Numa altura em que grande parte dos portugueses se prepara para as férias de verão, que para muitos serão gozadas na região mais veraneante de Portugal, também nós decidimos rumar a Sul, ao Algarve, e fazer um ensaio diferente. Neste caso, para descobrir se é possível fazer a “migração” de elétrico, no nosso caso, aos comandos de um BMW i4 eDrive40. Este é o testemunho dessa viagem…
A verdade é que não passou assim tanto sobre o tempo em que, fazer uma qualquer viagem mais longa, a bordo de um veículo 100% elétrico, pouco menos era do que uma espécie de roleta russa, em que a única certeza residia na hora e local… da partida. Pois, quanto ao resto e, principalmente, quanto à possibilidade de chegar sem preocupações ao destino escolhido, pouco menos era que uma grande incógnita.
No entanto, a verdade é que a Tecnologia tem conseguido avançar mais rapidamente que o próprio Tempo, os automóveis elétricos tornaram-se mais fiáveis e eficazes, e até mesmo a rede de carregamento disponível em Portugal, acabou por crescer e evoluir. Ajudando a contribuir para que e desde logo, a chamada ansiedade decorrente da possibilidade de ficarmos parados a meio do caminho se tenha tornado menor, permitindo já a alguns, mais temerários, aventurarem-se em viagens mais longas, aos comandos do elétrico que é também, por estes dias, reconheçamo-lo, uma expressão de diferenciação e até status!

A primeira paragem, ainda em Lisboa, na viagem rumo ao sol… mas para beber café, apenas! Foto: Turbo
No nosso caso, contudo, o objectivo passava por comprovar que, nos dias que correm, fazer uma das viagens que mais portugueses fazem e de forma quase religiosa, já não é uma dor de cabeça; pelo contrário, a bordo de propostas como este BMW i4 eDrive40, cuja autonomia oficial está acima dos 500 km, pode mesmo ser uma viagem para Sul especialmente descontraída, relaxada, assim como mais barata. Basta, tão só, um tudo nada de programação…
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Quanto ao BMW i4 propriamente dito, quase apetece dizer que, não fora o Branco imaculado que apresentava como cor exterior, conjugado com algumas aplicações no característico Azul que é possível encontrar em praticamente todos os elétricos da marca de Munique, e quase nos permitiria passar despercebidos quanto ao facto de estarmos a conduzir um EV. Sendo que, até mesmo alguns pormenores exclusivos desta variante 100% elétrica do Série 4 – recorde-se que partilham, inclusivamente, a mesma plataforma CLAR -, como é o caso da grelha frontal com o mesmo formato mas com interior diferente… e fechado – é, de resto, um dos argumentos para que o i4 anuncie um coeficiente de aerodinâmica de apenas 0.24 -, ou ainda das jantes mais fechadas, aerodinâmicas e de 19 polegadas (opcionais, contudo, e com um preço de 2.260,16€), acabam pouco revelando quanto à natureza mais ecológica do modelo…
INTERIOR
Passando ao habitáculo, um ambiente do qual se destaca não somente a já conhecida qualidade de construção e de materiais há muito reconhecidas nos modelos da BMW, assim como um design em grande parte idêntico ao do Série 4, mas também e principalmente, um prolongado painel curvo destacado do tablier, de clara inspiração no do iX, e a integrar dois igualmente generosos ecrãs digitais a cores – o primeiro, colocado por detrás do volante, e que, com as suas 12,3 polegadas, serve de painel de instrumentos, apresentando ainda a possibilidade de configuração do layout, mantendo sempre um design atraente e personalizado; o segundo, um ecrã táctil também a cores e personalizável, além de ainda maior, com 14,9 polegadas, e que serve de porta de acesso à mais recente evolução do conhecido sistema de infotainment da BMW, o iDrive8. Também ele atraente na apresentação, com ícones perfeitamente dimensionados, além de intuitivo no operar.

O conforto e ergonomia de um habitáculo que, no entanto, pouco muda face ao do Série 4 de combustão. Foto: Turbo
Sobre a posição de condução, um excelente banco cujas possibilidade de regulação estendem-se, inclusivamente, ao assento (mais ou menos comprido), não faltando igualmente um óptimo apoio lateral, a ajudar a um posicionamento não apenas muito confortável, como também ergonomicamente a roçar a perfeição, principalmente, pela forma como facilitar o acesso à generalidade dos comandos. Só ficando mesmo a faltar, numa posição que conta ainda com um óptimo apoio de pé esquerdo (importante, ainda mais, quando não há pedal de embraiagem), uma melhor visibilidade traseira, penalizada, quer pela intromissão dos passageiros traseiros, quer pelo perfil tipo coupé do i4. Felizmente, existe uma câmara traseira de óptima definição…
Apesar de sabermos que faríamos a viagem rumo ao Sul numa espécie de comunhão exclusiva com o i4, a constatação, ainda antes da partida, de um habitáculo que não esconde a vocação para apenas quatro ocupantes. Com os lugares traseiros, de acesso um pouco mais apertado, a revelarem espaço suficiente, tanto em largura, como para as pernas (o piso um tudo-nada mais alto faz com que fiquem um pouco mais altas do que seria recomendável, mas, ainda assim…), isto se admitirmos passageiros apenas nos lugares laterais. É que, ao centro e no seguimento de um banco central que pouco melhor é que um elemento ligação entre os verdadeiros bancos, existe ainda um bastante intrusivo túnel de transmissão…

