MERCEDES-BENZ E 220 D STATION

Texto: Marco António / Fotografia: José Bispo
Data: 22 de Julho, 2017

A sexta geração da Mercedes Classe E Station é o corolário de uma história com meio século. Depois da berlina, é a vez de testarmos o talento e as qualidades de um modelo que promete dar continuidade a uma história repleta de sucessos.

CARROÇARIA 37/50

Ao contrário da berlina, a carrinha tem um estilo mais dissonante face à tendência das marcas em fabricar modelos muito parecidos uns com os outros. Se até ao pilar “B” tudo é igual à berlina, a partir daí tudo se transforma, com os vidros alongados e de baixa altura a darem a impressão de que o veículo é mais comprido. Neste caso, o kit da AMG reforça não só um estilo mais desportivo como valoriza a noção de qualidade. Pela primeira vez as barras do tejadilho fazem parte do equipamento de série, uma integração perfeita que salienta a natureza multifacetada deste modelo, cuja aerodinâmica, não sendo melhor que a berlina tem, mesmo assim, um bom desempenho graças ao cuidado da marca na redução da superfície frontal.

Como na berlina, também os níveis Avantgard e AMG são facilmente identificáveis pela colocação da estrela na grelha frontal. Para além da pintura mate, a versão ensaiada carateriza-se por ter duas saídas de escape que reforçam o caráter desportivo dado pelo kit da AMG. A mala tem um acesso fácil mas possui menos 55 litros que o modelo anterior e mais 100 litros que a berlina.Ao todo, a capacidade é agora de 640 litros. Um valor que pode crescer até aos 670 litros se não inclinarmos tanto os bancos traseiros, que podem ser regulados eletricamente até 10 graus ou até 1820 litros se abdicarmos totalmente deles. Se aproveitarmos todas essas funcionalidades, a mala do Mercedes E Station é a maior do seu segmento. A sua forma regular e a possibilidade de montar calhas permite-nos arrumar mais racionalmente a carga.

A suspensão pneumática traseira auto-nivelante de série mantém a altura constante, independentemente do peso máximo homologado de 745 Kg. Este sistema contribui simultaneamente para melhorar tanto a segurança ativa como o conforto, embora a versão ensaiada não tivesse suspensão pneumática Airmatic.

INTERIOR 54/70

Entre as tecnologias que valorizam a segurança ativa destacamos a travagem ativa e outros sistemas que evoluíram no sentido de uma condução cada vez mais autónoma. É o caso do “Drive Pilot” que, pela primeira vez no Classe E, adiciona o assistente de mudança de faixa de rodagem. Assistência para tudo é o que não falta nesta carrinha, cujo interior é o segundo maior de um conjunto de carrinhas, onde o primeiro lugar do pódio pertence à Skoda Superb.

A mudança interior é enorme e nela podemos identificar muitos dos genes de outros modelos da marca, como o Classe S. A começar pelo painel frontal, formado por dois ecrãs de alta resolução. A instrumentação totalmente digital pode ser reconfigurada para mostrar informação e imagens relevantes de acordo com as nossas necessidades. Destaque também para os botões de controlo táteis aplicados no volante. Este sistema facilita o manuseamento das diferentes funções, complementando outros comandos táteis como o “touchpad”, colocado a meio dos bancos da frente, num ambiente requintado, recheado de elementos de boa qualidade.

A habitabilidade, com destaque para o espaço atrás, é agora muito maior, superando qualquer das suas adversárias, incluindo a Volvo V90, embora o modelo sueco vença nalgumas medidas, como na largura à frente e atrás ou no espaço para as pernas onde a disputa é grande quando comparamos o novo Mercedes com o “decano” Audi A6 Avant. Uma prova esclarecedora do elevado conforto que sentimos no interior é o baixo nível de ruído medido a bordo, mesmo quando a influência do vento questiona a pior aerodinâmica da carrinha quando comparada com a berlina. A versão ensaiada não tinha suspensão pneumática à frente (esta apenas existe atrás). Mesmo assim, a suspensão mostrou ser capaz de suavizar os efeitos da estrada, uma qualidade mais evidente no modo Comfort.

