Houve em tempos um SUV Mercedes, de nome GLK, cujas linhas rectas e arestas definidas acabaram tornando famoso, deixando mesmo saudades, quando, em 2015, acabou saindo de cena. O recentemente lançado crossover 1oo% elétrico EQB 350 4MATIC bem podia ser o seu sucessor…
Produzido de 2008 e 2015, o Mercedes-Benz GLK foi, durante vários anos, o SUV de entrada na oferta da marca da estrela, mas também uma das suas propostas de maior sucesso, consequência de uma carroçaria de linhas rectas, inspiradas no bem maior GL. E, consequentemente, no emblemático Classe G.
No entanto e com a entrada do fabricante em segmentos mais baixos, nomeadamente através do lançamento do Classe A (e respectiva versão crossover GLA) e Classe B, o GLK acabou sendo substituído por um bem mais moderno GLC, deixando os fãs do “quadradinho” orfãos de uma proposta de linhas sem igual. Pelo menos, até meados de 2019, ano em que surgiu um “diferente” GLB, seguido, já em 2022, da sua versão 100% elétrica – o EQB.
Baseado na mesma plataforma MFA II que serve a atual geração de modelos compactos da marca de Estugarda, embora e neste caso adaptada para receber um trem de força exclusivamente elétrico, o Mercedes EQB 350 recupera, ainda que através de uma nova interpretação, mais moderna, as linhas rectilínias que faziam as delícias no GLK. E que se fazem notar, principalmente, quando observado de perfil, com o desenho um pouco mais quadrado das cavas das rodas, a juntar à linha de tejadilho com óculo traseiro saliente (solução que visa, também, “arranjar” espaço para a terceira fila de bancos..), a fazerem lembrar, claramente, outros tempos… e modelos.
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Depois e a juntar a todos os predicados, estéticos e comportamentais, que não podem faltar em qualquer crossover, os pormenores denunciadores de que não se trata, apenas, de mais um SUV, mas de um SUV elétrico. A começar pela grelha frontal, com uma enorme estrela aplicada ao centro, mas totalmente fechada, e com um filete de luz a interligar as ópticas LED High Performance; as jantes de 18″ revestidas por pneus Pirelli Cinturato P7 que, embora mantendo o design AMG da estrela de cinco pontas, também surgem mais fechadas e aerodinâmicas; além de e já na traseira, o desaparecimento de quaisquer vestígios de ponteiras de escape, levando a que o protagonismo passe a pertencer, em grande parte, à iluminação, também ela em LED e a ondular numa traseira de aspecto sólido e marcante.
Ou, pelo menos, quase tanto quanto a do saudoso GLK…
INTERIOR
Recorrendo à mesma plataforma que serve de base, por exemplo, o EQA, embora aqui esticada na distância entre eixos (2,82 m) em mais 10 cm, contribuindo, por exemplo, para que este novo crossover elétrico tenha apenas -4 cm em comprimento do que o irmão maior EQC, o Mercedes EQB acaba replicando, já no habitáculo, muito daquilo que podemos encontrar nos irmãos com motores de combustão. Não apenas em termos estéticos e de design, como também em termos ergonómicos, de qualidade percepcionada e de arrumação, aspectos, todos eles, em óptimo plano..
Assim e num habitáculo onde, em particular nas duas primeiras filas, não falta espaço para os ocupantes, com a segunda a mostrar ainda a mais-valia resultante de uma disposição tipo anfiteatro, mas também uma largura mais adequada para apenas dois adultos (um passageiro no lugar do meio, exige bastante compreensão da parte do próprio… e dos restantes), as também já esperadas limitações, nos dois bancos individuais que compõem a opcional terceira fila (853,66€). Os quais, integrados no piso e de montagem fácil a partir da bagageira, ainda que tendo de accionar, não uma, mas duas alças, convencem bem menos na forma como acomodam os passageiros, com os joelhos muito altos, do que propriamente pelo espaço disponível para pernas; ou não estivesse a segunda fila sobre calhas longitudinais, podendo, dessa forma, ser ajustada 60:40 em profundidade.