Embora com bastante espaço para pernas, o i4 assume-se como uma proposta preferencialmente para quatro e apenas dois atrás. Foto: Turbo
Finalmente e no que diz respeito à bagageira, um espaço de carga valorizado, desde logo, por um enorme portão com óculo integrado que a presença de um sistema elétrico de abertura e fecho torna mais fácil de operar, mantendo-se, depois, os mesmos 470 litros de capacidade das versões com motores térmicos, acrescidos de um bom alçapão por baixo do piso falso (serve, por exemplo, para colocar os cabos de carregamento), espaços laterais de arrumação fundos, além de uma chapeleira bipartida, a facilitar o acesso a um local que não deixa de ser comprido. E que pode tornar-se ainda mais longo, mediante o fácil rebatimento 40:20:40, das costas dos bancos traseiro, no seguimento do piso da mala..
MECÂNICA
Embora disponível também numa versão mais potente, M50, o BMW i4 com que decidimos fazer a nossa viagem até Sul dispunha “apenas” da motorização de entrada na gama, denominada de eDrive40. E que é sinónimo da presença de um só motor elétrico, a atuar exclusivamente sobre o eixo traseiro, além de a garantir uma potência máxima de 340 cv (250 kW) e um binário máximo de 430 Nm.

Com um trem de força de apenas um motor elétrico, a atuar sobre o eixo traseiro, o i4 anuncia uma potência de 340 cv. Foto: Turbo
Conjugados com uma bateria de iões de lítio, colocada em posição central, e a anunciar uma capacidade máxima de 83,9 kWh (80,7 kWh úteis), estes números permitem anunciar, igualmente, não apenas uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em 5,7s e uma velocidade máxima de 190 km/h, como também um consumo oficial na ordem dos 16,3 kWh/100 km, além de uma autonomia WLTP de 585 km.
Já no que concerne a carregamentos, a promessa de que será possível repor até 80% da capacidade das baterias, através de um posto de carregamento rápido capaz de garantir uma potência máxima de 205 kW, em não mais que 31 minutos. Ou, então, em 8,25 horas, se utilizando um ponto de carregamento dito normal (AC), capaz de debitar potências na ordem dos 11 kW.
Quanto à nossa própria experiência, reunida ao longo de uma viagem de ia e volta ao Algarve, a confirmação, desde logo, de uma elevada e pronta disponibilidade do sistema elétrico, ao mais pequeno toque no acelerador, e ainda mais com o modo Sport seleccionado no sistema de modos de condução. Deixando, dessa forma, a sensação de uma fácil obtenção das prestações anunciadas, mas também e ainda mais surpreendente, o alcançar de consumos ainda melhores que o prometido – mais concretamente, um consumo médio de 15,6 kWh/100 km, com a utilização da carga completa a permitir-nos fazer cerca de 509 quilómetros.

Eis o “motor” do i4 eDrive40… ou melhor, aquilo que se pode ver dele! Foto: Turbo
Tudo isto, com o contributo, igualmente, de um sistema de recuperação de energia que, com vários níveis de regeneração, accionáveis na manche (o mais forte consegue, inclusivamente, imobilizar o veículo), sempre que colocávamos o pé no travão, ou deixávamos o i4 seguir “à vela”, conseguia atenuar um pouco o gasto de energia…. mas não as oscilações que era possível observar na autonomia, sempre que, por exemplo, ligávamos o ar condicionado e perdíamos, logo aí, cerca de 50 km!
Ainda assim e porque a maior parte da viagem rumo a Sul foi feita ao longo da Nacional 2 e não por auto-estrada – opção justificada não apenas com a garantia de uma maior eficácia da parte do automóvel, mas também por preferência do condutor…), a garantia de convencimento quanto ao desempenho do trem de força elétrico do BMW i4 eDrive40, que, inclusivamente, nos permitiu, após uma viagem descansada, chegar ao Algarve e, mais concretamente a São Bartolomeu de Messines, dar as necessárias “voltinhas”, e regressar, parando apenas em Almodovar, para jantarmos os dois: nós e o I4…

