Ford Mustang Mach-E AWD. O Sonho Americano

Texto: Francisco Cruz
Data: 13 de Abril, 2022

Depois do impacto causado pela rival Tesla na chegada ao Velho Continente, a também americana Ford procura agora mostrar que, também em Detroit, o Sonho Americano floresce. Na verdade, chama-se Mustang Mach-E AWD e, além de rivalizar com os modelos de Palo Alto nos seus argumentos mais valorizados, acaba, mesmo, suplantando-os noutros domínios, a começar pelo peso histórico do nome que exibe.

Nascido no seio de uma das, hoje em dia, mais antigas famílias automobilísticas do mundo, a Ford Motor Company, a verdade é que este Mustang Mach-E AWD, o primeiro Mustang 100% elétrico, em nada fica a dever, em termos impacto estético, aos modelos da congénere Tesla. Adoptando, inclusivamente, um posicionamento distinto, tipo SUV-Coupé, e que, inclusivamente, fez com que tenha sido, pouco depois da sua apresentação, ainda em 2021, um dos modelos presentes no último passeio SUV da TURBO, um dos modelos mais apreciados pelos muitos participantes que tiveram oportunidade de, também com ele, descobrir alguns dos locais mais deslumbrantes na região do Fundão…

Porque a verdade é que, mesmo com as suas dimensões XXL – são mais de 4,7 metros de comprimento, com quase 3 m de distância entre eixos e uma altura perto dos 1,6 metros… -, este Mustang Mach-E não deixa de revelar uma estética exterior cativante, marcada também por algumas semelhanças com o Mustang original, ainda que e no caso do elétrico, com as diferenças a surgirem numa frente tão sólida quanto impactante, e que mais parece composta por um só elemento, do qual faz parte uma espécie de grelha frontal totalmente fechada e que só o rebordo no cima, além do ‘Pony’ ao centro, denunciam. E a que se juntam depois outros elementos não menos personalizados, como é o caso dos rasgados faróis LED adaptativos e um capot mergulhante, com vários laivos, mas também arqueado nas laterais a contribuir para arcos das rodas salientes a fazerem lembrar os desportivos de outrora.

Foto: Turbo

A dar continuidade a este primeiro impacto, um perfil com uma linha de tejadilho assumidamente coupé, uma linha de cintura fortemente subida, cavas das rodas bem marcadas e generosas, e ombros traseiros igualmente salientes. Tudo isto, numa lateral de estética ondulante, mas não se vê qualquer manípulo para abertura das portas; tão-só, uns pequenos botões colocados nos pilares e acompanhados de pequenas pegas que mais parecem um qualquer elemento aerodinâmico. Com o Mach-E a terminar numa traseira sólida da qual se destacam, principalmente, a reinterpretação mais vanguardista dos tradicionais farolins dos Mustang.

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Também a exemplo do que acontece nos ‘Pony‘ de combustão, a curiosidade da ausência, em qualquer zona da carroçaria em Vermelho Lucid metalizado (opcional, com um preço 1.321 Euros) ou até mesmo do tejadilho em preto, de qualquer alusão à oval azul da Ford. Inclusive, nas generosas jantes de 19 polegadas, com pneus a condizer de medidas 225/55, mas, neste caso, já de série…

INTERIOR

Uma vez descoberta a forma de entrar no habitáculo – a solução passa por destrancar o carro no comando na chave e pressionar o botão no pilar da porta ou, então e no caso do condutor, marcar o código pessoal nos números que se tornam visíveis no pilar… – e transposto o acesso um pouco alto (mais, através das portas traseiras), o percepcionar de linhas muito lineares e até despidas, claramente a procurarem transmitir espaço. Embora com a curiosidade a ser despertada pelo pequeno (10,2 polegadas) painel de instrumentos 100% digital que, após uma animação inicial, passa a exibir o básico das informações relativas à condução, para, em seguida, se fixar no “gigantesco” ecrã central (15,5 polegadas), a imitar um enorme tablet colocado na vertical, solução muito idêntica à que é possível encontrar nos Tesla, embora com a particularidade de ostentar um botão físico mas de gosto algo duvidoso, e que congrega em si todos os sistemas e funcionalidades que permitem a vida a bordo..

