Tendo iniciado a electrificação pelas gamas médias e superiores, a verdade é que a Mercedes-Benz não poderia deixar de fora, deste novo paradigma, os mais pequenos. Foi assim que nasceu o EQA, pequeno crossover elétrico de base GLA e que, de resto, leva, ainda mais além, a vocação citadina deste último!
Numa altura em que as pressões políticas e ambientais desencadeiam uma espécie de caça ao Automóvel, apontando-o como um dos grandes responsáveis pela poluição no Planeta, a resposta, da parte do sector automóvel, tem passado, preferencialmente, pela afirmação da Mobilidade Elétrica. Seja através do lançamento de produtos, concebidos de base, para esta nova realidade ou, como fez de início a Mercedes-Benz, adaptando arquitecturas originalmente pensadas para albergar motores de combustão.
Foi, aliás, dessa forma, que nasceu o primeiro modelo 100% elétrico de produção e comercialização em massa da marca da estrela, o EQC, variante 100% elétrica daquele que é um dos SUV de maior sucesso na oferta do construtor, o GLC. Sendo que, foi também assim que nasceu este EQA, espécie de versão eléctrica e zero emissões do já popular pequeno crossover Mercedes GLA. Com o qual, de resto, partilha não somente a plataforma, como também praticamente toda a base técnica.
Aliás e começando esta análise, como também já é hábito, pelo aspecto exterior, a verdade é que, nem mesmo as opções estilísticas distintas, que dotam o crossover Mercedes EQA de um visual mais moderno e até futurista – veja-se, por exemplo, a grelha frontal maior e totalmente fechada, o desenho das jantes ou a barra de luz que liga os dois farolins… -, conseguem disfarçar as fortes semelhanças entre os dois modelos. Com os fortes laços a expressarem-se, não apenas na já referida partilha da plataforma MFA 2, mas, principalmente e de forma mais visível, nas semelhanças em termos de dimensões exteriores – 4,46 m de comprimento no EQA, contra 4,41 m no GLA, sendo que, a partir daí, não há quaisquer diferenças, com ambos os modelos a ostentarem uma largura fixada nos 1,83 m, assim como uma distância entre eixos de 2,72 m e, até, coeficiente de aerodinâmica – 0,28 Cx. Isto, apesar do EQA ser “um cabelo” mais alto (1,62 m) que o GLA (1,61 m)…
INTERIOR
Passando ao habitáculo, a mesma sensação de ‘déjà vu’ para quem já manteve contacto com o GLA, com a Mercedes a optar por mexer o menos possível. Mantendo, inclusivamente, como principal elemento de destaque, o prolongado painel negro que alberga os dois ecrãs 100% digitais – painel de instrumentos e ecrã central parte do sistema de infoentretenimento MBUX – e a que se junta uma profusão de aplicações em metal brilhante, com destaque para as atraentes saídas de ar metalizadas.
Num ambiente em que a qualidade se sente, destaque, igualmente, para um volante, não apenas uma óptima pega e regulável em altura e profundidade, como também a procurar transmitir uma certa imagem mais estatutária. Afirmação feita, também aqui, através do recurso às superfícies metalizadas, nos braços, onde não faltam, igualmente, comandos – físicos, tácteis, numa conjugação de soluções que, quer pela interacção, quer pelo modo de funcionamento, obriga a algum tempo e dedicação para interiorizarmos o seu funcionamento…
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Mas se o condutor dificilmente poderá queixar-se da posição de condução, até pela ampla e fácil regulação de volante e banco (o qual tem, inclusivamente, ajuste em comprimento do assento), nomeadamente, face aos pedais e acesso à generalidade dos comandos, também os restantes ocupantes não deverão sentir grandes diferenças, por exemplo, face àquilo que é a habitabilidade no mais poluente GLA. Com a maior e principal diferença a surgir, não no espaço agradável para pernas e em altura, ou até mesmo na maior limitação em largura, mas, sim, na diminuição da altura a que estão os assentos traseiros, face ao piso. Situação que deriva da colocação das baterias no piso e que obriga os passageiros a viajarem com os joelhos mais altos sinónimo de uma posição mais desconfortável. E, isto, já depois de terem sido confrontados, também devido às portas mais curtas, com um acesso ao habitáculo mais apertado e alto…
Finalmente e no que diz respeito à bagageira, perdas, igualmente, na capacidade de carga, com o EQA a anunciar menos 95 litros que o GLA, ou seja, 340 litros no primeiro, contra 435 do segundo. Sendo que o mesmo acontece com as costas dos bancos traseiros rebatidas 60/40 no seguimento do piso da mala, com o elétrico a anunciar 1.320 litros, contra 1430 litros do modelo de combustão.
