Kia Rio 1.0 T-GDi ISG Wave. Em busca do melhor compromisso

Texto: Carlos Moura
Data: 11 de Fevereiro, 2022

Sem ser uma das propostas tecnologicamente mais avançadas da categoria, o Kio Rio Wave procura oferecer o melhor compromisso entre habitabilidade, equipamento e preço. Uma ligeira atualização na imagem e uma profunda renovação na linha motriz são as principais alterações introduzidas recentemente pela Kia no utilitário Rio.  Serão estes argumentos suficientes num segmento tão competitivo?

Representante da Kia no segmento mais competitivo do mercado nacional, o dos utilitários, o Rio procura conquistar um lugar de destaque na categoria, mas a tarefa está longe de ser fácil porque tem de se bater com concorrentes de peso, como o Renault Clio, o Peugeot 208, o Ford Fiesta, o o Nissan Micra, o Volkswagen Polo ou mesmo o Hyundai i20, entre muitos outros.

Para fazer a diferença, o Kia Rio procurou, desde sempre, oferecer o melhor compromisso entre habitabilidade, equipamento e preço, e, assim, ultrapassar algum déficit de imagem para os padrões europeus.

A atual geração deste modelo, a quarta, foi lançada em 2017, com uma nova plataforma e motores turbo para melhorar a agradabilidade de condução. A imagem exterior também foi renovada para ir mais de encontro ao gosto dos europeus, enquanto o habitáculo foi igualmente rejuvenescido para proporcionar uma maior funcionalidade.

Mais recentemente, este modelo recebeu uma atualização de meio de ciclo de vida, que, a nível estético, incluiu a adoção da nova imagem de marca da Kia no capot, numa secção frontal que continua a ser dominada por uma grelha esguia e pára-choques largos.

Mais profunda foi a atualização mecânica, com a introdução de uma nova linha motriz, denominada “EcoDynamics+”, que combina um motor turbo a gasolina “Smartstream” de 998 cc com tecnologia híbrida suave de 48V (mild-hybrid) e uma nova caixa de velocidades manual inteligente (iMT), com sistema de embraiagem eletrónica.

No mercado nacional, o Kia Rio 1.0 T-GDI de 100 cv é proposto em dois níveis de equipamento, Wave e Drive, esta última com caixa de velocidades manual ou de dupla embraiagem com sete relações. A unidade ensaiada corresponde à “versão” de entrada, associada a esta motorização.

INTERIOR

Graças a dimensões exteriores com comprimento de 4,06 metros, largura de 1,73 metros, altura de 1,45 metros e a uma distância entre-eixos de 2,58 metros, os engenheiros da Kia conseguiram projetar um habitáculo com um espaço bastante aceitável, quer à frente, quer, sobretudo, atrás, onde os ocupantes não têm de ir com os joelhos encostados às costas do assento dianteiro.

Os lugares traseiros permitem, em teoria, transportar três passageiros, mas dificilmente conseguirão viajar confortavelmente porque irão apertados. O assento do meio é mais adequado para uma criança ou um adulto de estatura menos elevada. Por outro lado, como o piso é praticamente plano não terá problemas em acomodar os pés.

Para garantir maior competitividade face aos principais concorrentes, o interior do Rio Wave não oferece um grande requinte nem sofisticação. Portanto não será de estranhar que não se encontrem materiais suaves ao toque ou um acabamento premium. Na verdade, com exceção de um friso no painel de bordo, todos os plásticos são duros, embora sólidos e resistentes.

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Ao contrário do Hyundai i20, do Ford Fiesta ou do Volkswagen Polo, não está disponível, nem mesmo em opção, um painel de instrumentos digital, mas, ao menos, os mostradores analógicos são de fácil leitura.

Os bancos possuem um design agradável, sendo possível regular o do condutor em profundidade e altura, mas não possui ajuste lombar. Por outro lado, a coluna da direção é apenas regulável em inclinação.

A generosa habitabilidade tem um impacto ao nível da bagageira, que não vai além dos 325 litros com os bancos traseiros em posição normal, mas mesmo assim ainda tem mais capacidade que os 300 litros do Nissan Micra, podendo ser ampliada até aos 1103 litros com o rebatimento total dos assentos.

MECÂNICA

Por baixo do capot, o Kia Rio conta como importante novidade a linha motriz “EcoDynamics”, que combina um novo motor a gasolina sobrealimentado de injeção direta de 998 com um sistema híbrido suave (mild-hybrid) para maximizar a eficiência com assistência elétrica ao binário.

O sistema híbrido suave emprega um motor de arranque / gerador em substituição do alternador tradicional e permite recuperar e armazenar a energia das desacelerações e das travagens para carregar uma pequena bateria de polímero de iões de lítio de 48V, que depois é utilizada para aumentar o binário do motor.

