DS 4 E-Tense Cross Rivoli. O peso da diferença

Texto: Francisco Cruz
Data: 1 de Junho, 2022

Produto oriundo de uma marca que procura, ela própria, afirmar-se de forma diferenciadora num segmento premium a que há muito aspira, o novo DS 4 E-Tense Cross Rivoli apresenta-se como um produto inquestionavelmente diferente. E não somente face àqueles que são os seus rivais directos, como até mesmo perante a geração que o precedeu. Resta agora apurar se, bastará a diferença, para que este modelo francês vingue…

Proposto, naquela que foi a sua primeira geração, como pouco mais do que uma espécie de versão mais cuidada do Citroën C4, a verdade é que não restam dúvidas de que, a atual geração do DS 4, com a qual os condutores portugueses já com começam a conviver no dia-a-dia, é uma proposta muito diferente do “primo-direito” com o double chevron ao peito. A começar, desde logo, pelas linhas exteriores.

Inquestionavelmente a exalar uma qualidade e estatuto que o antecessor nunca possuiu, o novo DS4 veio, claramente, para marcar a paisagem automóvel, fruto de um estilo incapaz de deixar alguém indiferente, em que os inúmeros detalhes num corpo que mistura as linhas de um hatchback com a postura de um crossover, assim como a complexa e vanguardista iluminação exterior, ou até mesmo o cuidado no detalhe que se estende, inclusivamente, à união entre painéis – bem mais convincente do que, por exemplo, a resistência das pegas exteriores que se destacam da carroçaria assim que nos aproximamos com a chave no bolso… -, acabam arrebatando olhares.

Foto: Turbo

No entanto e no caso específico do carro por nós ensaiado, vestido num Vermelho Velvet (790€) como cor exterior, a ajudar a explicar, igualmente, o impacto causado, a presença do nível de equipamento de topo, Cross Rivoli. Sinónimo não apenas de umas atraentes jantes em liga leve ‘Lima’ de 19″, mas também de barras de tejadilho em preto brilhante, a definição de vários pormenores em metalizado, ou até mesmo aplicação do logótipo da marca em painéis como os pilares traseiros. Mas também e não menos impactante, as elaboradas ópticas dianteiras DS Matrix LED Vision, com o seu “bailado de luz” de boas-vindas, sempre que nos dirigimos para o automóvel ou dele nos afastamos…

INTERIOR

E se, por fora, a concepção complexa e elaborada das linhas e soluções tecnológicas, é aquilo que mais se destaca no DS 4 E-Tense Cross Rivoli, uma vez no habitáculo, cujo acesso se mostra mais fácil pelas portas dianteiras, pode dizer-se que o caso não muda de figura; pelo contrário, é mesmo um excelente exemplo de automóvel que exige que, ainda antes de iniciarmos a condução, dediquemos largos minutos a familiarizarmo-nos com todo o ambiente em redor!

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Embora afirmando, logo à partida, uma qualidade, especialmente em termos de materiais, mas também na atenção ao detalhe, verdadeiramente elogiável, não é menos verdade que, a “obsessão” dos designers da DS por uma espécie de rendilhado, com as suas várias faces e arestas, acaba por, nalgumas soluções, não favorecer propriamente a assimilação, compreensão ou até mesmo funcionalidade, por parte do condutor ou ocupantes. É o caso, por exemplo, dos comandos físicos do ar condicionado, que a marca intitula de ventilação invisível DS Air, mas cuja funcionalidade e intuitividade deixa muito a desejar.

Esta espécie de barra metalizada acaba, por outro lado, por fazer também divisão entre a parte superior do tablier, onde surge um ecrã táctil a cores de dimensão e funcionalidade agradáveis, e a parte de baixo, mais recolhida, onde se encontra não apenas o botão do travão de estacionamento, como também e em posição central, o botão Start – metalizado, retroiluminado por uma luz vermelha, e apresentando, um pouco mais abaixo, um espaço de arrumação fechado, também revestido pelos melhores materiais.

