Mini Cooper SE LCI II BEV 3 portas. Electric Underground

Texto: Francisco Cruz
Data: 17 de Junho, 2022

Produto de uma marca automóvel que tem nos jovens, mas também nalgumas das chamadas tribos urbanas que fazem parte do Underground cultural das grandes cidades, o seu público mais fiel, o Mini Cooper SE BEV é igualmente, a primeira resposta do fabricante àquela que é uma nova tendência, em termos de mobilidade urbana… elétrica. Resta agora saber se convincente…

Primeiro modelo 100% elétrico na oferta da marca britânica que o mercado ficou a conhecer há perto de três anos, o Mini Cooper SE BEV de 3 portas recebeu, ainda em 2021, a sua última atualização (LCI II). A qual acabou centrando-se, principalmente, no design, tecnologia e opções de personalização.

Fruto desta acção e sem perder a linha de continuidade, assim como de ligação ao passado, tão importante na marca fundada por Sir Alec Issigonis, em 1959, o também conhecido como Mini Electric passou, assim, a ostentar uma imagem mais moderna, a começar numa frente com uma grelha frontal quase totalmente fechada e ainda maior, um pára-choques redesenhado e com uma importantes (em termos aerodinâmicos) entradas de ar verticais no lugar dos desaparecidos faróis de nevoeiro, além de ópticas que, mantendo o seu emblemático design circular, passaram a integrar novas luzes diurnas que são também piscas. Isto, ao mesmo tempo que as restantes (máximos e médios) passaram a envergar tecnologia LED.

Foto: Turbo

Já na traseira, a adopção, como equipamento de série em todas as versões, da iluminação que replica o desenho da bandeira inglesa, com o fabricante a manter, igualmente, uma extensa lista de opcionais para personalização. Com o maior destaque a ir para a iniciativa (portuguesa) de personalização desenvolvida no âmbito de uma parceria entre a Mini, o Vhils Studio, a galeria Underdogs e o Festival Iminente, através da qual um total de 25 jovens artistas puderam expressar a sua arte, no tejadilho de um Mini. E cujo resultado podemos admirar no Mini com que pudemos fazer este ensaio e que, ao mesmo tempo, ajuda a explicar o título escolhido…

INTERIOR

Passando ao habitáculo, um número ainda maior de alterações, desde logo, em termos estéticos, com o Mini Electric a, por exemplo, trocar grande parte dos metalizados que sobressaíam no tablier anterior, pelas mesmas molduras e pormenores em plástico negro brilhante, que passaram a figurar também no exterior.

LEIA TAMBÉM
Elétrico com estilo. Mini introduz nova edição Cooper SE Electric Collection

De resto e já que começámos pelo tablier, referência obrigatória ao icónico elemento redondo que albergou em tempos o velocímetro e restantes elementos de informação no Mini, e que, hoje em dia, exibe, além de uma moldura luminosa e cuja coloração vai variando também consoante o modo de condução seleccionado, um ecrã tátil a cores de 8,8” e layout atraente. Mas que, claramente, não é a melhor solução que conhecemos em termos de funcionalidade ou interactividade.

Ainda assim e fruto, igualmente, do último restyling, a presença de um renovado sistema de informação e entretenimento, mas ao qual falta, contudo, um sistema de navegação capaz de mostrar, no mapa, os locais dos postos de abastecimento…

Foto: Turbo

A procurar compensar estas pequenas falhas, das quais faz igualmente parte a já conhecida falta de verdadeiros espaços de arrumação, não somente uma qualidade de construção e de materiais ao nível daquilo que já conhecemos nos produtos do BMW Group, como também uma posição de condução que, não deixando de ser baixa, surge, hoje em dia, bem mais “adulta”. Tendo, mesmo, perdido alguma daquela postura realmente desportiva que chegou a ter.

Contudo e apesar deste “amadurecimento”, a garantia de um bom banco, revestido a couro e tecido, a envolver convincentemente o corpo do condutor, além de a facilitar bem mais o acesso aos principais comandos, que a visibilidade exterior. Algo a que se juntam, ainda, as regulações não muito fáceis ou precisas, mas que, ainda assim, não chegam para prejudicar a boa visibilidade do pequeno painel de instrumentos de 5” e com superfície anti-reflexo (continua a não ser algo que nos convença, em termos de visibilidade…), a conjugar o analógico com o digital.

Relativamente aos restantes ocupantes, a já conhecida dificuldade de acesso aos lugares traseiros, onde apenas dois adultos poderão acomodar-se, com a recomendação antecipada de que não deverão ser de estatura nórdica ou com pernas muito compridas. Isto, porque os 3,86 metros de comprimento não esticam, tal como não esticam os apenas 211 litros de capacidade da bagageira, cujo piso pode, ainda assim, ser colocado numa de duas alturas – ao nível da entrada ou mais baixo. Garantindo, em ambas, um alçapão a toda a dimensão do espaço, ainda que ocupado, em grande parte, pelos cabos de carregamento e kit anti-furos.

