conseguem garantir o evitar de surpresas especialmente desagradável.

Foto: Turbo

Ultrapassado este aspecto, as mesmas qualidades já reconhecidas no XC40, a começar numa construção sólida e com revestimentos não menos convincentes, a contribuírem para uma vivência a bordo na qual sobressaem as boas sensações e a contemporaneidade do design escandinavo. Presente também nos bancos dianteiros, onde o condutor tem reservada uma posição de condução mais alta mas convincente, graças a um banco e volante confortáveis e de amplas regulações, Ainda que, no caso do segundo, com os comandos (físicos ) a não serem, propriamente, um exemplo de intuitividade, na forma como se “relacionam” com o sistema de infotainment.

De resto e apesar da facilidade de acesso ao já emblemático ecrã central tipo tablet de 9″, a promover, a par de um painel de instrumentos também ele totalmente digital e de 12″, a faceta mais tecnológica neste C40, continuámos a sentir dificuldades em interiorizar a forma como se acede e interligam os diferentes menus que integram praticamente todos os sistemas acessórios e de apoio ao conforto e à condução. Ficando bem mais impressionados, por exemplo, com espaço oferecido nos bancos traseiros, onde dois adultos viajam com conforto e espaço suficiente, até mesmo para as pernas.

Já o mesmo não se pode dizer, porém, do suposto lugar do meio, o qual, além de oferecer um assento mais alto e bastante menos confortável, tem ainda de lidar – e aqui está um dos aspectos titubeantes neste primeiro passo… – com um túnel de transmissão bastante saliente. Cuja presença, num modelo que foi concebido, de origem, como um EV e, pelo menos até aos dias de hoje, não contempla qualquer versão com motor de combustão, é difícil de compreender…

Foto: Turbo

Finalmente e no que diz respeito à bagageira, elogios para o amplo e fácil acesso, graças, desde logo, a um enorme portão de accionamento elétrico, mas que não consegue melhorar uma capacidade de carga que não passa do razoável – são apenas 413 litros, mais um alçapão por baixo do piso falso, mas cujo piso irregular acaba limitando a utilização a pouco mais do que para arrumar os cabos de carregamento. Sendo que, no caso de um aumento no número de bagagens, só mesmo rebatendo 40/60 as costas dos bancos traseiros, na horizontal e no seguimento do piso da mala… ou, então, utilizando a pequena bagageira (31 litros) que está alojada sob o capot dianteiro, no local habitualmente ocupado pelo motor de combustão.

MECÂNICA

Embora também disponível entre nós numa variante de apenas um motor elétrico, ou Single Motor, a unidade que tivemos oportunidade de conduzir neste ensaio envergava, contudo, aquela que é a motorização de topo, à disposição neste Volvo C40 – um trem de força composto por dois motores elétricos, dispostos nos eixos, e que, ao mesmo tempo que garantem quatro rodas motrizes, também proporcionam uma potência combinada de 408 cv (204 cv o motor da frente, mais 204 cv o de trás ), a par de um binário máximo conjunto de 660 Nm.

Apoiados numa transmissão de uma só velocidade, este sistema anuncia, ainda, uma capacidade de aceleração especialmente, nomeadamente, fazendo os 0 aos 100 km/h em apenas 4,7 segundos, terminando, em seguida, numa velocidade máxima limitada a 180 km/h.

Foto: Turbo

Quanto à à autonomia, o recurso a uma bateria de iões de lítio com 75 kWh de capacidade útil permite anunciar uma autonomia WLTP em trajecto combinado de 444 km, ainda que, nas nossas mãos, nunca tenha sido possível ir além dos 390 km, com um carregamento completo. Sendo que, a juntar a este facto, registámos, ainda, consumos na ordem dos 22,4 kWh/100 km em trajecto combinado (bem mais, caso estejamos a falar de uma viagem maioritariamente por auto-estrada), também aqui, uma média um pouco mais alta que os 20,7 kWh/100 km prometidos pela marca sueca.

Capaz de acelerações verdadeiramente dignas de respeito, o Volvo C40 Recharge Twin conta, depois e também entre as suas mais-valias, com uma capacidade em termos de potências de carregamento que pode ir até aos 150 kW – e, atenção, porque não é fácil encontrar postos com este nível de potência… -, com a qual consegue repor até 80% da carga das baterias em qualquer coisa como 40 minutos.