Por baixo do piso falso, um alçapão não muito fundo e onde já está o kit anti-furos, sendo que, os cabos, têm direito a bolsas de arrumação próprias, presas às laterais do espaço, ao qual também não falta um acesso amplo e bom plano de carga…
MECÂNICA
Abdicando de qualquer motor de combustão, o Mercedes-Benz EQA recorre, sim, a uma solução de propulsão traduzida num só motor elétrico, a anunciar 190 cv de potência e 375 Nm de binário. E que, em conjunto com uma bateria de iões de lítio, com 78,8 kWh de capacidade (66,5 kWh de capacidade útil), consegue anunciar, também graças a um sistema de tracção apenas dianteira, acelerações dos 0 aos 100 km/h em 8,9 segundos, assim como uma velocidade máxima anunciada de 160 km/h.
Em termos de consumos e embora a marca da estrela fale em médias de 17,9 kWh/100 km, nas nossas mãos, o EQA não conseguiu melhor que 19,8 kWh/100 km. O que veio colocar a autonomia real, com uma só carga, em cerca de 380 km, ao invés dos 418 quilómetros oficialmente prometidos.
Ainda assim, elogios para o sistema de recuperação de energia na travagem, cuja intensidade pode ser regulada, de forma manual, pelo condutor, através das patilhas no volante, com o nível máximo a permitir-nos conduzir quase como se de um e-pedal se tratasse, tal é a intensidade da recuperação. Mas, atenção: ao contrário de outras soluções, aqui, o sistema não imobiliza o veículo, pelo que é preciso sempre colocar o pé no pedal…
Quanto a carregamentos, a Mercedes fala em cerca de 5,75 horas, para repor a capacidade total das baterias, quando recorrendo a uma potência de carga na ordem dos 11 kW. Demora que, no entanto, pode cair para apenas 30 minutos, no caso de termos à disposição uma tomada de 100 kW.
TECNOLOGIA
Marcado (também) pela tecnologia, o EQA faz do conhecido sistema MBUX um dos seus cartões de visita, quando no habitáculo, com os dois ecrãs 100% digitais – painel de instrumentos e sistema de infoentretenimento -, ambos de 10,25″, a congregarem grande parte da atenção… assim como algum tempo para descobrir tudo aquilo que podem proporcionar.
Também presente e no apoio às muitas funcionalidades que o MBUX proporciona, surge um touchpad, disposto na consola entre os bancos, mas que dificilmente poderá ser considerado a melhor opção para, durante a condução, operar o sistema de infotainment. Sendo, por isso, fácil, deixarmo-nos levar na tentação de experimentar os comandos vocais e proferir o hoje em dia já muito famoso “Olá, Mercedes”. Ainda que e conforme viemos, mais uma vez, a constatar, o nível de compreensão do sistema, relativamente ao português falado, continue a pedir alguns melhoramentos…
Já no domínio da segurança e apoio à condução, destaque para a presença de elementos como o pack Parking com câmara de marcha-atrás, assistente de ângulo morto, assistentes activos de faixa de rodagem, travagem e limite de velocidade, Cruise Control, Dynamic Select, faróis LED High Performance, sistema de controlo da pressão dos pneus e suspensão Conforto.
AO VOLANTE
Marcado por uma suspensão que, em cidade, se mostra ligeiramente mais firme do que o esperado e à qual se junta uma direcção convincente no reboliço citadino, é, assim, neste ambiente de agitação constante, que o crossover Mercedes-Benz EQA melhor se sente e expressa. Aproveitando ainda uma capacidade de aceleração que até se destaca mais pela progressividade, do que pela já esperada rapidez, ainda que sem conseguir disfarçar totalmente o peso acrescido resultante da aplicação das baterias e que levam a que este pequeno crossover anuncie um peso total acima das duas toneladas…
No entanto e a contribuir para uma maior versatilidade, a presença de um sistema de modos de condução com quatros opções – Eco, Comfort, Sport e Individual – e cujas diferenças na actuação se fazem sentir, nomeadamente, através da resposta do acelerador, nível de assistência da direcção, e até mesmo na velocidade máxima disponível – 130 km/h em Eco, 160 km nos restantes. Sendo que, imutável, é o quase inexistente tacto no pedal do travão e que obriga, inclusivamente, a atuação mais enérgica sobre o mesmo, sempre que necessitamos de imobilizar mais rapidamente o crossover alemão.
De resto, diferente é também a resposta do EQA, quando decidimos abandonar a cidade e dedicarmo-nos à estrada aberta. Com o modelo alemão a destacar-se, então, não somente por uma maior penalização nas autonomias, quando em auto-estrada – um mal, aliás, de que padecem todos os eléctricos… -, como também e já em trajectos mais sinuosos, por um desempenho não tão… convincente: firme em cidade, a suspensão passa a deixar transparecer uma maior permissividade a transferências de massas, ao passo que a direcção, “perde” a necessária precisão, enquanto o sistema de tracção, começa a denotar algumas dificuldades em que colocar toda a potência disponível, no alcatrão.