Foto: Turbo

Sendo que, a procurar ajudar a maior convencimento, a possibilidade de rebatimento 50:50 das costas dos bancos traseiros, no seguimento do piso… desde que com este na posição mais alta.

MECÂNICA

Praticamente intocado na sequência daquele que foi o último restyling, o Mini Electric mantém, assim, a base mecânica importada do BMW i3 e que surge materializada num trem de força com um só motor elétrico, apoiado numa bateria de 32,6 kWh disposta em T sob o banco traseiro e túnel de transmissão. O qual continua a anunciar 184 cv de potência, 270 Nm de binário, além de uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em 7,3 segundos, com a velocidade máxima a ficar-se pelos 150 km/h.

Quanto à autonomia, a pequena (para a realidade atual) bateria de 28,9 kWh úteis de capacidade acaba não permitindo anunciar mais do que 234 quilómetros, o que já é, por si só, manifestamente pouco, face àquilo que os adversários mais recentes – e nalguns casos menos categorizados – conseguem prometer. Sendo que, nas nossas mãos, a realidade foi ainda mais dura e o Mini Electric não conseguiu prometer mais do que 162 quilómetros, apesar da (boa) média de 16,7 kWh/100 km nos consumos…

Foto: Turbo

Esgotada a energia após uma utilização em que não recusámos todas as oportunidades (em cidade, principalmente…) para circular num dos dois modos de condução mais eficazes (Green+) e em que, mesmo com a potência limitada e sem poder utilizar o ar condicionado, a capacidade de recuperação de energia não foi além dos 4 km, impôs-se a necessidade de ligar o carro à tomada durante, pelo menos, 35 minutos. Isto, caso o carregador à disposição seja de 50 kW, pois, uma tomada AC com apenas 2,3 kW de potência, acaba fazendo disparar o tempo de espera para umas bem mais consideráveis 12 horas!

TECNOLOGIA

Aspecto igualmente revisto com o restyling, o Mini Electric passou, assim, a dispor de soluções de equipamento bem mais completas e atuais, ainda que, em grande parte, opcionais. Algo que, no entanto, não acontece com o renovado sistema de informação e entretenimento, proposto de série e em todas as versões com o já aqui referido ecrã táctil a cores de 8”, que, não sendo a solução mais interactiva, também pelas dimensões, beneficia da permanência e ajuda do comando rotativo Mini Controller. Fácil de operar, ainda que poder dispor de um posicionamento mais acessível.

Já em termos de layout, uma imagem, sem dúvida, atraente e personalizada, embora a revelar a ausência da mais-valia que é poder observar, no mapa do sistema de navegação, a localização dos postos de carregamento nas redondezas…

Foto: Turbo

De resto e ainda neste domínio da tecnologia, é de enaltecer a estreia de tecnologias de apoio à condução como o Aviso de Saída da Faixa ou o Cruise Control com função Stop&Go, estes, sim, propostos enquanto opcionais e parte do Pack Driver Assistance (934,96€). Contribuindo, também, para acentuar a sensação de que já é tempo de disponibilizar, a par do Apple CarPlay, o Android Auto…

AO VOLANTE

Falando da condução, um desempenho que e ao contrário do que se poderia esperar, a opção elétrica não veio alterar de forma significativa, mesmo com o acréscimo de 145 kg no peso daí resultante, elevando, dessa forma, o peso final deste Mini para os 1.440 kg.

No entanto e a procurar atenuar esta pesada realidade, surge aquele que passa a ser o melhor coeficiente de aerodinâmica na gama (0,30), graças não só a uma redução na distância ao solo, dos anteriores 143 mm para 128 mm, como também a soluções como o fecho quase total da grelha frontal e a colocação de uma protecção inferior completa.

Foto: Turbo

Em estrada e com o condutor a beneficiar de uma posição de condução que se mantém baixa, o acréscimo da mais-valia que é a disponibilidade imediata do binário máximo e que, já com o modo Sport seleccionado, se faz notar através de uma mais rápida resposta ao toque no acelerador, com o Mini Cooper SE BEV a responder a esta subida de impulsividade, com uma elogiosa agilidade e envolvimento.

Algo que se nota não apenas entre o trânsito citadino e nas constantes mudanças de faixa, como também em trajectos mais sinuosos, onde a firmeza da suspensão, particularmente perceptível em situações como a passagem por lombas ou pisos mais degradados, passa a rivalizar no convencimento com a direcção, excelente na forma como consegue colocar o conjunto em curva, sem derivas ou necessidades de correcção na trajectória.

Quanto ao maior peso, lembramo-nos dele, apenas nas travagens mais fortes e que, muitas vezes, são resultado de um sistema de travagem cujo pedal sofre do mesmo mal que em grande parte dos elétricos – a falta de feeling

Foto: Turbo

VEREDICTO

Cem por cento elétrico, mas também mantendo a já muito elogiada personalidade que ajudou a fazer do Mini dos tempos modernos, mas também de inspiração alemã, um dos regressos de maior sucesso no sector automóvel, o Mini Cooper SE LCI II BEV apenas precisa de mais autonomia e, porque não, um preço um pouco mais atractivo, para seguir os passos dos irmãos com motores de combustão.