Foto: Turbo

Todos? Bom, todos, talvez não, já que o comando rotativo da caixa de velocidade, o interruptor para accionar/desligar o travão de estacionamento e até o botão dos quatro piscas, encontram-se numa confortável consola independente, entre os bancos da frente, e separada do tablier por duas espaçosas prateleiras e porta copos. Mas, tudo o resto… é no gigantesco tablet!

Aliás, já acomodados numa posição de condução um pouco mais alta, fruto de um banco a que só faltará um pouco mais de apoio lateral, mas que ainda assim consegue proporcionar uma fácil integração com o volante também ele revestido a couro e ajustável em altura e profundidade, além de aquecido e com botões físicos, a descoberta de, não só de um bom apoio de pé esquerdo, como também dos curioso manípulos dentro das pegas interiores das portas, que servem para as abrir. Funcionalidade a que se junta o fácil acesso aos poucos elementos para interacção com o veículo, mas também uma visibilidade traseira difícil. E, principalmente, a partir do momento em que os passageiros da segunda fila se instalam, com todo o conforto e espaço, num banco traseiro colocado tipo anfiteatro, ainda que com as costas algo reclinadas em demasia…

Foto: Turbo

Ainda sobre as costas do banco traseiro, elogios para o fácil e prático rebatimento (60/40) na horizontal e no seguimento do piso da bagageira, que permite elevar uma capacidade fixada inicialmente nos 402 litros, para uns bem mais impressionantes 1.420 litros – e com o acesso garantido com um portão de accionamento elétrico -, a que se junta ainda um alçapão por baixo do piso. Mas que, devido à sua pouca altura, só serve para acomodar os cabos de carregamento e pouco mais.

De resto e para quem necessite de mais espaço, existe ainda a famosa ‘Frunk’, ou seja, a bagageira sob o capot dianteiro, a prometer mais 100 litros de capacidade. E, realce-se, com botão para abrir a partir do interior, não vá – acreditam os americanos… – alguma criança esconder-se no seu interior…

MECÂNICA

Disponível em Portugal com duas opções de bateria (75 kWh ou 99 kWh) e dois tipos de tracção (traseira ou integral), o Ford Mustang Mach-E utilizado neste ensaio apresentava um trem de força com base numa bateria de iões de lítio de 98,7 kWh de capacidade útil e tracção integral AWD permanente, sinónimo de dois motores elétricos colocados nos eixos, a garantirem uma potência máxima de 351 cv e um binário de 580 Nm. Valores que acabam permitindo anunciar uma aceleração máxima dos 0 aos 100 km/h em 5,1s e uma velocidade máxima anunciada de 180 km/h, com consumos que a própria Ford fixa nos 18,7 kWh/100 km. E que, na verdade, não ficam muito distantes daquilo que foram os 19 kWh/100 km obtidos por nós, no final deste ensaio.

Foto: Turbo

Quanto a autonomias, a marca da oval azul promete 540 quilómetros, algo que, nas nossas mãos, se mostrou algo optimista, já que, feito um carregamento completo, o melhor que conseguimos foi a promessa de 502 km. Ou seja, o melhor será mesmo contar com um valor à volta dos 480 quilómetros, embora, dependendo sempre, quer do tipo de utilização feita, quer das próprias condições meteorológicas!

Finalmente e quanto a carregamentos, a possibilidade de recorrer a postos de carga rápida com potências até 150 kW, capazes de garantir uma reposição de energia até 80% da capacidade total das baterias em qualquer coisa como 45 minutos. Ou, então, a postos de carga normal (CA) com potências até 10,5 kW, operação em que, no entanto, já serão precisas cerca de 8,5 horas para repor a totalidade da capacidade das baterias. Sendo que, para uma maior eficácia e longevidade da energia existentes nas baterias, existe sempre a opção “One Pedal Driving”, accionável no “tablet”, com qual não só a preservação da energia resulta de forma mais eficaz, como praticamente deixamos de ter de conduzir com o pedal do travão, tal é a forma intensa como o carro reduz assim que levantamos o pé do acelerador…