Ainda assim, bem pior, quando estamos a a falar de adultos, os quais já têm de debater-se não somente com um acesso difícil e apertado, como com uma saída ainda mais complicada…
Falando da posição de condução, um posicionamento um pouco mais alto, como, de resto, já será expectável num crossover, como forma de beneficiar não só a visibilidade exterior, que neste Mercedes EQB 350 4MATIC tem a visibilidade traseira como aspecto mais limitado (com ocupantes na 2.ª fila, dá-se graças à presença de uma câmara traseira de óptima definição…), como também o acesso a comandos. A começar, pelo volante de ajuste em altura e profundidade, mas também com pega excelente, graças ao opcional AMG Line (3.292,68€), que também garante uma conjugação de botões físicos com os bem menos precisos botões tácteis, e a que se junta, ainda, um banco também ele com todos os ajustes, assim como com um razoável apoio lateral, além de acompanhado de um apoio de pé esquerdo suficientemente firme e pedais em metal, revestidos a material anti-derrapantes…
Igualmente presente, o painel destacado que se prolonga pelo tablier e que integra não apenas o painel de instrumentos 100% digital e configurável, como também um ecrã central de aspecto e layout claramente premium, além de táctil. Sendo que, comandos físicos para interagir com o sistema de infoentretenimento MBUX, só mesmo o já conhecido, mas não muito funcional, touchpad, com uma base de apoio para a mão que é, sem dúvida, o aspecto mais ergonómico de todo o conjunto.
Finalmente e quanto à bagageira, complementada com um portão de accionamento elétrico, apresenta uma capacidade de carga que acaba variando consoante o número de passageiros a bordo, podendo ir dos 465 litros, com duas filas em uso, até aos 1.620 litros de piso plano, com apenas os lugares da frente em utilização. Mas também ver-se reduzida até aos 110 litros, quando com os sete lugares montados, opção que acaba levantando a dificuldade acrescida de ter de encontrar um espaço onde colocar a chapeleira, extensível, sem que prejudique muito o pouco espaço disponível. Sendo que, por baixo desse espaço diminuto, está um alçapão de pouca profundidade, que para pouco mais serve do que arrumar os cabos de carregamento…
MECÂNICA
Mais uma vez e apesar de recorrendo à mesma plataforma das versões com motores de combustão, este Mercedes EQB 350 acaba diferenciando-se de todas elas, pelo simples facto de contar, apenas e só, com um sistema de propulsão elétrico, constituído por dois motores colocados nos eixos e que, além de garantirem um funcionamento do tipo tracção integral, ainda asseguram, em conjunto, uma potência máxima declarada de 292 cv e um binário total de 520 Nm. Tudo isto, com o apoio de uma transmissão de apenas uma velocidade, que, além de explorar convincentemente as capacidades do trem de força, cede ainda as patilhas no volante para a regulação do nível de intensidade (existem dois, D e D+) da acção do sistema de recuperação de energia na desaceleração e travagem. O qual também se adequa em função de alguns aspectos externos, como a distância do carro da frente ou até mesmo a velocidade acima do aconselhável num determinado trajecto, só não demonstrando, também aí, uma eficácia por aí além…
Bem mais convincente, sem dúvida, as prestações, com o nosso Mercedes EQB 350 4MATIC a anunciar uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em 6,2 segundos e que, de resto, se faz sentir na forma como nos pressiona contra o banco, sempre que decidimos fazer uma aceleração totalmente a fundo, já com a ambição de chegar aos 160 km/h que são a velocidade máxima anunciada. Algo para o qual também poderá ajudar a opção pelo modo Sport disponível através do Dynamic Select, cujo botão para seleccionar os modos de condução se encontra junto ao já referido touchpad, permitindo variar entre um modo Eco, para consumos (e respostas) mais contidos, e um modo Comfort, mais vocacionado para uma utilização no dia-a-dia e de forma mais descontraída: Ou, ainda, um modo Individual, a permitir configurar o tipo de resposta da direcção, motor e Controlo de Estabilidade…
Quanto à bateria, a opção por uma solução de iões de lítio, disposta sob os bancos da 2.ª fila, que, com uma capacidade útil de 66,5 kWh, permite anunciar não somente uma autonomia elétrica de 420 km, como um consumo médio de 18,4 kWh/100 km. Tudo valores oficiais, tal como é a promessa de um tempo de carregamento de apenas 32 minutos, quando num posto de carga rápida até 100 kW, ou de 5,75 horas, se numa tomada capaz de debitar potências até 11 kW.