Na bagageira, acomodados num alçapão próprio, os cabos de carregamento. Foto: Turbo
Aliás e sobre o carregamento feito numa tomada pública de Tipo 2, numa altura em que o BMW i4 ainda apresentava cerca de 39% de energia nas baterias, a decisão – nossa – de fazer um carregamento completo, que acabou demorando 5,33 horas. E que, ao contrário do que aconteceria se tivesse sido num posto de carga rápido de auto-estrada, acabou custando-nos apenas 12,28 euros.
TECNOLOGIA
Impulsionado por um trem de força elétrico que ainda é encarado, por muitos consumidores, como uma solução tecnológica vanguardista, o BMW i4 eDrive40 acaba acentuando esta mesma percepção através da adição de outras tecnologias, cada vez mais valorizadas, como é o caso do faróis dianteiros e traseiros em LED, ou, já no interior, do BMW Live Cockpit Plus com visor curvo, do sistema operativo 8 com navegação, da câmara traseira ou do Cruise Control com função de travagem.
Sendo que e porque, não é por ser elétrico, que deixa de ser um BMW, disponível está ainda uma extensa lista de opcionais para enriquecer este i4 ao gosto do seu proprietário.

Parte de uma peça única e que se destaca ao longo de quase um terço do tablier, o ecrã de 14,9″ parte do sistema de infotainment é funcional, prático e intuitivo. Foto: Turbo
Quanto a nós, gostámos, particularmente, no “nosso” i4, da funcionalidade, intuitividade e facilidade de leitura do BMW Live Cockpit Plus, plasmado num ecrã curvo a abraçar levemente o posto de comando, e a que se junta, para ainda maior facilidade na interacção, a já conhecida consola entre os bancos, com os acessos rápidos (tácteis, neste caso…) às principais funções do sistema de informação e entretenimento, além do tradicional e muito funcional comando rotativo.
Também aí, os três “botões” que permitem seleccionar um dos três modos de condução, Sport, Comfort e o mais poupado Eco Pro, embora e também eles, já conhecidos de outras versões e modelos da marca da Munique…
AO VOLANTE
Sobre a condução, a constatação, numa longa viagem de ida e volta ao Algarve, de um conforto, descontracção, mas também eficácia inatacáveis, oferecidos por este excelente EV, mesmo quando e aproveitando uma fase da viagem mais deserta, decidimos puxar pelas capacidades dinâmicas do conjunto. Nessa altura, já com o modo Sport seleccionado, e com o i4 a revelar uma personalidade que pouco ou nada difere da das versões de combustão.

Descontraidamente rumando a Sul e com consumos abaixo do oficialmente anunciado… Foto: Turbo
Assim e a marcar o andamento, uma direcção muito precisa e com óptima capacidade de informação, conjugada com uma eficácia dinâmica que mantém sempre bem controlado todo o conjunto, não esquecendo sequer um sistema de travagem que, ao contrário do que temos registado na maioria dos elétricos, não deixa de transmitir feedback através do pedal do travão.
Quanto aos 340 cv de potência, tornam-se, nesta situação, bem mais reactivos e impetuosos a qualquer toque no acelerador, não revelando sequer quaisquer dificuldades em esconder as mais de 2,1 toneladas de peso, mas contribuindo, sim, para uma maior emoção ao volante, nomeadamente, com algumas ligeiras derivas de traseira, provocadas pelo condutor, embora sempre bem controladas (também) pela eletrónica. Sendo que, nesta altura, também ajudou colocar o Controlo de Estabilidade (ESP) no modo Traction…

Novo momento de pausa, agora, num local de paragem “obrigatória” para muitos viajantes: a Mimosa. Foto: Turbo
Já com algumas longas rectas a surgirem no horizonte, oportunidade para elevar a velocidade, com o i4 a revelar invariavelmente uma enorme estabilidade, assim como um elevado conforto. Tornando, dessa forma, a condução, um momento relaxante, apoiado igualmente na correcta acção de sistemas como a manutenção na faixa de rodagem, parte do opcional Assistente de Condução (764,23€)..
De resto e ainda antes de iniciar a viagem rumo ao Sul, em pleno trânsito citadino, a primeira constatação, neste caso, da validade e excelente opção que é o modo Eco Pro neste BMW i4 eDrive40, para uma vivência em cidade, com, por exemplo, a direcção a surgir um tudo-nada mais leve, mas ainda assim com o peso certo para o momento, marcado igualmente por uma suavidade e linearidade na subida de regime, que mais parece que nos deslocamos num qualquer tapete voador.