Já num posto ou tomada de corrente alternada, uma limitação na potência de carregamento que não ultrapassa os 11 kW e que leva a que este C40 necessite, neste caso, de cerca de oito horas, para repor a totalidade da capacidade das baterias.

Foto: Turbo

TECNOLOGIA

Numa proposta em que a faceta tecnológica não deixa de se destacar, desde logo, fruto da propulsão 100% elétrica, o facto da unidade aqui ensaiada somar ainda um nível de equipamento sempre mais recheado – tratava-se de uma First Edition… -, acabava por, inquestionavelmente, ajudando a reforçar esta mesma perspectiva.

Num habitáculo que, inclusivamente, dispensa a presença de qualquer botão de arranque do sistema de propulsão, bastando ao condutor sentar-se no seu lugar e accionar a manete da caixa de velocidades para colocar o carro em andamento, a presença, já esperada, de um painel de instrumentos 100% digital e com 12 polegadas. Ao qual, em termos de informação, só falta, mesmo, apresentar a autonomia, ao invés de uma pouco elucidativa percentagem de carga ainda existente nas baterias.

Igualmente merecedor de referência, o já aqui citado ecrã central, tipo de tablet, de 9″, que, integrando praticamente todas as funcionalidades complementares, além da capacidade de atualizações sucessivas, também poderia revelar uma maior dose de intuitividade.

Foto: Turbo

Aliás, acessíveis, precisamente, através deste ecrã, surgem tecnologias de apoio à condução como o sistema de alerta de presença no ângulo morto (BLIS), o Cross Traffic Alert que avisa para a passagem de outros carros na traseira, no momento em que fazemos marcha-atrás (pode, inclusivamente, accionar de forma automática a travagem), ou, ainda, o também já referido e verdadeiramente valioso, sistema de captação de imagem em redor do carro (360°). Uma ajuda, sem dúvida, inestimável, em qualquer manobra…

Finalmente, também presente, o sistema de alerta de transposição da faixa de rodagem, a travagem autónoma de emergência, ou, por exemplo, o Cruise Control adaptativo.

AO VOLANTE

Fazendo uso de um trem de força exclusivamente elétrico, com o qual anuncia uma potência combinada acima dos 400 cv, assim como uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em menos de cinco segundos, a primeira certeza que se retira, após os primeiros quilómetros ao volante deste Volvo C40 Recharge Twin, é que, impetuosidade e capacidade para nos fazer suster a respiração, são atributos nunca faltarão, quando aos comandos deste crossover coupé sueco. Ou, pelo menos, sempre que se trate de acelerar a fundo e em linha recta…

Foto: Turbo

Já a partir do momento em que as curvas chegam, tudo muda um pouco de figura, com as mais de duas toneladas de peso, assim como a presença de uma suspensão genuinamente Volvo, a revelarem maiores dificuldades em lidar com a fogosidade do sistema de propulsão. Situação que, mesmo sem colocar em causa a segurança ou estabilidade, não deixa de beliscar o nível de conforto e excelente vivência a bordo que este crossover pode proporcionar.

Aliás e porque, na verdade, não pretende ser um desportivo genuíno, mas, antes, uma proposta competente, também na capacidade de proporcionar alguns momentos de maior adrenalina (na aceleração), é na cidade que este C40 melhor se sente e expressa. Também por ser aí que menos se nota o pouco peso e feedback de uma direcção que, até mesmo como modo desportivo ligado no ecrã central, continua mais vocacionada para a utilização citadina, já para não falar nos melhores resultados conseguidos por um sistema One Pedal que, sendo sinónimo de condução apenas com o acelerador (sempre que se levanta o pé, é o próprio carro que desacelera…), também acaba revelando-se excessivamente agressiva e, dessa forma, desagradável.

Contudo e uma vez desligado, é, sem dúvida, o regresso à tranquilidade, conforto e relaxamento, tudo atributos que tantas vezes são motivo de elogios em qualquer modelo da marca de Gotemburgo. E que, inclusivamente, contribuem para a sua eleição, enquanto propostas de qualidades genuinamente familiares.

