Ensaio Completo Kia Sportage 1.7 CRDI

Texto: Marco António / Fotografia: José Bispo
Data: 19 de Março, 2017

O mercado dos SUV/Crossovers está mais competitivo do que nunca e por isso nunca houve tantas propostas como agora. O novo Kia Sportage é uma dessas propostas, agora com um estilo mais europeista…

 

A ideia de que os carros coreanos são para os asiáticos já não é bem assim e a prova disso são as realizações mais recentes como esta quarta geração do Kia Sportage fabricado no continente europeu. Desde a sua apresentação ainda em fase de concept que era visivel uma grande mudança de visual, num exercício tão bem conseguido que a parte frontal nos faz lembrar por vezes o Porsche Cayenne, um carro muito apreciado por uma clientela mais sofisticada e também mais endinheirada.

O refinamento é tão grande que pela primeira vez a Kia adota a especificação GT Line, uma versão concebida para aqueles clientes que procuram uma experiência de condução mais desportiva. Agora com um posicionamento mais “premium” a nova geração do Kia Sportage tem como principal concorrente o Nissan Qasqhai que, em 2015 liderou destacadamente o segmento, com uma cota de mercado superior a 60 por cento! Outros concorrentes menos relevantes são o Peugeot 3008 ou o Mitsubishi ASX, entre outros.

Para além de ter mudado de visual o novo Sportage melhorou em muitos outros aspetos que iremos descobrir ao longo deste ensaio mais completo, nomeadamente o comportamento dinâmico, um dos pontos criticados na anterior geração. Seja como for, este SUV é fruto de uma longa aprendizagem tendo em conta que a marca coreana foi pioneira deste conceito desde a primeira geração do Sportage, quando outras marcas ainda nem sequer pensavam no interese e na importância desde segmento.

O facto do desenvolvimento deste novo SUV ter partido de uma plataforma completamente nova, que levou a um aumento da rigidez estrutural de quase 40 por cento é revelador do esforço e da evolução que este modelo conheceu em relação ao anterior e aos seus concorrentes. E como os olhos também comem (como diz um velho adágio popular), a Kia tratou de dar ao novo Sportage um visual atrativo com destaque para a parte da frente onde o já conhecido focinho de tigre (uma definição da marca) é uma das suas caraterísticas distintivas mais marcantes. Entretanto, os eixos bem próximos das extremidades e as jantes de 19” dão ao Sportage uma imagem de grande robustez que se traduz numa qualidade, quase diríamos, sem defeitos. Só é pena que a altura ao nível do eixo dianteiro não permita que este carro pague classe 1 nas portagens em qualquer circunstância, sendo preciso a Via Verde para isso acontecer.

Embora a aerodinâmica tenha melhorado em relação ao anterior modelo, a verdade que esta é uma vertente que tem um potencial de melhoria mais limitado devido às dimensões exteriores de um veículo com estas caraterísticas. Mesmo assim, o resultado não é mau e por isso não se sente uma grande resistência ao vento quando andamos mais depressa, nem sequer se pressinta qualquer tipo de instabilidade por ser naturalmente mais alto. A segurança foi neste caso revista quer do ponto de vista estrutural, quer das ajudas ativas. Estas multiplicam-se e já não se resumem ao simples controlo de estabilidade. Entre as muitas ajudas novas é pena que o sistema de travagem autónoma de emergência só esteja disponível por encomenda e por um acréscimo de preço de 1500 euros.

Entretanto, o aumento das dimensões exteriores como a distância entre eixos (30 milímetros) e o comprimento permitiu aumentar a mala que, sendo grande, aloja o pneu de recurso, uma ideia que acolhemos bem. O acesso, não sendo mau, é alto.

No habitáculo, além do espaço, do enorme silêncio e da qualidade de construção destacamos uma decoração cuidada e bastante sóbria. Ainda que o design não seja um aspeto que entre na contabilidade dos pontos, a verdade é que, se entrasse, a pontuação não era a mesma do desenho exterior, onde, como dissemos, há rasgos criativos notórios. No interior a Kia apostou claramente na qualidade real, melhorando a construção, e na qualidade percecionada escolhendo materiais diferentes.

A habitabilidade também aumentou, batendo todos os seus concorrentes, uma vantagem que se deve, sobretudo, ao superior comprimento do habitáculo, à largura à frente e atrás, onde o espaço para as pernas é amplo e versátil. Embora o banco traseiro não possa ser regulado longitudinalmente tem a vantagem de afinar a inclinação das costas. Estas rebatem completamente quando queremos ampliar a capacidade da mala formando uma base totalmente plana.

Espaçoso e confortável, estranhamos que tratando-se de um modelo novo e destinado a um público mais jovem os sistemas de conetividade propostos não acompanhem o que de melhor se faz nessa matéria, ao que alguns concorrentes já aderiram. Estamos a falar, por exemplo, da possibilidade de importar aplicações do telemóvel para o ecrã tátil colocado a meio do tablier, a ligação à internet ou o streaming de áudio, no mínimo! Em compensação oferece um sistema inédito de carregamento do telemóvel sem qualquer ligação por cabo.