No entanto e enquanto tal não acontece, é não apenas a necessidade de ter um local próprio onde instalar um carregador, como também a pouca autonomia, que acaba colocando reticências quanto à escolha. Pois, no que ao resto diz respeito, é um pouco como diz a sabedoria popular, “não é defeito, é feitio”. Sendo que, não será, certamente, pela vertente elétrica – muito pelo contrário! -, que deixará de ser uma espécie de manifestação de afirmação pessoal, enquanto membro de uma dada corrente underground ou grupo social…

 

Gostámos Gostámos

Comportamento

Mesmo trocando o tradicional motor de combustão, pela propulsão elétrica, a verdade é que o Mini continua exibindo o já muito elogiado desempenho dinâmico, que fazem dele uma das propostas mais divertidas de conduzir depressa. E isso, só pode ser um argumento a seu favor…

Posição de condução

Embora hoje em dia já mais madura e sem muito daquele feeling de puto reguila, o Mini Cooper SE BEV continua, ainda assim, a propor uma das posições de condução mais convincentes que conhecemos e que rapidamente nos faz sentir como parte integrante de um todo que é o carro.

Estética

Sempre foi, também nesta fase atual já sob o mando da BMW, um dos grandes argumentos do modelo. Estando igualmente garantido que, não será pela adesão à Mobilidade Elétrica, que o Mini deixará de ser motivo de paixões profundas e manifestações de afirmação pessoal…

Não Gostámos Não Gostámos

Autonomia

Igual a si próprio em praticamente tudo o resto, é exactamente naquele que é o mais recente passo na sua evolução, a adesão à mobilidade 100% elétrica, que o Mini Cooper SE BEV revela as maiores falhas. Também porque a concorrência, quiçá não tão estatutária ou motivadora, está já, nesse capítulo, vários passos à frente…

Bancos traseiros

Os indefectíveis dirão que “não é defeito, é feitio!”, mas a verdade é que, mesmo num certo Underground que tanto o admira, condicionalismos como o acesso e habitabilidade traseira, são, não raras vezes, razão suficiente para seguir outros caminhos e abdicar da tão desejada concretização do Sonho. Ou, pelo menos, deste Sonho elétrico…

Bagageira

Tal como a versatilidade e habitabilidade traseiras, também a bagageira acaba revelando-se, neste Mini Electric de três portas, elemento dissuasor para muitos potenciais clientes. Os quais, diga-se, nem sequer têm de ser “recém-encartados” em domínios como os da Família ou da Paternidade…


Mini Cooper SE LCI II BEV 3 portas

Preço 41 893,84 € (com opcionais)

Motor Elétrico
Potência 184 cv (135 kW)
Binário 270 Nm
Transmissão Dianteira, Auto., 1 vel.
Peso 1.440 kg
Comp./Larg./Alt. 3,85/1,72/1,43 m
Dist. entre eixos 2,49 m
Mala 211 – 731 l

Desempenho 7,3 0-100 km/h; 150 km/h Vel. Máx.
Consumo combinado 15,2 (16,7*) kWh/100 km
Autonomia Elétrica 234 (162*) km
Emissões CO2 0 g/Km
Bateria/Capacidade Iões de lítio, 32,6 kWh (28,9 kWh úteis)
Tempos de carga 35 minutos (50 kW CC 0-80%); 3,5 horas (11 kW AC 0-100%); 12 horas (2,3 kW AC 0-100%)

* Medições Turbo

Equipamento
Opcionais: Kit reparação de pneus (40,65€), Vidros com proteção solar (243,90€), Sistema ISOFIX (81,30€), Pack Driver Assistance (934,96€), que inclui câmara traseira, sensores de estacionamento traseiros (PDC) e MINI Driving Assistant; MINI Electric Collection 2021 (2.642,28€), que inclui jantes em liga leve MINI Electric Collection de 17”, volante Desportivo em Pele Walknappa, kit de personalização gráfica exterior MINI Electric tejadilho Multitone, exterior Piano Black, forro de tejadilho em antracite, superfície interior em alumínio, iluminação interior Ambiente, faróis adaptativos Full LED Matrix, Connected Navigation, apoio de braços frontal, TeleServices, Serviços ConnectedDrive
Informação de trânsito em tempo real, serviços Remote, integração com Smartphone (Apple CarPlay), MINI Connected, Bluetooth Avançado + Carregamento Wireless + 2* USB, e Sistema de Navegação MINI; e Pack Comfort (569,11€), sinónimo de kit de espelhos exteriores (Inc.Logo Projection+Esp Ext. Anti- Encadeamento), sistema Comfort Access e pack de arrumação.