BMW 320e. Mas, Diesel, porquê?!

Texto: Francisco Cruz
Data: 27 de Outubro, 2021

Depois de um percurso de sucesso feito, em Portugal, muito à custa do Diesel, a BMW faz agora crescer a sua estratégia, através dos híbridos e elétricos. O BMW 320e é apenas um dos argumentos mais recentes, mas que faz ressaltar a pergunta: “Mas, Diesel, porquê?!”.

A verdade é que, não foi há tanto tempo assim – se é que tal tempo já passou!… -, que, ver passar por nós um BMW Série 3, era quase sempre sinónimo de uma motorização 320d, ou seja, Diesel.

No entanto e especialmente com o advento da Electrificação, a BMW parece assumir a intenção de mudar essa imagem pré-feita, nomeadamente, através do reforço não só da sua gama 100% elétrica, como também da oferta híbrida. E, neste caso, com, mais recentemente, o lançamento de um 320 ligeiramente… diferente – também com um quatro cilindros 2,0 litros, mas a gasolina, e com mais potência que o 320d – 204 cv, contra 190 do turbodiesel. Embora e neste caso, graças à novidade que é a componente elétrica.

Foto: Turbo

Por outro lado, igualmente positivo acaba sendo o facto de, exteriormente, este BMW 320e praticamente não alardear pormenores que denunciem a sua faceta mais “ecológica”. Resumindo a sua afirmação a pouco mais do que a troca do ‘d’, pelo ‘e’, na numeração 320 que ostenta na tampa da bagageira, e que se junta, ainda, a “misteriosa” segunda portinhola que exibe junto à roda dianteira. Esta última, ainda assim, bem menos “ostensiva” do que, por exemplo, a pequena letra ‘M’ que a unidade alvo deste ensaio ostentava logo acima e que denunciava, entre outros elementos, a integração do Pack M Plus (6.211,38€), de soluções como o pack aerodinâmico M ou ainda da versão desportiva M…

INTERIOR

E se, no exterior, poucos são os sinais denunciadores do posicionamento mais “verde” deste BMW 320e, o mesmo se nota no habitáculo, onde o design, a solidez da construção, e a qualidade dos materiais, surgem intocados e sem qualquer alteração face, por exemplo, ao 320d. O mesmo acontecendo com a óptima posição de condução, resultante da opção por bancos dianteiros desportivos e com apoio lombar (o do condutor também com ajuste da largura), um volante desportivo M em pele de pega excelente, além de pedais e apoio de pé esquerdo em metal e borracha. Proporcionando um melhor e fácil acesso à generalidade dos comandos e ecrãs, do que propriamente visibilidade traseira.

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De resto, este 320e imita o “irmão” 320d até mesmo na habitabilidade traseira, onde o espaço disponível continua mais vocacionado para apenas dois passageiros, já que, ao meio, não só o assento é mais alto e menos acolhedor, como também a existência de um túnel de transmissão saliente, acaba causando algumas incomodidades.

Foto: Turbo

Finalmente e quanto à bagageira, uma diminuição na capacidade, devido à deslocalização do depósito da gasolina para a área sob a mala, como forma de conseguir acomodar igualmente a bateria do sistema híbrido. O que levou a que este 320e anuncie 375 litros de capacidade, contra os 480 da versão a Diesel, ainda que mantendo a mesma capacidade de rebatimento 40/20/40 das costas dos bancos traseiros.

MECÂNICA

Tal como já referido, o BMW 320e destaca-se pelo recurso a um sistema de propulsão híbrido, quarta evolução do já conhecido sistema eDrive. Neste caso, a utilizar como base um quatro cilindros 2,0 litros a gasolina, equipado com turbocompressor, e que lhe permite anunciar uma potência máxima de 163 cv, a par de um binário de 300 Nm, logo a partir das 1.350 rpm.

No entanto e a contribuir para um ainda melhor desempenho deste trem de força, surge, não somente uma caixa automática Steptronic de oito velocidades, com patilhas no volante e conversor de binário, globalmente competente no seu desempenho, como também e principalmente, um motor elétrico, cuja potência máxima atinge os 113 cv. Contribuindo, dessa forma, para que este 320e disfrute de uma potência combinada que atinge os 204 cv, assim como de um binário máximo fixado nos 350 Nm. Valores com os quais consegue acelerar dos 0 aos 100km /h em 7,6 segundos – mais 0,9 segundos que o 320d – e atingir a velocidade máxima anunciada de 220 km/h – menos 20 km/h que o Diesel.