A nova unidade microhíbrida de motor de arranque / gerador está ligada por uma correia à cambota e vai alternando entre os modos “motor” e “gerador”. No primeiro, em aceleração, o sistema híbrido suave proporciona assistência elétrica à potência para reduzir a carga do motor e as emissões. Nas desacelerações, o sistema tem a possibilidade de em determinadas condições mudar para o modo “gerador”, recuperando energia a partir da cambota para carregar a bateria.

O novo motor Smartstream veio substituir o anterior motor Kappa 1.0 T-GDi e está equipado com tecnologia de temporização da válvula variável contínua (CVVT), que possibilita ao motor alternar a sincronização da válvula em função da carga, maximizando a eficiência em todas as situações de condução.

O motor Smartstream desenvolve o mesmo nível de potência do anterior Kappa, que no caso da unidade ensaiada é de 100 cv entre as 4000 e as 6000 rpm, mas oferece uma redução das emissões entre 8,1% e 10,7% em ciclo combinado NEDC.

O motor de três cilindros com 998 cc está associado a uma nova caixa manual de seis velocidades, denominada iMT (intelligent Manual Transmission). A tradicional ligação mecânica à embraiagem foi substituída pela eletrónica, contribuindo para melhorar a eficiência do sistema híbrido suave e diminuir as emissões, mantendo a agradabilidade de condução de uma transmissão automática convencional.

Em termos de prestações e atendendo a peso em vazio de 1175 kg, os valores estão longe de ser propriamente fulgurantes, com a marca a anunciar uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 10,4 segundos e uma velocidade máxima de 188 km/h. O consumo médio em ciclo WLTP é de 5,3 l/100 km e emissões de 126 g/km.

TECNOLOGIA

Com exceção do ecrã tátil de 8,0 polegadas e do volante multifunções que permite aceder aos dados do computador de bordo, ativar o limitador de velocidade / regulador da velocidade de cruzeiro ou ao sistema de audio, o Kia Rio Wave está longe de ser um dos veículos tecnologicamente mais avançados do mercado.

Isso permite à marca assegurar a competitividade deste modelo, que está disponível por 16.175 euros com campanha de financiamento e 20.450 euros sem a mesma. Uma oferta mais abrangente está contemplada no nível de equipamento Drive e o acréscimo de preço é de apenas 250 euros, com financiamento.

Localizado na consola central, o sistema de infoentretenimento da Kia com ecrã tátil permite o acesso ao sistema de audio e a ligação a dispositivos móveis através de Apple CarPlay ou Android Auto, uma funcionalidade útil, já que o sistema de navegação não faz parte do equipamento de série. O ecrã transmite igualmente as imagens captadas pela câmara traseira.

Por baixo do ecrã tátil encontram-se alguns botões físicos que, por exemplo, permitem alternar rapidamente entre o rádio e o dispositivo de media. Os menus, por seu lado, são claros e respondem com rapidez.

A dotação de série do Rio Wave inclui ainda ar condicionado automático, sensores de luz e chuva, retrovisores retráteis eletricamente, Bluetooth mãos livres com reconhecimento de voz, encostos de cabeça ativos, entre outros.

AO VOLANTE

O condutor não tem grandes dificuldades em encontrar a posição mais confortável atrás do volante, graças às possibilidades de regulação do banco em altura e profundidade. A regulação lombar não está disponível, mas esta omissão é bastante comum neste segmento. A alavanca da caixa de velocidades está ao fácil alcance da mão e todos os comandos principais estão bem localizados e facilmente acessíveis.

Graças aos pilares dianteiros relativamente finos, a visibilidade dianteira e lateral é bastante boa, mesmo nos cruzamentos mais “manhosos”. A visibilidade traseira não é tão boa devido à forma arredondada do óculo traseiro nas partes laterais e à espessura do pilares, dificultando as manobras de estacionamento. Esse constrangimento é ultrapassado no Rio Wave pelos sensores traseiros e pela câmara de márcha-atrás.

Em termos dinâmicos, o novo motor 1.0 T-GDi oferece um comportamento agradável em regimes mais elevados, designadamente em autoestrada ou em estradas nacionais, mas em ambiente urbano revela o temperamento típico dos blocos de três cilindros, já que demora a responder e a recuperar, obrigando a recorrer com frequência à caixa de velocidades.

A nova transmissão inteligente, já que a eletrónica substitui a ligação mecânica tradicional com a caixa de velocidades, revelou-se rápida e precisa. Para otimizar o consumo de combustível possui um indicador de mudança de velocidade, que se acende às 2000 rpm, aconselhando o condutor a engrenar uma nova relação superior.