Foto: Turbo

Ainda sobre o túnel de transmissão, uma das maiores “incógnitas” no interior deste DS 4: um pequeno ecrã táctil, visualmente e em termos de materiais a elevar a excitação quanto às possibilidades, mas que, depois, pouco mais faz do que replicar o acesso a algumas funcionalidades disponíveis no ecrã principal. Servindo, assim, para pouco mais que de uma outra forma de aceder às mesmas; como se o ecrã principal não fosse também ele táctil, quase tão acessível e ainda mais funcional…

Finalmente e a completar esta zona, o botão do Drive Mode, sinónimo de modos de condução, e quase tão atraente quanto o manípulo da caixa de velocidades, ladeado por um pequeno botão com a inscrição ‘B’, a anunciar maiores capacidades nos esforços de recuperação de energia. E, tudo isto, revestido por um metal trabalhado, conjugado com plástico negro brilhante, naquilo que facilmente se torna um deleite para o olhar!

Sobre a posição de condução, verdadeiramente excelente, em grande parte, devido a um banco em couro picotado Cinzento Gallet (opcional, por 3.050€) que recebe quase na perfeição o corpo do ocupante, e que é acompanhado de um volante de pega superior, além de com botões físicos de accionamento fácil, mas também regulação tanto em altura como em profundidade, uma visibilidade para o exterior que só se torna mais complicada, quando se trata de olhar para trás. Facilitando, inclusivamente, aquela que é uma das soluções de que menos nos convenceu: o painel de instrumentos 100% digital, que, embora com várias configuráveis e alvo de um claro esforço de diferenciação, acaba tendo um layout que varia entre o incompleto e o quase confuso!

Já à espera dos restantes passageiros, um banco traseiro que, embora com assento liso e a prometer receber mais do que dois ocupantes, tem depois um lugar do meio pouco receptivo, mais estreito e, como tal, mais vocacionado para utilizações pontuais. Até porque não conta, à sua frente, com a facilidade extra resultante de um banco dianteiro de costas “escavadas”, a aumentarem o espaço disponível para pernas dos ocupantes traseiros.

Foto: Turbo

Finalmente e quanto à bagageira, cuja capacidade surge inicialmente fixada nos 390 litros e à qual não falta sequer um portão elétrico, ainda que a proporcionar um acesso alto face ao piso interior, destaque para o difícil aproveitamento da possibilidade de rebatimento 60/40 das costas dos bancos traseiros, ligeiramente na perpendicular, já que, também elas, ficam bem mais altas do que o piso da mala.

MECÂNICA

Proposta híbrida de carregamento externo, este DS 4 E-Tense recorre ao mesmo sistema de propulsão já utilizado, por exemplo, no novo Peugeot 308, e que tem na base um quatro cilindros 1,6 litros turbo a gasolina, a debitar 180 cv de potência e 300 Nm de binário. Sendo, depois, apoiado por um motor elétrico a garantir mais 110 cv de potência e 320 Nm de binário, com esta conjugação a garantir uma potência máxima combinada de 225 cv, assim como um binário máximo combinado de 360 Nm.

Graças a estes últimos valores, mas também ao apoio dado por uma bateria de iões de lítio com uma capacidade útil de 9,9 kWh, assim como por uma excelente transmissão automática de oito velocidades fornecida pela Aisin, a promessa de uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 m/h em 7,7 segundos, como de velocidade máxima fixada nos 233 km/h.

Foto: Turbo

Em termos de desempenho, uma suavidade e agradabilidade que facilmente nos convence em qualquer situação, o mesmo acontecendo com a facilidade com que a potência irrompe sempre que dela necessitamos, e, ainda por cima, com uma média nos consumos ainda mais surpreendentes – numa proposta em que o valor oficial em circuito combinado é de 1,3 l/100 km, conseguimos fazer ainda melhor, ao ficar pelos 1,2 l/100 km! Sendo que, nem mesmo com o fim da energia nas baterias, o panorama enegreceu por aí além, com as médias a não ultrapassarem os 5 l/100 km, num percurso que, tal como anterior, somou à utilização em cidade, um percurso em auto-estrada.