Foto: Turbo

No apoio ao motor elétrico, um pack de baterias de iões de lítio cuja capacidade oficial é de 12 kWh (10,8 de capacidade útil) e que anuncia, também, uma autonomia 100% elétrica na ordem 60 km. Valor que, diga-se, não ficou muito distante dos 56 km por nós obtidos, isto sem nunca ultrapassar os 140 km/h que é a velocidade máxima para condução em modo EV.

Finalmente e quanto ao carregamento em tomada, a BMW fala em 3h60m para repor a capacidade total da baterias, isto se utilizada uma potência na ordem dos 3,7 kW.

TECNOLOGIA

Independentemente do facto de ser a gasolina, Diesel ou híbrido, este é um aspecto que, na BMW, tem um só fio condutor – o da personalização do veículo. O que faz com que, para poder contar com um automóvel com algum charme, o proprietário acabe por ser “aconselhado” a recorrer à extensa lista de opcionais.

Ainda assim e tomando como ponto de partida a versão desportiva M (54 835,15€), destaque para a presença, no exterior, de elementos como os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, as luzes de nevoeiro em LED ou a protecção acústica para peões. Ao passo que, no habitáculo, garantidas estão tecnologias como o BMW Live Cockpit Professional, espelho retrovisor interior com função automática antiencandeamento ou ainda um sistema de informação e entretenimento conjugado com os serviços ConnectedDrive, eDrive, TeleServices e serviços digitais Professional.

Foto: Turbo

Finalmente e já no capítulo da segurança e protecção, Cruise Control com função de travagem, monitorização da pressão dos pneus, protecção activa, fecho automático das portas em andamento e alarme anti-roubo.

Tudo o resto… é opcional. E pago à parte.

AO VOLANTE

Na verdade e embora acrescido da componente elétrica, o BMW 320e pouco ou (quase) nada difere de um BMW apenas com motor de combustão. Revelando uma atitude desenvolta, com o motor sempre presente e enérgico, além de um tacto tipicamente BMW. Graças, também, à presença de uma suspensão adaptativa M que, embora firme, não chega a ser dura, revelando, ao mesmo tempo, uma meritória preocupação com a dinâmica do conjunto. Postura que, aliás, não se cansa de transmitir ao condutor, o qual mantém uma informação constante, quer sobre o posicionamento do veículo, quer sobre os terrenos que pisa.

Igualmente ao serviço do condutor, um sistema de modos e sub-modos de condução, que permite optar entre o atuação Hybrid, Electric , Sport ou Adaptative, existindo ainda um modo para preservação da energia existente na bateria, para utilização futura (Save), e um outro destinado a carregá-la em andamento, utilizando para tal o motor a gasolina (Charge). Ambos seleccionáveis através do botão ‘Battery Control’ e que, a exemplo dos anteriores, surge junto à manche da caixa de velocidades, na consola entre os bancos.

Foto: Turbo

Com energia nas baterias, convincente, sem dúvida e desde logo, os consumos, que a BMW fixa, oficialmente, nos 1,4 l/100 km (gasolina) e 16,3 kWh/100 km (elétrico), e que, nas nossas mãos, se situaram em 3,1 l/100 km e 11,5 kWh/100 km. Sendo que, uma vez esgotada a energia após 56 km a circular, o 320e passou automaticamente para modo híbrido (até aí, vínhamos a conduzir em modo Electric…), embora continuando a arrancar em modo elétrico, graças a energia que o quatro cilindros passou a depositar nas baterias. A qual, infelizmente, já só não chega para enfrentar, a contento, as “BMW eDriveZones” que já existem em Lisboa e onde o modelo, a exemplo do irmão 330e, consegue assumir automaticamente, a troca da gasolina, pela energia elétrica…

Finalmente e porque se trata de um BMW, tempo ainda para uma saída do ambiente citadino e um “pulinho” até uma estrada onde as curvas são uma constante, apenas para percebermos que, embora PHEV, este 320e continua sendo um digno representante da Casa de Munique. Distinção traduzida numa elevada estabilidade e precisão na condução, assim como numa salutar irreverência. Que, também neste caso, surge traduzida na forma fácil e descomplicada como, em particular com o ESC desligado, solta a traseira, de modo sempre controlado e sem reacções intempestivas. Mesmo, com o acréscimo de peso, resultante da presença das baterias!

