Marca que procura, hoje em dia fazer do essencial, elemento primordial em todos os produtos, a Dacia acaba de lançar o mais recente exemplo desse mesmo princípio: o Jogger. Basicamente, um misto de monovolume/carrinha/crossover que pode chegar aos 7 lugares e que, face à enorme versatilidade, fruto também da motorização Bi-Fuel aqui analisado, é aquilo que, em bom português, vulgarmente se chama de “pau para toda a obra”!…
Num processo de reposicionamento em que já deixou, inclusivamente, para trás a imagem – inicialmente assumida, diga-se… – de marca low-cost do grupo Renault, a Dacia aproveita agora o enorme sucesso conquistado ao longo dos últimos anos para, sem abdicar do ADN já conhecido, afirmar-se, não apenas em função do preço, mas sim e principalmente, daquilo que – assegura o construtor – os seus clientes entendem ser essencial ter, nos seus automóveis.
Assim e num esforço de procurar oferecer produtos acessíveis, mas também atrativos, robustos e fiáveis, a Dacia acaba de lançar o Jogger. Uma proposta assumidamente familiar nas suas formas de carrinha/monovolume, com os seus 4,54 m de comprimento e 2,89 m de distância entre eixos, marcados, igualmente, pelas soluções estéticas oriundas do universo crossover, como é o caso das protecções em plástico nas zonas inferiores da carroçaria, de uma altura ao solo a rondar os 200 mm e de rodas com pneus altos (205/60R16). Soluções que, integradas numa linguagem de design muito semelhante à do novo Sandero, deixam este versátil familiar muito “à moda”.

Foto: Turbo
De resto e apesar de estarmos em presença, não do nível de equipamento mais exuberante (Extreme), mas “apenas” do intermédio Comfort, a garantia de que, os elementos que fomentam o sex-appeal deste modelo, manter-se-ão presentes. O que, no fundo, é mais uma demonstração daquilo que é, atualmente, o posicionamento da própria marca – não mais do que o essencial, mantendo-se, ainda assim, atraente…
INTERIOR
Aliás e tal como já havíamos constatado na apresentação, este esforço de “agarrar o olhar” de quem o vê passar, faz-se notar até mais no exterior, que propriamente no habitáculo. O qual, praticamente decalcado, na zona dos lugares da frente, do estreado no Sandero, aposta numa estética a procurar exaltar a óptima funcionalidade e ergonomia. Ainda que conjugadas com revestimentos que, exceptuando a novidade que é o tecido no frontal do tablier e portas, não vão além dos já habituais plásticos rijos e rugosos. O que faz com que o convencimento surja mais pelo lado da solidez percepcionada, do que propriamente do toque nos revestimentos…
LEIA TAMBÉM
Dacia Jogger. Se a fórmula resulta, mudar para quê?…
Quanto à posição de condução, mostra-se agradável e correcta na forma como posiciona o condutor, não apenas face a um painel de instrumentos de aspecto mais conservador – de ponteiros analógicos e um pequeno ecrã TFT ao centro cujo ícone do combustível muda consoante a opção utilizada – e um volante de dimensões algo exageradas (mas também ajustável em altura e profundidade, além de com botões funcionais), como também face aos (poucos) comandos físicos e, até mesmo, ao ecrã central táctil e destacado. Este último, a permitir o acesso a um sistema de informação e entretenimento tão simples no layout, quanto no conteúdo…

