Carlos Ghosn foi interrogado por alegadas práticas ilegais, em que se apropriou de dinheiro da empresa para fins particulares e ocultou rendimentos. Se o CEO da Nissan vier a ser condenado, pode passar até 10 anos na cadeia
Esta semana começou com uma verdadeira “bomba” no mundo automóvel, com a detenção do carismático líder da Nissan, Renault e da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Carlos Ghosn, o “todo poderoso” líder do grupo franco-nipónico, foi interceptado pelas autoridades assim que o seu avião aterrou em Tóquio, para ser interrogado relativamente a práticas ilegais em que se utilizou dinheiro da Nissan para fins pessoais. Embora ainda não exista uma queixa a decorrer em tribunal, se o caso chegar à barra da justiça e Ghosn for condenado, a sua pena pode chegar a 10 anos de prisão e/ou multas no valor de 10 milhões de ienes.
As acusações
O caso terá começado com uma denúncia de um funcionário da Nissan, o que despoletou uma investigação interna. Alegadamente, esta análise às contas terá detetado que Carlos Ghosn, com a ajuda de outro alto responsável da empresa, Greg Kelly, terá conspirado para incluir nos relatórios de contas apenas metade dos 77 milhões de dólares que recebeu desde 2010. Além disso, o Presidente da Nissan (que anunciou já que pretende substituir Ghosn nos cargo) terá utilizado fundos do fabricante para a aquisição e obras nas habitações que possui, e que são apenas de utilização pessoal, no Rio de Janeiro, Beirute, Paris e Amesterdão.
Carlos Ghosn entrou para CEO da Nissan em 2001, e chegou também à mesma posição na Renault em 2005, acumulando depois os cargos de Presidente das duas marcas desde 2008 e 2009, respetivamente. Além disso, também se tornou no responsável máximo pela Aliança Renault-Nissan, que a partir de 2016 englobou a Mitsubishi. Esta não é, no entanto, a primeira vez que surgem suspeitas relativas aos vencimentos obtidos por Carlos Ghosn, Ainda no último ano surgiram investigações a uma possível prática ilegal que se destinaria a ocultar rendimentos que seriam obtidos a partir dos lucros e sinergias obtidos entre as marcas da Aliança.
Qual o futuro sem Carlos Ghosn?
Obviamente, com as suspeitas que recaem sobre Carlos Ghosn, tanto a Nissan como a Renault preparam-se para “arrumar a casa” e fazer com que a liderança das empresas mude de mãos. A marca japonesa prepara-se, na reunião de quinta-feira, para retirar a confiança ao atual Presidente e eleger um outro representante para o cargo. Também a maior accionista da Renault, o estado francês, está a encetar esforços para que Ghosn saia da liderança da companhia. O Ministro das Finanças de França, Bruno Le Maire, foi taxativo e informou que “Carlos Ghosn não se encontra numa posição em que seja capaz de liderar a Renault”. Um dos mais fortes candidatos à sucessão é Thierry Bolloré, o COO (Chief Operating Officer) da marca do losango.
Além da sucessão, começam a surgir muitas dúvidas sobre qual será o futuro da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Ao longo de duas décadas, Ghosn foi formando uma complicada ligação entre as empresas, e muitos temem que com a saída deste líder o grupo possa cair. Até porque não se trata de uma fusão completa entre as empresas, mas sim de uma troca de participações, onde a Nissan acaba por estar em desvantagem. Porque embora sejam os nipónicos quem mais vende dentro da Aliança, eles apenas têm 15% da Renault, enquanto os franceses estão na posse de 43,4% das ações da sua parceira de grupo.
Existe, além disso, uma empresa com sede na Holanda, a Renault-Nissan BV (onde as práticas de Ghosn já estão a ser também investigadas) que controla a atividade da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Como se pode perceber, trata-se de um complicado equilíbrio de poderes, que poderá agora ruir com a saída do homem que formou este grande grupo. Será preciso saber qual a posição assumida tanto pela Nissan como pela Renault para saber qual será o futuro do grupo franco-nipónico, que foi quem vendeu mais automóveis ligeiros de passageiros em todo o mundo durante o último ano.
Fonte: Automotive News Europe e mais fontes