À semelhança do que acontece na berlina, também a carrinha E tem múltiplos botões de acesso direto para um controlo mais
rápido de certas funções, sempre que queremos, por exemplo, ligar o ar condicionado ou ativar e desativar certos sistemas de assistência à condução. Também os bancos têm agora uma forma mais ergonómica e, consequentemente, mais cómoda e com a possibilidade das costas do banco traseiro assumirem uma inclinação mais acentuada, dentro dos limites do conforto. Também não faltam funcionalidades como a existência de generosos espaços de arrumação.

MECÂNICA 38/50

Uma vantagem do novo motor ter menos 100 cc que o anterior é pagar menos imposto. As suas capacidades dinâmicas também melhoraram, pois o que se perdeu na cilindrada ganhou-se em termos de eficiência e a prova disso é a maior pressão média efetiva em relação ao seu antecessor e uma das maiores da sua classe. Entretanto, a potência específica, que quase alcança os 100 CV/litro, é uma das mais altas para um motor diesel desta classe. Também a redução do peso representa uma mais valia significativa (35,4 Kg), assim como a possibilidade deste novo motor poder ser montado no sentido longitudinal ou transversal, uma versatilidade que lhe permite uma utilização mais abrangente. Ao manter os mesmos quatro cilindros, a cilindrada unitária diminuiu e por isso a suavidade de funcionamento é maior, embora isso se deva também à reduzida taxa de compressão, que se situa nos 15:1 e ao escalonamento da caixa automática de 9 velocidades, uma solução conhecida da berlina e de outros modelos.

O aumento do número de relações de caixa tem a dupla missão de suavizar o funcionamento do motor e de proporcionar melhores prestações. Estas são melhores que na berlina devido a um escalonamento ligeiramente mais curto, conforme se pode ver pela velocidade às 1000 rpm de cada uma das relações de caixa. Esta redução não pôs em causa os consumos e as emissões.

Com um binário que atinge o seu valor mais elevado às 1600 rpm, não é difícil explorar até à exaustão os 194 CV. Estas duas caraterísticas (binário e potência) são responsáveis pelo maior índice de elasticidade desta classe (4,28). É graças a esta caraterística que conseguimos rubricar excelentes prestações. Porém, a resposta do motor e da caixa de velocidades variam
conforme a escolha do programa do sistema Dynamic Select. O facto da suspensão só ter molas pneumáticas atrás não permite o desempenho que teria se contássemos com essa opção também à frente. Curiosamente, o comportamento dinâmico não saiu muito lesado por essa ausência devido à distribuição diferente do peso e às jantes de 20 polegadas da versão ensaiada. Estas e os pneus mais largos atrás são uma ajuda no controlo da aderência e da tração, dois fatores que se conjugaram melhor do que na berlina.

AO VOLANTE 34/50

Embora esta versão não tivesse suspensão “Airmatic”, isso não diminuiu muito o conforto nem o comportamento dinâmico onde, contrariando o esperado, esta versão familiar teve na prova de ultrapassagem, um melhor desempenho que a berlina (75 Km/h contra 65 Km/h). Pensamos que isso se deve à diferente distribuição do peso pelos dois eixos, juntamente com uma direção que interpreta muito bem as trajetórias e uma boa manobrabilidade em virtude das rodas da frente virarem muito. Pareceu-nos também que, em manobras mais exigentes, o chassis mais reativo. Isso nota-se claramente pela forma de atuação menos prematura de certas ajudas ativas, como o controlo de tração e de estabilidade. 