Quanto ao carregamento das baterias, cuja autonomia oficial surge fixada nos 54 km, sendo que, connosco, também não ficou muito longe disso (51 km), um tempo máximo de ligação à tomada, quando em postos com potências até 7,4 kW, de apenas 1,75 horas. Com a espera a subir para 3h40m quando se trata de uma tomada com uma potência máxima de apenas 3,7 kW, algo que não deixa de ser razoável…

TECNOLOGIA

Aspirando, tal como a própria marca, ao convívio entre os premium já consagrados, a verdade é que não poderia faltar, no novo DS 4, a cada vez mais valorizada, em particular pelos clientes, componente tecnológica. Ainda que, no domínio da funcionalidade, nem tudo nos pareça correr pelo melhor.

A justificar esta opinião, o já referido painel de instrumentos digital, que, embora ajudado por um Head-Up Display de maiores dimensões, apresenta uma concepção, também em termos de layouts, que tanto consegue parecer uma “embrulhada ” de informações, tal é a forma como tudo surge “apertado” no ecrã, como um painel escurecido onde faltam alguns dos dados mais necessários. Ficando, por isso, vários degraus abaixo do ecrã principal a cores e táctil, parte do sistema de infoentretenimento DS Iris System com navegação conectada, DS Smart Touch e DS Connect Box, e que, mesmo com um layout algo… intrincado, acaba revelando-se bastante mais intuitivo.

Foto: Turbo

Por outro lado e quase desnecessário, revela-se o pequeno ecrã táctil colocado sobre o túnel de transmissão (há quem lhe chame ‘touchpad’, mas parece-nos uma designação demasiado redutora…), o qual, apesar da invulgaridade, pouco vem acrescentar ao bem mais usual, e até funcional, ecrã central. Ainda que o impacto inicial do pequeno monitor, nomeadamente, para os ocupantes, consiga ser quase tão positivo quanto, por exemplo, a iluminação exterior DS Matrix LED Vision o é, para quem vê este DS 4 passar.

Finalmente, elogios totalmente merecidos, para a preocupação com a Segurança, nomeadamente, através da aplicação do chamado Pack Extended Safety, sinónimo da presença com Adaptative Cruise Control com função Stop&Start, do pack Rear Traffic Detection – que, por sua vez, se traduz num sistema de vigilância do ângulo morto de longo alcance e no alerta de trânsito traseiro -, e na presença do DS Drive Assist. Argumentos a que o DS 4 acresce uma câmara de visão traseira, assim como a ajuda ao estacionamento à frente e atrás.

AO VOLANTE

Proposta cujas linhas procuram transmitir, logo à partida, um posicionamento premium e de exclusividade, o DS 4 reafirma esse mesmo esforço na condução, com o modelo francês a apostar na suavidade do desempenho, assim como na salvaguarda incondicional do conforto de todos os ocupantes, para elevar o seu direito à diferença. Neste caso, igualmente afirmada através de um arranque sempre em modo elétrico, com a entrada do motor a gasolina na equação a não representar, contudo, qualquer nota mais dissonante.

Foto: Turbo

Numa proposta que se pretende premium e vocacionada para o conforto… luxuoso, até mesmo a direcção acaba adoptando um desempenho mais leve e confortável, e que só a opção pelo modo Desporto (existem ainda as opções Elétrico, Híbrido e Conforto) consegue tornar um pouco mais pesada. Com as mesmas sensações a serem transmitidas pelo pedal de travão, com um toque demasiado filtrado, e que nem mesmo um qualquer modo de condução consegue atenuar.

Assim e sem grandes ambições em termos de envolvência na condução, ao condutor cabe aproveitar, da melhor forma, as potencialidade de um sistema de propulsão que, mesmo com um cartão de visita do qual fazem parte uns impressionantes 225 cv de potência máxima, foi claramente concebido para, acima de tudo, ajudar a tornar qualquer viagem um momento de prazer e descontracção. Diferenciando-se, igualmente, de muitos dos demais, na componente ambiental, ao permitir-lhe, sempre que pretenda fazer ainda maior figura, desfilar em modo 100% elétrico… seja naquele preciso momento ou mais tarde, quando chegado ao destino.

VEREDICTO

Rival anunciado de propostas como o Audi A3 Sportback, o BMW Série 1 ou o Mercedes-Benz Classe A, embora diferenciando-se destes através de uma imagem bem mais ousada e até fracturante, terminámos este ensaio com a certeza de que é, precisamente, na imagem, que este DS 4 E-Tense Cross Rivoli tem o seu argumento mais forte e decisivo.