VEREDICTO

Encarado, hoje em dia, como uma espécie de sucessor natural do 320d, a verdade é que este BMW Série 3 híbrido plug-in, mais conhecido como 320e, acaba correspondendo, no dia-a-dia, a esta elevada expectativa. Não apenas por manter todos os predicados expectáveis num Série 3, como também por conseguir acrescer a isso, qualidades muito semelhantes àquelas que fizeram da versão Diesel, um objecto de desejo para muito condutores portugueses. E, neste caso, sem a penalização das emissões!

Foto: Turbo

Resultados que, mesmo com os mais de 50.570€ euros com que se inicia (versão Advantage) e ainda sem todos os opcionais que a unidade que surge nas fotos ostenta (com estes, orça os 60.056,83€), reforça a pergunta: “Com tão bons argumentos, para quê Diesel?!”…

 

Gostámos Gostámos

Desempenho dinâmico

Até pode estar electrificado, com mais peso e até sem a mesma sonoridade, mas a verdade é que, a reconhecida “personalidade” Série 3, continua intocada!…

Consumos

Trata-se de um aspecto importante, ainda para mais, na comparação com a “referência” 320d, sendo que, também aqui, os 3,1 l/100 km de consumo na gasolina, falam por si próprios.

Posição de condução

Mais um aspecto muitas vezes elogiado, não só no Série 3, mas também em praticamente todos os modelos BMW, e que, pelo menos neste 320e, a electrificação claramente não veio mudar… e ainda bem!

Não Gostámos Não Gostámos

Bagageira

Nunca tendo sido, propriamente, um aspecto referencial nas versões de combustão, a eletrificação do Série 3 acabou piorando o panorama, devido à necessidade de acomodação das baterias.

Lugar do meio
Mais um aspecto (negativo) que transita das versões com motores de combustão, acentuado igualmente por um túnel de transmissão instrusivo. E que, reconheça-se, a eletrificação não conseguiu atenuar…

Opcionais

Mais do que um defeito, é já feitio na marca de Munique. O que, ainda assim, não impede que a quase obrigatoriedade de recorrer à lista de opcionais, para conseguir um veículo à imagem do estatuto da marca, não possa ser alvo de críticas…


BMW 320e


Preço 60.056,83
Motor gasolina, 1998 cc + elétrico atrás
Potência 163 cv (120 kW) + 113 cv (83 kW) / 204 cv (150 kW)
Binário 300 Nm + — Nm / 350 Nm
Transmissão Traseira, cx. auto. 8 vel.
Peso 1840 kg
Comp./Larg./Alt. 4,70/1,82/1,44 m
Dist. entre eixos 2,85 m
Mala 375
l
Desempenho 7,6s 0-100 km/h; 225 km/h Vel. Máx.
Consumo Gasolina 1,3 (3,1*) l/100 km
Consumo Elétrico 16,3 (11,5*) kWh/100 km

Emissões CO2 29 (73,7*) g/Km
Bateria/capacidade Iões de lítio, 12 kWh (10,8 kWh capacidade útil)
Tempos de carga 3h60m (3,7 kW)

* Medições Turbo

Equipamento
Série: Jantes em liga leve de 18″ com pneus Runflat 255/40R18, luzes de nevoeiro em LED, pack aerodinâmico M, frisos exteriores Shadow Line BMW M, bancos dianteiros desportivos, volante desportivo M em pele, direcção desportiva variável, ar condicionado automático, BMW Live Cockpit Professional, TeleServices, serviços eDrive, serviços ConnectedDrive, serviços digitais Professional, espelho retrovisor interior com função automática antiencandeamento, banco traseiro rebatível assimetricamente com encostos de cabeça rebatíveis, sensores de estacionamento dianteiros/traseiros, Cruise Control com função de travagem, monitorização da pressão dos pneus, alarme antirroubo, protecção acústica de peões, fecho automático das portas em andamento, protecção activa.