Já no nosso caso, um consumo médio que se situou nos 21,1 kWh/100 km e que fez com que a autonomia garantida por uma carga completa tenha ficado pelos 350 km. Embora, também com a certeza de que, se tivéssemos adoptado uma condução de muito maior exploração das capacidades dinâmicas do EQB, os consumos seriam bem mais altos e a autonomia cairia ainda mais…
TECNOLOGIA
Tratando-se daquela que, à partida, será a motorização elétrica mais potente à disposição neste EQB, torna-se igualmente natural o facto do nosso crossover surgir muito composto, em termos tecnológicos. Ainda que tal também não signifique a dispensa da necessidade de recorrer à usualmente longa lista de opcionais.
Ainda assim, garantidas estão, à partida, tecnologias como a manutenção activa na faixa de rodagem, travagem autónoma de emergência, Chamada de Emergência (e-Call), sensores de luz e de chuva, Cruise Control, monitorização da pressão dos pneus, Assistência à Manutenção da Velocidade, assistente de máximos, o já conhecido sistema multimédia MBUX com o já não tão convincente touchpad com o comando Controller, ou até mesmo o já referido sistema de modos de condução Dynamic Select. Sendo que, graças à presença, também sem custos acrescidos, do pacote Advanced Plus, torna-se igualmente possível dispor de assistência de ângulo morto, a instrumentação totalmente digital, o ar condicionado automático THERMOTRONIC, um sistema de som de melhor qualidade, Media Display, carregamento wireless para smartphones, acesso e arranque sem chave, portão da bagageira de accionamento elétrico e assistência ao estacionamento PARKTRONIC.
Pelo contrário e já a exigir investimento extra, elementos como a pintura exterior metalizada (650,41€), o tecto de abrir em vidro de duas zonas (1.178€), e os pacotes Navigation Connectivity (121,95€), sinónimo de pré-instalação para serviços de navegação com disco rígido, e Premium (1.219,51€), garantia de iluminação exterior com projeção do logótipo da marca e bancos dianteiros aquecidos.
AO VOLANTE
Proposto de série com uma mais permissiva suspensão Comfort, o “nosso” Mercedes EQB 350 mostrou-se uma proposta capaz e apta para uma utilização intensiva no dia-a-dia, marcada, logo à partida, por um bom nível de conforto, inclusive, para o próprio condutor. Conquistado, igualmente, por uma boa integração no cockpit, acompanhada de uma visibilidade para exterior facilitada, em muito, pelas câmaras, assim como de uma direcção eletricamente assistida que, embora sem grande capacidade de informação, consegue agradar, em particular, nas voltas em cidade.
Aliás, é precisamente pelas avenidas e ruas mais movimentadas que o EQB melhor se sente, com o conjunto a conseguir agradar não somente pelo nível de compostura com que enfrenta as sucessivas mudanças de faixa, na fuga aos veículos mais lentos, mostrando igualmente uma boa integração do acréscimo de peso resultante da presença das baterias, como também por uma capacidade de aceleração que facilmente lhe permite fugir de situações de maior aperto, assim haja escapatória. Sendo que o mesmo acontece já em estradas mais sinuosas, onde o aumento da velocidade não belisca a estabilidade ou as trajectórias. Neste último caso, graças também à acção da tracção às quatro rodas 4MATIC.
Finalmente, é também fruto de soluções como estas que o crossover alemão 100% elétrico acaba conseguindo aventurar, com relativo à-vontade, por muitos caminhos fora de estrada, onde, desde que com um grau de dificuldade que não chegue ao exagero, limitará mais a preocupação com um possível risco na carroçaria, que propriamente os argumentos técnicos e tecnológicos do conjunto.
VEREDICTO
Recuperando alguma da beleza muito própria que o saudoso “quadradinho” exibia, a verdade é que este Mercedes EQB 350 4MATIC é algo de substancialmente diferente, vivendo numa outra realidade, mais tecnológica, mais preocupada com o Ambiente, mais… exigente.