A assistência proporcionada pelo sistema híbrido suave é mínima e o reflexo no consumo de combustível não é tão evidente como o anunciado pela marca. O valor de 5,3 l/100 km é claramente otimista e durante o ensaio o computador de bordo registou 6,9 l/100 km. A baixa quilometragem da unidade ensaiada pode ser uma explicação para este consumo, assim como alguma condução em ambiente urbano.

No que se refere aos amortecedores, os engenheiros da Kia fizeram um esforço para diminuir a rigidez típica das gerações anteriores do Rio. A nova geração ainda não oferece um amortecimento propriamente suave e a baixas velocidades o condutor ainda sente nas costas todas as irregularidades do piso. A velocidades mais elevadas, o comportamento melhora, mas, neste capítulo, ainda está aquém dos concorrentes.

Pela positiva há que destacar o comportamento em curva do Kia Rio, mesmo nas estradas mais sinuosas. A direção também é precisa e rápida, o chassis equilibrado, permitindo abordar as curvas com bastante confiança. Mais divertido neste capítulo só mesmo o Ford Fiesta.

VEREDICTO

Com campanha de financiamento, o Kia Rio Wave está disponível a partir de 16.175 euros, um valor bastante interessante para ra elação entre preço e equipamento face a alguns concorrentes como o Nissan Micra N-Sport ou Hyundai i20, por exemplo. Já fora de campanha, essa relativa vantagem competitiva perde-se por completo.

A qualidade de construção é aceitável, mas o requinte e a sofisticação estão longe de estar entre as suas qualidades. O novo motor a gasolina 1.0 T-GDi é competente e está vocacionado para uma utilização familiar. Pedir mais do que isso, é muito. O consumo de combustível em condições reais também é algo elevado, face a alguns concorrentes, mas a garantia da Kia de sete anos ou 150 mil quilómetros é imbatível.

 

Gostámos Gostámos

Equipamento

O nível de equipamento Wave oferece o melhor compromisso para quem pretende um veículo com todas as comodidades, mas sem ser demasiado avançado a nível tecnológico. O preço, com financiamento, reflete esse posicionamento.

Nova assinatura

Uma das novidades introduzidas na mais recente atualização do Rio foi a adoção da mais recente assinatura da Kia no capot e na tampa da bagageira. Como resultado, este modelo passa a ter uma imagem mais marcante, distintiva e que marca a diferença.

Garantia sete anos

Imbatível é a garantia da Kia na Europa de sete anos ou 150 mil quilómetros, um argumento de peso que pode fazer a diferença para o consumidor e, acima de tudo, demonstra a confiança da marca no seu produto e na sua tecnologia.

Não Gostámos Não Gostámos

Plásticos duros

Para não penalizar o preço de venda ao público num segmento tão competitivo como o dos utilitários, a Kia teve de recorrer a plásticos duros no habitáculo do Rio. Materiais suaves ou acabamentos mais sofisticados primam pela ausência.

Motor baixos regimes

O motor turbo de 998 cc apresenta as caraterísticas típicas dos propulsores de três cilindros. Nos regimes mais elevados é agradável de utilizar, mas a baixas rotações é lento a responder e a recuperar, obrigando a recorrer à caixa de velocidades.

Consumo

Apesar da marca reivindicar uma média combinada de 5,3 l/100 km, em condições reais o computador de bordo muito dificilmente desce dos 6,9 l/100 km registados durante o ensaio e em condução urbana esses valores aumentam consideravelmente.


Kia Rio 1.0 T-GDi ISG Wave

Preço 20.450 € (16.175€ com campanha)

Motor Gasolina, 998 cc
Potência combinada 100 cv às 4500-6000 rpm
Binário 172 Nm às 1500-4000 rpm
Transmissão Manual, 6 vel.
Peso 1175 kg
Comp./Larg./Alt. 4,06/1,73/1,45 m
Dist. entre eixos 2,58 m
Mala 325 – 1103 l
Desempenho 10,4 0-100 km/h; 188 km/h Vel. Máx.
Consumo 5,3 (6,9*) l/100 km
Emissões CO2 126 g/Km

* Medições TURBO

Equipamento
Série: Ar condicionado automático, sensores de luz e chuva, retrovisores retráteis eletricamente, Bluetooth mãos livres com reconhecimento de voz, encostos de cabeça ativos, câmara traseira, faróis de nevoeiro dianteiros, comandos audio no volante, cruise control com limitador de velocidade, rádio com ecrã tátil de 8” compatível com Android Auto e Apple CarPlay, sistema ISG – Idle Stop & Go, jantes de liga leve de 15”, luzes diurnas em LED, retrovisores aquecidos e com regulação elétrica, vidros traseiros escurecidos