TECNOLOGIA

Verdadeiro condensado de tecnologia, o Ford Mustang Mach-E AWD tem no já referido tablet XXL a porta de entrada para grande parte das muitas funcionalidades que oferece a condutor e passageiros, ainda que e conforme já referido, o vanguardismo comece ainda antes, sequer, de entrar no habitáculo. Nomeadamente, com a possibilidade de aceder ao habitáculo através de um código numérico, que o condutor pode configurar e digitar nos números iluminados que surgem no pilar da porta, sempre que pretenda entrar no habitáculo… desde que tenha consigo a chave. Sistema que acaba tornando-se uma redundância, dirão alguns, mas, enfim…

Foto: Turbo

Depois e já no interior do Mach-E, o mais recente sistema de informação e entretenimento da Ford, que, mesmo disponível através de um ecrã ‘Extra Large’, não deixa de exigir um certo período de habituação. Tal como, aliás, acontece, com o próprio painel de instrumentos, que, apesar da leitura fácil, revela não somente poucas hipóteses de configuração, como nem sequer exibe em qual dos três modos de condução – Active, Whisper e Untamed – estamos a circular.

Já quanto aos sistemas de segurança e apoio à condução, praticamente todos eles à disposição no ecrã central, a presença de tecnologias como o Controlo Automático de Velocidade Adaptativo (ACC), Radar e Câmara de Assistência na Pré-Colisão e que inclui Aviso de Colisão Dianteira, Assistência Dinâmica à Travagem (DBS), Sistema de Travagem de Emergência (AEB), Alerta/Indicação de Distância (DA/DI) e Assistência Evasiva de Direcção (ESA). Sendo igualmente de elogiar que e a exemplo de praticamente todas as restantes tecnologias, tudo isto surge proposto de série e sem custos acrescidos.

Excepções? Apenas o Pack Tech +, com um custo de 2846€, mas que inclui Sistema B&O Play, abertura e fecho da bagageira mãos livres, Co-Pilot 360º, Sistema de reconhecimento de sinais de trânsito, Câmara 360º, sistema automático de estacionamento e até o ajuste eléctrico dos bancos do condutor em 8 posições com memória, o tecto panorâmico fixo e até os estofos estilo couro Black com pespontos Carbonized Gray.

AO VOLANTE

De resto e fruto, também, de um tal compêndio tecnológico, a começar, naturalmente, pelo sistema de propulsão 100% elétrico, uns primeiros quilómetros em que é o conforto e o bem-estar que rapidamente nos tempera a alma, ainda que a descobrir, logo aí, que, “obstáculos” como as lombas, não são algo que a suspensão independente com multibraços atrás mais aprecie. Ainda assim, a suavidade e silêncio proporcionados por um modo de condução Whisper que se adequa na perfeição a uma condução mais descontraída e relaxante, por exemplo, em cidade.

Foto: Turbo

No entanto e já com os sinais luminosos, além do trânsito mais compacto, para trás, em vias onde é possível adoptar andamentos um pouco mais velozes, a constatação não apenas de uma óptima estabilidade, fruto também da integração das baterias no piso, a promover um baixo centro de gravidade, como também e já não tão positivo, uma direcção que poderia/deveria ser menos filtrada e muito melhor no tacto transmitido. Ou, pelo menos, melhor do que acontece com o pedal de travão – esponjoso e sem muito feedback, exige, sem dúvida, habituação…

Ainda assim e porque se trata de um conjunto a anunciar uma potência máxima acima dos 350 cv, mas também uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em pouco mais de 5 segundos, a oportunidade para, seleccionando o modo de condução mais desportivo, Untamed – ou “Indomável”, em português -, descobrir as qualidades dinâmicas de um conjunto com 2,2 toneladas e que, por vezes, revela uma ligeira tentação para abrir a trajectória em curvas abordadas a velocidades mais elevadas. Isto, para logo em seguida e mediante uma aceleração mais forte à saída da curva, apercebermo-nos de um certo deslizar da traseira, a fazer lembrar certos desportivos de combustão e tracção traseira. Qualidade que, diga-se, não é nada vulgar em veículos 100% elétricos.