Foto:Turbo

Algo a que, diga-se, este Volvo C40 também procura responder, ainda que de uma forma algo… titubeante.

VEREDICTO

Senhor de um porte elegante e linhas cativantes, o Volvo C40 Recharge Twin assume-se como um elétrico de imagem moderna e jovem, além de principalmente citadina. Ambiente onde, de resto e ao óptimo nível de conforto – consequência, também, do bom nível de equipamento -, acaba adicionando um toque de adrenalina na condução, graças a uma capacidade aceleração que não deixa de ser capaz de nos afundar no banco.

Contudo, a verdade é que não é esta a realidade deste crossover de perfil coupé, tal como não serão os possíveis argumentos familiares a fazerem dele a escolha ideal para quem procura um verdadeiro carro de família, ecologicamente sustentável. Limitações que, ainda assim, não deixam de encontrar respaldo e explicação, na natural incerteza que quaisquer primeiros passos sempre trazem…

Foto: Turbo

 

 

Gostámos Gostámos

Conforto

Tradicionalmente um dos bons predicados de qualquer modelo Volvo, o conforto, a par das óptimas sensações a bordo, são, sem dúvida, um dos melhores argumentos patentes neste C40.

Prestações

Presenteado com um sistema de propulsão elétrico de dois motores, a garantirem não apenas tracção integral, como também uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 4,7s, este crossover coupé da Volvo regista prestações capazes de envergonhar muitos pretendentes a desportivo!

Estética

Somando a uma base com origem nos SUV, o sex-appeal tão especial que só os coupés sabem transmitir, o Volvo C40 exibe, assim, uma estética exterior não apenas audaciosa, como também e principalmente, fortemente cativante.

Não Gostámos Não Gostámos

Desempenho desportivo

Apesar de alardeando, ainda no papel, prestações capazes de o fazerem rivalizar com alguns verdadeiros desportivos, a verdade é que, depois e já na estrada, o C40 não consegue um desempenho dinâmico capaz de corresponder às anunciadas prestações. O que é pena…

Visibilidade traseira

Se já no “irmão gémeo” a questão da visibilidade traseira não deixa de colocar algumas dificuldades, neste Volvo C40, mais a sua linha de tejadilho inspirada nos coupé, é caso para dizer que, tentar ver, seja o que for, através do óculo traseiro, é pouco menos que uma missão impossível!…

Direcção

Voltando à faceta mais emocionante que este crossover coupé da Volvo faz questão de transmitir, na aceleração, mas até mesmo nas linhas exteriores, a direcção é, talvez, um dos componentes que mais falham nessa ambição. Destacando-se, sim, mas pela leveza que mostra nas manobras em cidade.


Volvo C40 Recharge Twin

Preço 48 826,00 € (61 594€ a versão testada)

Motor Elétrico (2), síncrono de íman permanente
Potência 408 cv (300 kW)
Binário 660 Nm
Transmissão Integral, Auto., 1 vel.
Peso 2.185 kg
Comp./Larg./Alt. 4,44/2,03/1,59 m
Dist. entre eixos 2,70 m
Mala 413 – 1.205 l

Desempenho 4,7s 0-100 km/h; 180 km/h Vel. Máx.
Consumo combinado 20,7 (22,4*) kWh/100 km
Autonomia Elétrica 444 (390*) km
Bateria/Capacidade Iões de lítio, 78 kWh (75 kWh úteis)
Tempos de carga 40 minutos (0-80% 150 kW CC); 8h00 (0-100% 11 kW AC)

* Medições Turbo

Equipamento
Série: Kit Faróis LED, Jantes de 19”, Tejadilho panorâmico, Portão da bagageira elétrico, Painel de instrumentos de 12”, Ecrã central de 9”, Bancos dianteiros Comfort, Sistema de som High Performance, Carregamento de smartphone sem fios, Sistema de climatização de duas zonas, Direção assistida adaptativa, Sistema de monitorização da pressão dos pneus, Aviso de Colisão Traseira, Assistência ao estacionamento (traseira e dianteira), Câmara de Assistência ao Estacionamento, Cruise Control Adaptativo, Informação de Sinais de Trânsito, Assistência à Manutenção na Faixa de Rodagem e Proteção contra impactos laterais.