Foto: Turbo
Naturalmente e até por causa das dimensões exteriores, a visibilidade traseira é algo que agradece a presença, tanto de sensores, como uma câmara traseira, duas soluções que esta versão Comfort já contempla. O mesmo acontecendo com o muito espaço e quase idêntico conforto existentes na segunda fila, onde três adultos facilmente se acomodam, depois de terem “atirado” todas as bagagens para dentro de uma generosa bagageira (708 litros com duas filas de bancos, 1.819 l com apenas os bancos da frente) que esta versão de cinco lugares oferece. Aproveitando igualmente a amplitude de acesso proporcionada por um enorme portão traseiro (mas também sem qualquer ajuda elétrica…) ou, em caso de necessidade, a possibilidade de rebatimento 1/3-2/3 das costas da segunda fila. Ou até mesmo a maior segurança proporcionada por uma chapeleira extensível na qual, inexplicavelmente, a Dacia se esqueceu de colocar uma verdadeira pega, de forma a tornar mais fácil o seu manuseamento…
Quanto à terceira fila de bancos, um dos argumentos deste Jogger, mas que a nossa unidade não possuía, a opinião baseada naquilo que nos foi dado a ver, mais uma vez, na apresentação internacional do modelo. E que, definitivamente, nos pareceu uma mais-valia, devido não apenas ao espaço, como também à forma mais confortável do que seria de prever, como qualquer um dos dois bancos individuais acomoda um adulto. Ou seja… a comprar!
MECÂNICA
Disponível também com motor exclusivamente a gasolina, acabou por nos calhar, em sorte, para este ensaio, uma bem mais cativante motorização bi-fuel, ou seja, capaz de funcionar, tanto a gasolina, como a Gás de Petróleo Liquefeito, vulgo GPL. Solução em que a Dacia tem já um considerável percurso percorrido e que, reconheça-se, possui, ainda mais nos dias de hoje e em virtude do aumento dos combustíveis fósseis, a sua validade.

Foto: Turbo
Sobre o trem de força propriamente dito, trata-se do já bem conhecido três cilindros de 999cc que o Grupo Renault há muito utiliza, neste caso, naquela que é a sua versão de 100 cv de potência e 170 Nm de binário. E que, conjugada com um sistema de tracção apenas dianteiro e caixa manual de 6 velocidades, anuncia prestações que passam pelos 175 km/h de velocidade máxima, com acelerações dos 0 aos 100 km/h em 12,3 segundos.
Mas se as prestações serão tudo menos impressionantes, ainda que inquestionavelmente suficientes para que este Dacia Jogger Bi-Fuel e os seus 1.330 kg circulem sem grandes preocupações no dia-a-dia (um tudo-nada mais expedito na resposta quando a gasolina…), já no que diz respeito a consumos, os resultados poderão mostrar-se demasiado altos, suplantando, mesmo e no caso da gasolina, os 6,0 l/100 km que a marca romena anuncia, assim como os 7,7 l/100 km prometidos quando a GPL. Nas nossas mãos, os valores, quando a gasolina, andaram mais perto dos 8 l/100 km, ao passo que, a GPL, o resultado final acabou sendo uma média de 9,2 l/100 km. E, tudo isto, com a obrigatória passagem pelo mais poupado – assim como condicionante na resposta do motor – modo ECO…
Contudo e a atenuar alguma sensação de desilusão, a garantia de que o panorama não será tão negro quanto possa à partida parecer; pelo contrário! Isto, porque, além de conseguir fazer mais de 1.000 km com os dois depósitos em conjunto, no caso do GPL, opção que o condutor pode seleccionar a qualquer momento, bastando para tal pressionar o pequeno botão que se encontra à esquerda do volante, o preço por litro simplesmente dissipa qualquer dúvida – entre os 0,78€ e os 0,98€ por litro, no caso de Portugal Continental.
TECNOLOGIA
Embora concebido e a exemplo do que acontece com a restante gama Dacia, sob o prisma da racionalidade, a verdade é que o Jogger não deixa de exibir tudo aquilo que o consumidor atual considera como imprescindível; já nesta versão Comfort, sublinhe-se!…