Foto: Turbo

De lamentar, é, no entanto, o facto dos modos de condução não permitirem qualquer tipo de personalização da parte do condutor, estando este limitado aos três modos estipulados de origem. Com o intermédio Active a mostrar, apenas, um pouco mais de vivacidade que o Whisper…

VEREDICTO

Depois do impacto causado, junto dos consumidores europeus, pela congénere Tesla, a Ford mostra que o Sonho Americano zero emissões também vive em Detroit, nomeadamente, através deste Mustang Mach-E AWD – um crossover-coupé 100% elétrico que não se resume a um nome carregado de história, ou até mesmo a uma carroçaria que facilmente se insere naquela que é a moda maior entre os consumidores europeus, mas que é também um óptimo familiar, espaçoso e tecnologicamente evoluído, além de com uns certos laivos de desportivo.

Na verdade, de lamentar, mesmo, mesmo, só o preço……

 

Gostámos Gostámos

Imagem exterior

Partindo de uma carroçaria de dimensões generosas e posicionamento tipo SUV-Coupé, o Mustang Mach-E junta tudo isto muitos dos elementos identitários do histórico muscle car Mustang; e não é que resulta?!…

Desempenho dinâmico

Mesmo sem nunca esconder as quase 2,2 toneladas de peso, este Mach-E consegue ostentar um desempenho dinâmico que não é fácil encontrar em muitos elétricos. Aliás, até consegue fazer (ligeiras) derivas de traseira!…

Autonomia

Envergando a maior (e mais pesada) das baterias, o Mustang Mach-E consegue autonomias muito convincentes, que pouco ou nada perdem, por exemplo, para os rivais de Palo Alto. E, isso, só pode ser um óptimo argumento.

Não Gostámos Não Gostámos

Preço

É certo que a Mobilidade Elétrica ainda não atingiu uma economia de escala capaz de fazer baixar os preços dos EV, mas, ainda assim, 71.817€, mais despesas, por um Mustang Mach-E, não deixa de ser muito…

Direcção

Se da travagem já estávamos à espera de pouco feeling no pedal do travão, até porque tal parece ser uma quase inevitabilidade nos EV, a verdade é que já não esperávamos uma direcção tão filtrada como a que fomos encontrar neste elétrico de genes desportivos.

Painel de instrumentos básico

Embora esteticamente bem integrado no habitáculo do Mach-E, onde o enorme tablet tudo domina, o painel de instrumentos 100% digital podia não ser tão escasso em termos de informação.


Ford Mustang Mach-E AWD

Preço 71 817 € (s/despesas ou opcionais)

Motor Elétricos (2), síncronos
Potência 351 cv (258 kW)
Binário 580 Nm
Transmissão Integral, Auto, 1 vel.
Bateria Iões de lítio, 98,8 kWh (88 kWh úteis)
Autonomia 540 km
Peso 2257 kg
Comp./Larg./Alt. 4,71/1,88/1,59 m
Dist. entre eixos 2,98 m
Mala 401 – 1420 l + 100 l bagageira à frente
Desempenho 5,1 0-100 km/h; 180 km/h Vel. Máx.
Consumo 18,7 (19,0*) kWh/100 km
Emissões CO2 0 g/Km
Tempo de carga 45 minutos (150 kW DC, 80%), 8,5 horas (11 kW AC, 100%)

* Medições Turbo

Equipamento
Série: Faróis LED Adaptativos design Mustang, Faróis automáticos e máximos automáticos anti-encadeamento, Jantes de liga leve de 19”, Sistema de abertura de portas E-Lanch, Telefone como chave (Paak), Ar condicionado automático com controlo electrónico da temperatura dupla (DEATC), Ford SYNC de nova geração, Luz ambiente LED multicolor, Painel de instrumentos de 10.2” com ecrã central de 15.5” (incluí função OTA), One Pedal Driving, Poupança de bateria, Suspensão traseira Multi-Link, Barra estabilizadora à frente e atrás, eShifter, Controlo automático de velocidade adaptativo(ACC), Controlo electrónico de estabilidade e tracção (ETC/ESC), My Key 2ª Geração, Alarme, e-Call e Radar/ Câmera Assistência pré-colisão que inclui Mitigação de Colisão Gen2 (Aviso de Colisão Dianteira), DBS (Assistência Dinâmica à Travagem ), AEB (Sistema de Travagem de Emergência ), DA/DI (Alerta de Distância/Indicação de Distância) e ESA (Assistência Evasiva de Direcção).