Posicionamento demonstrado, de resto, não apenas e também no habitáculo, cujo nível de percepção de qualidade e bem estar facilmente convence, como até mesmo no argumento extra que podem ser os dois lugares a mais, na opcional terceira fila. Ainda que, claramente e a exemplo de muitas outras propostas do género, mais vocacionados para crianças e adolescentes… o que, neste caso, torna ainda mais “pesados” os quase 75 mil euros que este EQB custa!
Tudo isto, com a “machadada final” a ser dada pelo sistema de propulsão, que, do Diesel e gasolina do já desaparecido GLK, passou, neste caso, para o 100% elétrico e zero emissões. Solução que, numa utilização do dia-a-dia e familiar, claramente traz vantagens, desde que, claro está, os seus proprietários tenham um local próprio, e não apenas público, onde o carregar…
Gostámos
Desempenho dinâmico Com um acréscimo de peso resultante da integração das baterias e, ainda para mais, sem uma qualquer suspensão adaptativa, surpreendeu-nos, sem dúvida, o dinamismo, com compostura, revelado por este EQB 350 4MATIC, mesmo quando por trajectos mais sinuosos . |
Conforto Assumindo-se como uma proposta verdadeiramente familiar, ainda para mais, quando com a terceira fila de bancos, este crossover alemão apresenta vários argumentos que justificam tal posicionamento. A começar, pelo óptimo conforto. |
Estética É, certamente, um daqueles aspectos que maior subjectividade encerram, mas a verdade é que, pelo menos a nós, este Mercedes EQB “caiu-nos no goto”, muito por culpa de umas linha exteriores que recuperam recordações de outros saudosos tempos… |
Não Gostámos
Visibilidade traseira Limitação cada vez mais desvalorizada, especialmente a partir do momento em que as câmaras traseiras se tornaram (quase) vulgares, para nós, continua a ser um aspecto que é preciso não descurar. Até porque a tecnologia pode avariar em qualquer momento e uma correcta visibilidade traseira também contribui para a segurança… |
Terceira fila Apresentada como um dos principais argumentos neste Mercedes EQB 350 4MATIC, a verdade é que esta terceira fila não nos convenceu totalmente – não somente devido à forma pouco confortável como acomoda os ocupantes, mas também porque, afinal, até é paga à parte, contribuindo para os 75 mil euros que o “nosso” EQB custava… |
Consumos Embora distante dos mínimos exigidos para os dias de hoje, a autonomia real oferecida por este EQB (conseguimos 350 km, a marca promete 420 km) não deixa de ser substancialmente abaixo do prometido. E a culpa é, sem dúvida, dos consumos que, especialmente com uma condução mais descontraída, como foi o caso, poderiam/deveriam ser mais contidos… |
Mercedes EQB 350 4MATIC
Preço 74 499,99 € (preço da versão ensaiada)
Motor 2, elétricos, assíncrono à frente, síncrono atrás
Potência combinada 292 cv (215 kW)
Binário combinado 520 Nm
Bateria Iões de lítio, 66,5 kWh de capacidade útil
Autonomia WLTP 420 (352 km*) km
Transmissão Integral, Auto., 1 vel.
Peso 2175 kg
Comp./Larg./Alt. 4,68/1,83/1,67 m
Dist. entre eixos 2,82 m
Mala 110 – 465 – 1620 l
Desempenho 6,2s 0-100 km/h; 160 km/h Vel. Máx.
Consumo 18,4 (21,1*) kWh/100 km
Emissões CO2 0 g/Km
Tempos de carga 32 minutos (100 kW DC, 0-80%), 5,75 horas (11 kW AC, 100%) e 9 horas (7,4 kW, 100%)
* Medições Turbo
Equipamento
Série: Manutenção activa na faixa de rodagem, travagem autónoma de emergência, Chamada de Emergência (e-Call), sensores de luz e de chuva, Cruise Control, monitorização da pressão dos pneus, assistência à manutenção da velocidade, assistente de máximos, protecção de pedestres, sistema multimédia MBUX com touchpad Controller, Dynamic Select, assistência de ângulo morto, instrumentação 100% digital, ar condicionado automático THERMOTRONIC, bancos desportivos, Media Display, carregamento wireless para smartphones, acesso e arranque sem chave, portão da bagageira de accionamento elétrico e assistência ao estacionamento PARKTRONIC.