Foto: Turbo
É o caso, por exemplo, do hoje em dia “obrigatório” sistema de informação e entretenimento (Media Display é o nome neste Dacia…), aqui com ecrã táctil de 8″, Bluetooth e replicação do ambiente do smartphone por cabo, ainda que e face a outros produtos de maior estatuto – e caros! -, a mostrar-se algo… básico, também na resposta ao toque (sendo que o sistema de navegação também mostrou algumas limitações…), ou, ainda mais importante, soluções de segurança e ajuda à condução que já não deixam de figurar nos modelos mais recentes da marca romena.
Entre estes, a iluminação Full LED com faróis diurnos em LED, dos faróis de nevoeiro, sistema de ajuda ao estacionamento traseiro, sistema de controlo da pressão dos pneus, regulador/limitador de velocidade, Controlo Electrónico de Estabilidade com Sistema de Ajuda ao Arranque em Subidas, sensores de luminosidade e chuva, Sistema de Travagem de Emergência Ativa (AEBS) ou, ainda, da Assistência à Travagem de Urgência. Mas não só…
AO VOLANTE
E se, em termos de equipamento e até soluções técnicas, este Jogger é mais um passo em frente na evolução com sucesso crescente que a Dacia tem vindo a protagonizar, não deixa de ser igualmente verdade que, naquilo que é a condução, a marca romena mantém praticamente intocados os princípios que há muito defende. E que, como até os novos tempos anunciam, se traduzem num produto “sem excessos, mas apenas aquilo que verdadeiramente necessita”.

Foto: Turbo
Assumido este princípio, resta reconhecer este Dacia Jogger Bi-Fuel como o verdadeiro e competente familiar que almeja ser, sem pretensões ou promessas para além do essencial, mas, acima de tudo, capaz para uma utilização descomplexada, mas intensa, no dia-a-dia. Momentos em que, se calhar, pouco importa a falta de precisão ou feedback notada na direcção e no pedal de travão, ou, até mesmo, um propulsor com uma outra garra. Preferindo oferecer, sim, deslocações descontraídas e com boa dose de conforto, inclusive, quando por trajectos mais sinuosos, onde a suspensão ligeiramente mais firme (nem sempre consegue…) esforça-se por manter a compostura do conjunto.
No entanto e até porque o próprio motor mostra pouca capacidade para colocar à prova a dinâmica do conjunto (com a mesma plataforma, ainda que esticada, do Sandero…), resta, apenas, levantar o pé do acelerador e, desde logo, deixar para trás a sonoridade excessiva, proveniente do propulsor, que se faz sentir no habitáculo. O qual, diga-se, já mostra dificuldades suficientes para manter lá fora os ruídos vindos do exterior…
Já com ritmos mais descontraídos, um conforto invariavelmente de bom nível, inclusive, quando por pisos (um pouco) mais degradados ou caminhos onde, uma pedra ou outra mais solta, acabam fazendo-nos agradecer os 200 mm de altura ao solo que este Jogger exibe. E cuja mais-valia deixa de ser apenas estética, para atenuar, conjuntamente com atributos como as várias protecções em plástico espalhadas pelas zonas inferiores da carroçaria, ou até mesmo as rodas de 16″ com pneus de perfil alto, outras limitações, como é o caso da tracção apenas dianteira e não integral.

Foto: Turbo
VEREDICTO
Procura um automóvel familiar com muito espaço, conforto, bem equipado, e cujo preço não esteja, ainda assim, inflacionado? Então e caso a estética o convença logo à partida (acreditamos que não será difícil…), o novo Dacia Jogger pode muito bem ser a solução que procura!
Hoje em dia já livre do anátema de marca low-cost do grupo Renault, a verdade é que a Dacia tem neste Jogger um dos seus melhores, mais competentes e versáteis familiares, vestido com uma roupagem claramente “à moda” e, ainda por cima, com um equipamento que, mesmo nesta versão intermédia, contempla praticamente tudo o que é possível!