Foto: Turbo

No entanto e porque o direito à diferença também tem o seu lastro, o modelo francês não se esquece de atenuar tal peso, com uma qualidade de revestimentos e atenção ao detalhe verdadeiramente merecedora de elogios, um equipamento de topo fortemente diferenciador, assim como uma habitabilidade para quatro adultos igualmente competente.

Argumentos que, porém, também acabam contribuindo para um preço final, sem dúvida, elevado, em particular, com a motorização híbrida plug-in E-Tense e o equipamento topo de gama Cross Rivoli…

 

Gostámos Gostámos

Conforto

Sem dúvida, um dos grandes argumentos deste DS 4 E-Tense Cross Rivoli, que se destaca, em praticamente todas as situações, pela salvaguarda do bem estar dos ocupantes, num ambiente em que o deslumbre também não fica muito distante. Afinal, muito em linha com aquilo que se espera de um premium…

Revestimentos

Elemento que, a par da atenção ao detalhe, acaba contribuindo para o excelente nível de vida a bordo, são também os revestimentos que, em conjunto com outros elementos, acabam ajudando ao posicionamento verdadeiramente premium deste DS 4.

Consumos

Surpreendentes, sem dúvida, os consumos conseguidos por um sistema de propulsão híbrido plug-in que não deixa de anunciar uma potência de respeito, mas que, depois e especialmente quando com o apoio da componente elétrica, exibe médias de verdadeiro pisco!

Não Gostámos Não Gostámos

Painel de instrumentos

A verdade é que, ainda hoje, estamos a tentar assimilar a concepção por detrás do painel de instrumentos 100% digital do DS 4 E-Tense Cross Rivoli. Mantendo nós a ideia de que, no esforço de tentar fazer algo… diferente, a marca acabou por embrulhar-se no desafio.

Ar condicionado automático
É mais um dos exemplos de que, complicar demasiado, nunca é boa solução! Sendo que, no caso do sistema de ar condicionado do DS 4, embora os comandos façam um vistaço, funcionalidade e intuitividade são “fenómenos” que, claramente, desconhece!

Pequeno ecrã táctil

Embora os seus defensores possam argumentar com a ideia de que se trata de um “mero” touchpad, para nós, o pequeno ecrã táctil colocado sobre o túnel de transmissão, prometia muito mais do que isso. Só que, infelizmente, acaba por não cumprir…

 

DS 4 E-Tense Cross Rivoli

Preço 45 880 € (sem opcionais)
Motor Gasolina, 4 cil., 1.598 cc, turbo + motor elétrico
Potência combinada 225 cv (165 kW)
Binário combinado 360 Nm
Transmissão Dianteira, Auto., 8 vel.
Peso 1.728 kg
Comp./Larg./Alt. 4,40/1,83/1,47 m
Dist. entre eixos 2,67 m
Mala 390 l
Desempenho 7,7 0-100 km/h; 233 km/h Vel. Máx.
Consumo combinado WLTP 1,3 (1,2*) l/100 km
Emissões CO2 54 g/Km
Autonomia elétrica WLTP 54 (51*) Km
Bateria/Capacidade Iões de lítio, 12,4 kWh (9,9 kW úteis)
Tempos de carga 1,75 horas (7,4 kW 0-100%); 3,4 horas (3,7 kW 0-100%)

* Medições Turbo

Equipamento
Série: Jantes em liga leve ‘Lima’ de 19″, DS Matrix LED Vision, barras de tejadilho em preto brilhante, acesso e arranque mãos livres (ADML Proximity), vidros dianteiros e traseiros acústicos e escurecidos, pedaleira em alumínio, DS Extended Head Up Display, DS Iris System com Navegação conectada 3D, DS Smart Touch e DS Connect Box, câmara de visão traseira, ajuda ao estacionamento traseiro e dianteiro, e Pack Extended Safety com Adaptative Cruise Control e função Stop&Go, Rear Traffic Detection Pack (vigilância do ângulo motor de longo alcance e alerta de trânsito traseiro) e DS Drive Assist.