Tirando essas modernices eventualmente pensadas para mais tarde, encontramos na versão mais baixa (EX) já bastante equipamento, como a assistência ao arranque em plano inclinado, sensores de chuva e de luz, Bluetooth ou o volante com múltiplos comandos (multifunções). A versão TX já é mais completa e para os que gostam de uma vertente mais desportiva há a nova versão GT Line. Qualquer dessas versões passa com distinção nos testes da EuroNcap na proteção dos ocupantes e também dos peões.

Embora tudo o que foi dito seja pura tecnologia, a verdade é que quase toda a gente liga essa vertente à parte mecânica e sobre essa matéria grande parte do que o novo Sportage apresenta é conhecido, nomeadamente o motor 1.7 CRDi de 115 CV que já vai na sua terceira geração.

Por ser o mais popular na Europa e em Portugal fazia todo o sentido que este primeiro ensaio mais completo começasse por ele e não pelo 2 litros que está disponível com duas opções de potência 136 CV e 184 CV ou por um dos dois motores a gasolina, 1.6 Ddi de 132 CV ou pelo 1.6 T-GDi de 177 CV. Com o recrudescimento dos motores a gasolina estas são duas opções a seguir com atenção pelos conteúdos que oferecem. Na versão ensaiada é notória a redução do ruído do motor 1.7 CRDI.

Grande parte da suavidade que agora se sente deve-se ao escalonamento da caixa manual de seis velocidades. Só é pena que a nova caixa DCT de dupla embraiagem e sete velocidades somente esteja disponível para o motor a gasolina mais potente. Tendo em conta os pressupostos do seu desenvolvimento seria uma preciosa ajuda para reduzir ainda mais o consumo deste motor diesel, contribuindo simultaneamente para suavizar ainda mais o seu funcionamento.

As jantes de 19” e a suspensão independente atrás garantem comportamento equilibrado mesmo quando saímos dos caminhos de alcatrão e nos aventuramos sem tração às quatro rodas por trilhos de terra. Apesar de ser um SUV não está prevista nenhuma versão com tração total. Para além de encarecer o preço, a marca acha que os clientes do Sportage pouco se aventuram e a verdade é que o histórico e o dia-a-dia das pessoas que usam este tipo de carros demonstra precisamente a tese defendida pela Kia.

Herdeiro dos novos valores de qualidade e desportividade da Kia, o Sportage destaca-se por ter um comportamento acima de tudo confortável. Não só porque a suspensão é muito competente nessa sua função como todo o interior está bem isolado do ponto de vista acústico. A condução resulta simples e agradável não só quando andamos na cidade onde a direção oferece a dose certa de assistência.

Onde a condução é menos satisfatória é na auto-estrada ou em estradas com curvas devido à elevada assistência da direção que retira rigor na definição das trajetórias ao ponto de não sabermos muitas vezes a posição exata das rodas. E se este é um ponto pouco importante para quem privilegia o conforto já não o é para quem gosta de uma reação mais desportiva. Isto pode parecer um paradoxo tendo em conta os 115 CV do motor 1.7 CRDi, mas a verdade é que este motor consegue boas prestações, desde que não aumentemos muito a relação peso/potência.

Nessa altura é claro que não há milagres e por isso é natural que o comportamento e, sobretudo, as prestações se alterem significativamente. Mesmo assim e tendo em conta os resultados do teste de ultrapassagem onde o Kia Sportage conseguiu passar sem mácula a 75 Km/h, o resultado é positivo, pelo que o comportamento geral é bastante equilibrado.

Também o manuseamento da caixa manual de 6 velocidades é rápido, preciso e ágil. Só não gostámos do tamanho e do design da pega. Há coisas mais bonitas e ergonómicas. A boa superfície vidrada e algumas ajudas garantem uma boa visibilidade, assim como a posição de condução é boa e fácil de encontrar enquanto o volante tem a dimensão ideal (não é muito grande nem muito pequeno).

Como era de esperar a nova geração do Kia Sportage mantém a oferta de sete anos, uma vantagem que tem como base um grau de fiabilidade muito elevado, fruto de um reduzido número de problemas num período tão longo como este. Neste aspeto os 7 anos ou 150 mil quilómetros é uma meta que não é seguida pela generalidade dos concorrentes. Esta grande diferença não só gera confiança nos clientes como contribui para uma redução significativa dos custos totais de utilização que é um dado importante para quem compra um carro ou qualquer outra coisa, mas a que poucos clientes ligam.

Mas as vantagens do ponto de vista económico estendem-se a outras áreas como a oferta do IUC (135 euros) no primeiro ano, ou à campanha que reduz o preço em 3500 euros. Embora não saibamos até quando dura essa campanha, mesmo assim não podemos afirmar que o valor proposto é muito baixo tendo em conta o que os concorrentes propõem. A notoriedade deste modelo faz com que o valor de retoma tenha também valorizado e isso é um dado igualmente importante.