Solução? Simples! Basta, apenas, levantar o pé do acelerador do Mercedes e, assim que possível, regressar à cidade, que é onde este crossover EQA – e quase todos os veículos elétricos, na verdade – melhor se sente…
VEREDICTO
Espécie de versão 100% elétrica do popular GLA ou não partilhasse com este grande parte das soluções técnicas, o crossover Mercedes-Benz EQA é, não apenas mais um passo da marca da estrela no caminho da electrificação, como também a forma mais citadina de poder disfrutar de um Mercedes zero emissões, mantendo os atributos que o mantêm como membro de pleno direito, quer da família Mercedes, quer do segmento premium.
Impulsionado por um sistema eléctrico convincente… e competente, a que junta ainda muitas características do irmão a combustão, é caso para dizer que, nem mesmo o facto de ser uma adaptação (em termos de plataforma), ou até mesmo o preço, elevado, lhe tiram argumentos. Afinal, embora compacto e eléctrico, não deixa de ser premium… e os pequeninos também merecem!
Gostámos
Sistema elétrico Sem perder a disponibilidade e capacidade de aceleração características dos elétricos, o Mercedes EQA junta a isso uma progressividade e linearidade na evolução, que rapidamente se elogia. Tal como, aliás, se elogia o funcionamento do sistema de recuperação de energia. |
Modos de condução Contando, a exemplo de muitas outras propostas, com um sistema de modos de condução, a diferença, neste EQA, é que, não só a intervenção do sistema Dynamic Select se faz notar, como é perceptível a diferença entre as várias soluções. |
Conforto Propondo uma habitabilidade muito semelhante à do irmão a combustão GLA, o crossover Mercedes EQA acrescenta a este aspecto, um bom nível de conforto, nomeadamente, em cidade. |
Não Gostámos
Travagem Embora, hoje em dia, seja já quase uma característica dos veículos elétricos, a verdade é que, no caso deste Mercedes EQA, quer a ausência de feeling no pedal do travão, quer a exigência de maior pressão, sobre este mesmo pedal, em caso de necessidade de imobilização mais rápida do crossover, surpreendeu-nos. |
Profusão dos comandos Especialmente no caso do volante, onde a profusão e diversidade no funcionamento de comandos e botões é maior, a necessidade de parar, olhar em volta, centrar ideias e testar, foi, claramente, algo que tivemos de colocar inicialmente em prática… |
Bancos traseiros Sem problemas de maior no GLA, a necessidade de acomodar baterias, nomeadamente, no piso, acabou prejudicando o conforto dos ocupantes nos bancos traseiros do EQA, que aqui viajam numa posição cansativa, com os joelhos muito subidos. |
Mercedes EQA 250
Preço 57.750 €
Motor Eléctrico assíncrono
Potência 190 cv (140 kW)
Binário 375 Nm
Bateria Iões de lítio, 78,8 kWh (66,5 kWh de capacidade útil)
Autonomia WLTP 424 km (396 km*)
Transmissão Dianteira, cx. auto. 1 vel.
Peso 2040 kg
Comp./Larg./Alt. 4,63/1,83/1,62 m
Dist. entre eixos 2,73 m
Mala 340 – 1320 l
Desempenho 8,9s 0-100 km/h; 160 km/h Vel. Máx.
Consumo 17,9 (19,8*) kWh/100 km
Emissões CO2 0 g/Km
* Medições Turbo
Equipamento
Série: Pack Progressive (barras de tejadilho em alumínio, volante multifunções em pele, estofos em Pele ARTICO/Tecido Preto, acabamentos interiores em look Espiral e jantes em liga leve de 5 raios de 18″), eixo multi-link, protecção de peões, sensor de chuva, sistema de reparação de pneus, Ar condicionado automático THERMATIC, Patilhas de passagem de caixa no volante, pack Advanced (pack Espelhos, painel de instrumentos digital de 10,25″, ecrã central de 10,25″, iluminação circundante com projeção do logo, pack parking com câmara de marcha-atrás e assistente de ângulo morto), Assistente activo de faixa de rodagem, Assistente activo de travagem, Assistente de Limite de Velocidade, Cruise control, Dynamic Select, câmara para marcha-atrás, assistente adaptativo de máximos, faróis LED High Performance, função de aviso na saída, funções avançadas MBUX, Live Traffic Information, Módulo de comunicações LTE Mercedes me, pack Parking com câmara de marcha-atrás e assistente de parqueamento Parktronic, sistema de controlo da pressão dos pneus e suspensão Conforto.