Enquanto na berlina sentimos que as ajudas ativas atuavam ao mínimo deslize corrigindo toda a espécie de deriva do eixo traseiro, neste caso tal não acontece tão precocemente, o que gera um grau de confiança muito maior. Seja como for, nem a berlina nem a carrinha foram feitas para grandes correrias. Essa tarefa fica para as verdadeiras versões AMG. Para já, preferimos a pacatez desta versão mais económica que, mesmo assim, consegue entusiasmar perante as prestações alcançadas e para as quais a caixa automática de 9 velocidades tem uma grande influência.

Na aceleração dos 0 aos 100 Km/h só é 4 décimas de segundo mais lenta que a berlina, enquanto nas recuperações é mais rápida devido ao escalonamento mais curto, uma opção que minimiza a maior relação peso/potência. Por exemplo, dos 40 aos 100 Km/h, consegue ser duas décimas de segundo mais rápida. Só dos 40 aos 120 Km/h é que não consegue superar a berlina. Mesmo assim a diferença é pequena.      O novo escalonamento é acompanhado também por uma gestão mais adequada, que se adapta facilmente aos vários programas do sistema “Dynamic Select”. 

 

Tudo se passa entre um modo mais económico “Eco” até ao mais desportivo e individual, passando por uma utilização mais confortável que é no fundo a maior vocação desta nova geração do Mercedes Classe E Station. A segurança é também um dos valores mais importantes, conforme demonstrado pelo equipamento oferecido e pela boa capacidade de travagem.

ECONOMIA 41/60

À semelhança da berlina, também a carrinha constitui um valor seguro, razão porque, muitas vezes, as pessoas não se importem de pagar mais. E esse pode ser o motivo porque a Mercedes é tradicionalmente a marca premium mais cara. De qualquer forma, neste caso as diferenças estão mais diluídas mercê de fatores como a menor cilindrada do motor. Mesmo assim, o preço não deixa de ser um dos aspetos mais negativos se consideramos as alternativas. E se a BMW está numa fase de transição, a Audi continua a oferecer uma boa escolha, a que se junta agora a Volvo V90, uma novidade que  propõe uma boa relação preço/equipamento. Mesmo considerando que a carrinha Mercedes Classe E é um modelo totalmente novo e mais evoluído, este afastamento de preço não deixa de ser um “handicap”. Em compensação, tem custos de utilização mais baixos e melhores valores de retoma. 

Nos consumos este motor mostrou os seus dotes super económicos. Mesmo quando escolhemos o programa mais desportivo este não inflaciona os consumos  nem as emissões, nomeadamente os óxidos de nitrogénio (NOx) graças à terceira geração do sistema Bluetec (SCR), agora com um depósito maior para o AdBlue.

São múltiplos os talentos da maior carrinha da Mercedes que confirmam as nossas expetativas num mercado dividido por uma novidade recente e outros dois modelos mais antigos. Entre os mais velhos estão a BMW Série 5 Touring e a Audi A6 Avant, enquanto a Volvo V90 é o concorrente mais recente do novo Mercedes.

As qualidades familiares do modelo alemão continuam a ser o seu melhor cartão de visita, pelo que a Mercedes não se atreveu a alterar essa vocação. Uma vocação que continua a contemplar a possibilidade da lotação aumentar até sete lugares, caso o cliente opte por montar dois bancos na traseira sob a mala, destinados às gerações mais pequenas. Isto porque o espaço e a altura são reduzidos e também porque estes bancos continuam virados para trás. A mala, sendo um pouco mais pequena, pode crescer para valores semelhantes à anterior geração graças a uma solução engenhosa, enquanto o motor de 2 litros é novo, tem menos cilindrada e por isso paga menos imposto.


Para completar, a nova Classe E Station, que se serve da mesma plataforma do Classe C, vai buscar muitas outras tecnologias aos seus irmãos, inclusive aos mais evoluídos. A caixa automática de nove velocidades continua a ser uma agradável surpresa, não só pelas superiores prestações como pela maneira como gere os consumos.

 

Ensaio publicado na Revista Turbo 424, de janeiro de 2017