Fabricantes e concessionários chineses inflacionaram vendas

As marcas de automóveis e concessionários são acusadas de inflacionarem as vendas na China, recorrendo à prática de fazerem seguro aos veículos antes destes terem sido efetivamente comercializados. Os compradores é que não gostaram de saber da existência de registos anteriores e as reclamações sucedem-se.

Os fabricantes e concessionários chineses de marcas automóveis recorreram a uma estratégia generalizada para inflacionar as vendas de veículos para responderem à guerra de preços no maior mercado de veículos do mundo.

Recentemente surgiram algumas notícias a dizer que as marcas de veículos elétricos Neta e Zeekr tinham feito seguro a automóveis sem os mesmos estarem vendidos. Este esquema inflaciona o volume de vendas e sugere que as empresas estão a atingir os objetivos anunciados.

Agora veio-se a descobrir que aquelas não foram as únicas entidades a enveredar por uma estratégia “criativa” de empolamento das vendas, já que começaram a aparecer inúmeras queixas de consumidores que foram publicadas em populares sites chineses. Em mais de um dúzia de casos, os consumidores foram informados pelos concessionários que aquela prática tinha sido utilizada para se cumprir os objetivos de vendas.

Aquela estratégia terá sido implementada pelas marcas nacionais e estrangeiras com maior volume de venda de automóveis na China, incluindo a BYD, Toyota, Volkswagen e Buick. A operação daquelas três marcas estrangeiras é efetuada em parceria com os gigantes GAC e SAIC Motor Group, que são detidos pelo Estado chinês.

Outras marcas como a Changan, Li Auto, FAW-Volkswagen, FAW Honqi, SAIC Roewe, Dongfeng Nissan, GAC Honda e SAIC GM e Geely foram acusadas de adotarem as mesmas práticas.

Inúmeras Reclamações

Apesar das primeiras reclamações terem aparecido em 2021, a maioria delas foi publicada este ano. A agência Reuters analisou reclamações expostas no site 12365auto.com, uma plataforma independente utilizada na resolução de disputas com os consumidores, que obriga os proprietários a confirmar a identidade e a submeter provas das sua alegações. Na maioria dos casos analisados, os fabricantes respondem publicamente, dizendo que estão a procurar resolver o problema. 

Tudo indica que os números de vendas de automóveis na China tenham sido inflacionados pelo esquema dos seguros. Entre 2021 e 2025 foram apresentadas reclamações nas plataformas 12365auto.com, china.com e Black por parte de compradores que afirmaram ter descoberto que o veículo que compraram já tinha tido um seguro anteriormente em nome de outra entidade.

Usados “zero quilómetros”

Os veículos novos registados antes de serem entregues aos compradores são designados na China como “veículos usados com zero quilómetros”. A prática teve origem numa feroz guerra de preços que se deve ao excesso de capacidade de produção. Mais de 100 marcas competem intensamente para sobreviverem à consolidação, aumentando a pressão para incrementar as vendas e ganhar quota de mercado.

Os analistas e os investidores que seguem a indústria utilizam dois conjuntos de dados: as vendas totais comunicadas pelos fabricantes à associação da indústria mostram os negócios entre as marcas e os concessionários, enquanto os dados do retalho compilados pelos registos obrigatórios de seguro indicam as vendas aos utilizadores.

As acusações de venda de carros com registo anterior de seguro remontam a 2016 quando um comprador de uma viatura Cadillac afirmou num programa de uma estação de rádio regional que tinha descoberto que o carro teve seguro antes da compra.

A prática parece ter ganho força após o início da guerra de preços em 2023, quando várias marcas lideradas pela Li Auto começaram a publicar todas as semanas nas redes sociais tabelas de vendas baseadas nos registos de seguros.

A Associação de Fabricantes de Automóveis da China criticou essas publicações, dizendo que não são fiáveis e já este mês acusou-as de intensificarem uma concorrência “perversa”.