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Opinião: Clicks e neurónios

Texto: Júlio Santos
Data: 1 de Outubro, 2019

Mais uma publicação do setor automóvel que desaparece: a segunda em menos de seis meses, a quarta se recuarmos apenas um par de anos.

Diz-se que “por morrer uma andorinha não acaba a Primavera” mas a verdade é que neste setor da comunicação especializada o Outono que já vai longo, anuncia um Inverno desolador.

Com prejuízo para quase todos. Principalmente para aqueles que reconhecem a importância da informação de qualidade. Que estão bem cientes da diferença entre o trabalho realizado por especialistas ou por um grupo de amigos que se junta numa garagem, como à mesa do café, para falar de automóveis e discutir “aquele penalti”.

Reproduzo um excerto do texto enviado por Sandro Meda, diretor da extinta Auto Mag, a alguns “players” do setor.

“Sobrepôs-se a perspetiva de quem não considera importante o ato de alguém que escolhe uma edição em papel, especializada, em suporte físico, que se dá ao trabalho de procurá-la, que se desloca só para comprá-la, lê-la, tê-la, folheá-la, descobri-la e partilhá-la com os outros apaixonados que gostam de saber e de falar das últimas novidades… como se fossem as últimas. Mesmo que esse seja um de vários milhares, todos muito mais focados no que escolhem do que alguns milhões que repudiam o que se lhes impõe em formato instantâneo”.

Um parágrafo que traduz, de forma lapidar, as principais razões que estão a conduzir ao fim da imprensa especializada, algo que se anuncia como inevitável e que terá consequências devastadoras para todos.

Para os que ainda são capazes de distinguir entre informação e aquilo que qualquer um pode publicar no “Facebook” ou em sites de garagem. Mas, também, para aqueles que esfregam as mãos com o triunfo de uma certa postura “zombie”, em que nada é questionado, acreditando que daí podem retirar vantagens.

Para as marcas que, ao contrário do que pensam, só têm a perder com a proliferação de consumidores desinformados. Para os que preferem uma mentira bem ornamentada, a uma verdade “banal”. Para os que se acomodam em estatísticas que dão “jeito” (como é o caso das audiometrias televisivas).

 Triunfarão, talvez, aqueles que acreditam que um click vale mais do que um neurónio.

Artigo de opinião publicado originalmente na edição de maio da Revista Turbo