Dongfeng Box: Caixinha de contradições

Com 4,02 metros de comprimento, o Box é a aposta da Dongfeng para a mobilidade urbana. Um utilitário de pleno direito, com espaço para quatro adultos, algumas bagagens e uma bateria de 43,9 kWh (42,3 kWh úteis) que chega e sobra para as voltas do quotidiano. Limitando a potência aos 95 cv e o peso aos 1430 kg, o Dongfeng Box consegue facilmente consumos na casa dos 12 kWh/100 km.

Um posicionamento certeiro, desafiado apenas pelo Citroën ë-C3 que, para uma pegada e bateria equivalentes, anuncia menor autonomia. O modelo francês tem a seu favor o preço base de 23 300 €, inferior aos 26 750 € do Dongfeng Box Pro. Ambos tês apenas dois níveis de equipamento, com a versão Max do Citroën a acrescentar 4500 € ao ë-C3 You e o elétrico chinês a posicionar a versão Box Plus nos 28 000 €. Sempre mais caro que o francês, mas como veremos neste Box Plus pleno de equipamento.

Desenvolvido sobre a plataforma S3 da Dongfeng, o Box tem ares de Smart. O desenho da assinatura visual dianteira levou muitos curiosos a questionar se era o novo Smart… esclarecidas as dúvidas, o Box segue a sua linha de estilo. Empurra as rodas para os extremos da carroçaria, de forma a estender a distância entre eixos até aos 2,66 metros, mantendo as jantes numas confortáveis 17 polegadas. Desenha quatro portas sem moldura, complementadas por um portão traseiro pequeno. O movimento é manual, pouco amplo e o recheio volumoso (pega, fecho e toda a proteção plástica envolvente) obriga os utilizadores com mais de 1,80 metros a ter cuidado com a cabeça.

Para além de estreito, o plano de carga é elevado e desalinhado com o piso da mala. Esta não tem chapeleira, nem rebatimento assimétrico das costas dos bancos traseiros. Ampliar a capacidade dos 326 para os 945 litros inviabiliza a utilização daqueles lugares. Os bancos posteriores têm desenho integral, com os dois lugares bem marcados. O cinto de segurança central sugere a existência de um terceiro lugar que a realidade desaconselha a utilizar. Com dois ocupantes há bastante espaço para pernas e cabeça.

Muito equipamento

À frente também não falta espaço, mas as mordomias estão reservadas para o condutor. Espelho de cortesia iluminado e ajuste elétrico do banco, com memória programável no ecrã central, aquecimento e ventilação só estão disponíveis para quem se senta atrás do volante. Quando os dados disponíveis sugerem que a maioria das deslocações diárias é feita apenas com o condutor, eventualmente com crianças nos lugares traseiros, faz sentido. O que não faz sentido é que um utilitário com estas soluções não tenha regulação em profundidade da coluna de direção ou rádio FM. O Box tem DAB, uma frequência digital não utilizada em Portugal.

Também estranhamos a ausência de Apple Car Play e Android Auto num automóvel com um carregador sem fios no apoio de braços. Há ligação Bluetooth, mas para espelhar o smartphone é necessário descarregar uma aplicação específica. Vive-se bem sem ela, desde que não se precise de utilizar a navegação. O Dongfeng Box depende da navegação do smartphone…

Com os botões limitados ao volante, o ecrã central de 12,8 polegadas concentra as operações secundárias. Menus intuitivos tentam compensar a pouca velocidade do processador. Ajustar a climatização durante a condução pode ser uma operação mais demorada que o desejável. E não somos apenas nós que o dizemos. O sistema de alerta para a desatenção do condutor é o primeiro a informar que desviámos os olhos da estrada durante mais tempo do que o desejável. Seria uma ajuda interessante se não estivesse constantemente a interromper a música com alertas. Basta olhar para o espelho, procurar um lugar de estacionamento ou ler uma placa de autoestrada para receber uma advertência. Felizmente desliga-se em quatro toques.

Poupado

Da iluminação aos modos de condução (Comfort, Eco e Sport), passando pelas câmaras de 360 graus, com uma interessante visualização 3D, tudo passa pelo ecrã central. À frente do condutor, o painel de instrumentos de cinco polegadas apresenta a informação indispensável à condução e o computador de bordo. Este tem uma fonte tão pequena que quem precisar de óculos para ler vai ter de os usar para ler os consumos. Que são igualmente pequenos.

Habituados a automóveis elétricos com potências e prestações desmesuradas, foi com curiosidade que arrancámos com o Dongfeng Box e o motor de 95 cv e 160 Nm. É como conduzir um utilitário com motor de combustão, sem as vibrações e ruídos associados. Acelera até aos 100 km/h em 12,5 segundos, convidando a conduzir sem a urgência típica dos automóveis elétricos. A velocidade máxima de 140 km/h é excelente para evitar multas.

Sem pressas ou em ambiente urbano, o Dongfeng Box não tem dificuldade em fazer médias de 12 kWh/100 km, que sobem para os 14,8 kWh em circuito misto. Menos que os 15,6 kWh/100 oficiais. Nem a autoestrada consegue fazer disparar os consumos. Por mais que se esmague o acelerador, a resposta é sempre demorada.

PREÇO  51 571€ (52 150€ - unidade ensaiada)

MOTOR 1 X Elétrico

POTÊNCIA 95 cv (70 kW) 

BINÁRIO 160 NM

TRANSMISSÃO Dianteira

COMP./LARG./ALT. 4,02/1,81/1,57 M

DISTÂNCIA ENTRE-EIXOS 2,66 M

PESO 1430 KG

MALA 326 - 945 L

ACEL 0 - 100 KM 12,5 S

VEL. MAX 140 KM/H

CONSUMO WLTP 15,6 (14,8*) kWh/100 km

CAPACIDADE BATERIA 43,9 (42,3 úteis) kWh

AUTONOMIA 310 KM (297 KM*)

TEMPO CARGA 7H15 (7,4 KW)  

POTÊNCIA MÁX. CC 87,8 kW

* Medições Turbo