A entrada em São Bartolomeu de Messines, a primeira vila a dar as boas-vindas aos viajantes que acabam de entrar “oficialmente” no Algarve, a caminho das desejadas praias. Foto: Turbo
E, tudo isto, sem atrair atenções desnecessárias, a não ser, talvez, pela sonoridade criada pelo compositor Hans Zimmer, a que a BMW deu o nome de IconicSounds Electric. Mas que nós, sinceramente, até dispensaríamos…
VEREDICTO
Espécie de derivação zero emissões daquele que é também um dos modelos hoje em dia mais apreciados na oferta da BMW, a verdade é que este i4 eDrive40 é, igualmente, mais uma demonstração de que a Mobilidade Eléctrica é uma solução, não para o Amanhã, mas para Hoje.
A confirmá-lo, esta emblemática viagem ao Algarve, rumo a Sul, agora que o calor se instala e muitos dos portugueses se preparam para rumar a Sul. Os quais, caso o façam ao volante de um EV como este BMW i4 eDrive40, viverão, com certeza, uma férias quase tão descontraídas – e mais baratas, diga-se! – como se fossem ao volante de um Série 4 de combustão.

Mais do que mais um EV, o BMW i4 eDrive40 é a prova de que, num país como o nosso, a Mobilidade Elétrica é, já hoje em dia, opção totalmente válida. Basta querer… e ter, em casa, onde carregar as baterias. Foto: Turbo
Na verdade, basta, tão só, que se salvaguarde alguns carregamentos… e a Natureza, não apenas do Algarve, mas de todo o País, e até do Mundo, agradecem!…
Gostámos
![]() Comportamento Mesmo com um peso acrescido, resultante da inclusão das baterias, a verdade é que o BMW i4 mantém muita da personalidade do Série 4 com motor de combustão, não perdendo sequer o envolvimento na condução que marca os carros de Munique. |
![]() Consumos Com uma média real nos consumos de 15,6 kWh/100 km, o BMW i4 eDrive40 conseguiu oferecer um registo abaixo do valor oficialmente prometido. E, isso, só pode mesmo ser um excelente argumento e uma óptima notícia!… |
![]() Trem de força Extremamente suave na disponibilização da potência quando a isso é convidado, mas também intenso e determinado quando espicaçado, o trem de força elétrico do i4 chega e sobra para qualquer ocasião ou tipo de condução, convencendo também pela versatilidade. |
Não Gostámos
![]() Autonomia Mais do que a autonomia em si, foi a susceptibilidade da mesma, nomeadamente, ao ligar de sistemas acessórios como o ar condicionado, que de imediato nos “roubava” energia para 50 km, que mais nos deixou incrédulos! |
![]() Visibilidade traseira Embora tenda a ser, na generalidade dos modelos novos, já mais feitio, que defeito, no caso deste i4 e do seu perfil de coupé, com um óculo traseiro enorme mas também muito na horizontal, a situação torna-se ainda mais difícil. Pelo que… valha “Santa Câmara Traseira”! |
![]() Preço Ainda que os seus defensores possam sempre alegar a falta de economia de escala, que encarece todo e qualquer elétrico, a verdade é que este i4 eDrive40 começa nos 62 mil euros, ou seja, mais 10 mil euros que o Série 4 Gran Coupé. É substancial…. |
BMW i4 eDrive40 Gran Coupé
Preço 70 601,32 € (com opcionais)
Motor Elétrico (1)
Potência 340 cv (250 kW)
Binário 430 Nm
Transmissão Traseira, Auto., 1 vel.
Peso 2.125 kg
Comp./Larg./Alt. 4,78/1,85/1,44 m
Dist. entre eixos 2,85 m
Mala 470 – 1.290 l
Desempenho 5,7s 0-100 km/h; 190 km/h Vel. Máx.
Consumo combinado 16,1 (15,6*) kWh/100 km
Autonomia Elétrica 589 (509*) km
Emissões CO2 0 g/Km
Bateria/Capacidade Iões de lítio, 83,9 kWh (80,7 kWh úteis)
Tempos de carga 31 minutos (205 kW CC 0-80%); 8,25 horas (11 kW AC 0-100%)
* Medições Turbo
Equipamento
Opcionais: Kit Branco Mineral metalizada( 772,36€), Sensatec perfurado Preto (292,68€), Alarme antirroubo (430,89€), Sistema de acesso Comfort (504,07€), Jantes em liga leve bicolores de 19″ com pneus mistos 245/40R19 à frente e 255/40R19 atrás (2.260,16€), vidros com proteção solar (361,79€), painel de instrumentos em Sensatec, Luz ambiente interior (308,94€), BMW IconicSounds Electric (170,73€), Assistente de condução (764,23€), Assistente de estacionamento, sistema de som HiFi (317,07€), carregamento sem fios (170,73€), iDrive sem função Touch, display widescreen e preparação para assistência ao condutor I.