Foto: Turbo
E se a isto juntarmos a poupança na utilização conseguida com o recurso ao sistema Bi-Fuel, diga lá: existirá algo mais versátil do que este Dacia Jogger?…
Gostámos
![]() Habitabilidade Proposto tanto na versão de cinco, como de sete lugares, o Dacia Jogger consegue convencer em qualquer uma delas. Sendo que a habitabilidade começa a surpreender logo na segunda fila de bancos… |
![]() Bagageira Partindo da mesma plataforma do Sandero, mas esticada para além dos 4,5 m e com uma distância entre eixos a roçar os 2,9 m, o Dacia Jogger não tem apenas habitabilidade, como também uma bagageira onde cabe tudo e mais alguma coisa!… |
![]() Estética exterior Demonstração de que não é preciso gastar muito para “andar à moda”, nem mesmo as dimensões exteriores generosas, beliscam a estética atraente que é um dos bons argumentos desta carrinha/monovolume/crossover. |
Não Gostámos
![]() Plásticos Sabemos que já é uma “queixa” recorrente, mas a verdade é que os plásticos continuam a ser uma espécie de “calcanhar de Aquiles” nos modelos da Dacia. Será assim tão caro atenuar este impacto com alguns, pequenos, melhoramentos, pelo menos, naqueles locais mais expostos?… |
![]() Media Display Nem sequer se trata de uma questão de dimensões do ecrã ou até mesmo do layout; na verdade, tem mais a ver com a (fraca) sensibilidade ao toque e com a velocidade (lenta) de processamento, por exemplo, na navegação. E só por isso é que não gostámos do sistema de informação e entretenimento Media Display. |
![]() Consumos Embora atenuados, em particular no gás de petróleo liquefeito, por um preço por litro substancialmente mais baixo, parece-nos indesmentível que este Dacia Jogger Bi-Fuel não é propriamente contido nos consumos. Pelo que e até para conseguir uma vantagem real, o melhor será decorar os postos de abastecimentos que possuem GPL… |
Dacia Jogger Comfort Eco-G 100 Bi-Fuel
Preço 17.300 € (c/IVA, sem opcionais)
Motor Bi-Fuel (Gasolina + GPL), 3 cil., 998 cc, inj. directa, turbocompressor
Potência 100 cv às 4.600 – 5.000 rpm
Binário 170 Nm às 2.000 – 3.500 rpm
Transmissão Dianteira, Cx. Manual 6 vel.
Peso 1330 kg
Comp./Larg./Alt. 4,54/1,78/1,63 m
Dist. entre eixos 2,89 m
Mala 708 – 1.819 l
Desempenho 12,3s 0-100 km/h; 175 km/h Vel. Máx.
Consumo WLTP Gasolina 6,0 (7,9*) l/100 km
Consumo WLTP GPL 7,7 (9,2*) l/100 km
Emissões CO2 WLTP Gasolina 136 g/Km
Emissões CO2 WLTP GPL 119 g/Km
* – Medições TURBO
Equipamento
Série: Full LED, faróis diurnos LED, faróis de nevoeiro, vidros laterais e óculo traseiro sobreescurecidos, jantes Flexwheel 16″, barras de tejadilho longitudinais modulares, retrovisores exteriores eléctricos com sistema de desembaciamento, estofos em tecido Comfort, banco do condutor regulável em altura com apoio de braço, banco traseiro rebatível 1/3-2/3, ar condicionado manual’, Media Display com ecrã táctil 8”, rádio DAB, replicação de smartphone por cabo e Bluetooth, Computador de bordo, Indicador de mudança de velocidade, Modo ECO, sistema de ajuda ao estacionamento traseiro, sistema de controlo de pressão dos pneus, regulador e limitador de velocidade, sensores de luminosidade e chuva, sistema de travagem de emergência activa (AEBS), assistência à travagem de urgência (AFU), fecho centralizado das portas com comando à distância, controlo electrónico de estabilidade com sistema de ajuda ao arranque em subida—, chamada de emergência E-Call e fecho centralizado das portas com comando à distância.