DS 5 BlueHDI 180 Sport Chic vs Volvo V60 D4 R-Design Geartronic

Texto: Ricardo Machado / Fotografia: José Bispo
Data: 18 de Novembro, 2017

A estreia a solo da DS é feita com o 5, uma revisão do original com o qual a marca francesa espera aceder ao segmento premium. Um patamar de entrada apetecível há muito reclamado pela Volvo. Adivinham-se tempos concorridos.

Há quem defenda que chegar ao topo não é complicado e que o difícil é manter a posição. Até pode ser verdade para algumas áreas, mas não nos parece que o seja para a indústria automóvel. Aqui, a estratificação está muito definida e enraizada no processo de decisão do comprador. Este mais depressa aceita comprar um carro premium com motor oriundo de um construtor generalista, do que pagar mais para ter um carro generalista com um nível superior de qualidade.

Uma realidade bem conhecida pelos construtores japoneses, que há muito apresentaram Lexus, Acura e Infinity, como divisões de luxo da Toyota, Honda e Nissan, respetivamente.

Agora chegou a vez da Citroën. Terminado o período de teste, a DS recebeu a merecida autonomia. O porta-estandarte e primeiro modelo a assumir a nova identidade é o DS 5. Apesar de ter um lugar cativo na garagem das viaturas oficiais do presidente francês, o DS 5 não aspira a saltar diretamente para o topo do segmento premium. Mantém as rodas bem assentes no asfalto começando por competir no patamar de acesso, o mesmo onde pontuam alguns generalistas com aspirações e a Volvo.

Esta última a aproveitar a descontração nórdica para parecer menos sofisticada do que na realidade é. Sob o manto do “somos confortáveis. Somos seguros. Não temos nada a provar a ninguém” esconde-se muita tecnologia e uma noção de qualidade intrínseca que não passa despercebida ao comprador. Esta é a primeira e mais importante batalha a ganhar pelo Citr… pelo DS 5.

Ensaio publicado na Revista Turbo 406, de julho de 2015

EXUBERÂNCIA DA JUVENTUDE

Com quatro metros e meio de comprimento e um preço superior aos 47 mil euros, não se pode dizer que este DS 5 seja um produto orientado para uma faixa etária jovem. No entanto, parece. A revisão para a maturidade enquanto marca remodelou-lhe a grelha, substituindo o sóbrio duplo chevron pelo intrincado logótipo DS, e substituiu 12 botões da consola central por um novo ecrã tátil.

Uma evolução face ao exagero de comandos do primeiro DS 5. No entanto, ainda sobram muitos e dispersos pelo habitáculo, incluindo o teto. Aqui mantêm-se as três janelas panorâmicas com cortinas elétricas. Uma solução interessante que peca apenas por não fazer o que se espera dos tetos de abrir: abrir. Depois há uma mistura de plásticos macios, com outros mais rijos, de acabamentos mate, com acabamentos lacados, com acabamentos cromados, com acabamentos desenhados… Há uma profusão de estilos e soluções muito pouco em linha com o conservadorismo normalmente associado ao conceito premium. 

O contraste com a descontração do Volvo não podia ser mais evidente. Linhas sóbrias, combinações de materiais mais consentâneas, aplicação criteriosa de cromados para poupar nos plásticos macios. Neste campo, apesar de toda a exuberância, o DS 5 recebe melhor os ocupantes. Há mais materiais macios nas zonas visíveis e até naquelas onde, não se vendo, fazem falta, como o rebordo da consola central onde a perna direita apoia. Este é um reforço importante, aquele elemento é muito volumoso, separando completamente o condutor do passageiro. Apesar do tamanho, continua a não haver onde arrumar o telemóvel e a carteira. Nem um porta copos. Só as bolsas das portas ou o poço sob o apoio de braços, demasiado fundo para ser prático no quotidiano.

A experiência da Volvo volta a marcar pontos, com uma consola tradicional e arrumação razoável no porta copos. Também há muitos botões, ou não tivesse um teclado numérico completo para o telefone, mas estão organizados de forma mais intuitiva. Sem uma consola tão volumosa cria-se um habitáculo desafogado. Sensação reforçada pelos pilares A mais finos e maior superfície vidrada. O teto mergulhante do DS 5 não só rouba altura aos lugares traseiros, sem o vidro panorâmico roubaria menos, como faz da câmara traseira um auxiliar indispensável para as manobras de estacionamento.

 

Metodologia abordada no capítulo "Carroçaria".

MAIS JANTES QUE SUSPENSÃO

Goste-se ou não, a caixa automática instalou-se no segmento premium para ficar. E o DS 5 está à altura das circunstâncias com a versão 2.0 BlueHDi de 180 CV com caixa automática de seis velocidades. Há uma caixa pilotada também de seis velocidades mas, por estar associada à variante menos eficiente do 2.0 HDi, com 163 CV, empurra o preço para os 50 462€.

Para o V60 D4 de 190 CV a Volvo só tem uma caixa automática de oito velocidades por 48 034€. Mais relações permitem ao V60 explorar melhor os 400 Nm de binário, valor igual ao do DS 5, mas disponível 250 rpm mais cedo.

O que se traduz num maior poder de aceleração, ao qual não será alheio o menor peso do Volvo. Para o condutor, as patilhas no volante tornam a condução mais envolvente que a do DS 5, sem patilhas e com a base plana. Em qualquer dos casos o funcionamento é rápido e adequado a uma condução não desportiva. Os sistemas de pára-arranca do motor ajudam a manter os consumos controlados, com o Volvo a gastar ligeiramente mais do que o DS em cidade - 8,9 l/100 km contra 8,7 l/100 km. Em estrada os papéis invertem-se - 5,1 l/100 km contra 4,9 l/100 km - fixando a média ponderada final num empate: 7,1 l/100 km. 

Em estrada e cidade, onde a direção se torna pesada e desconfortável, o DS 5 foi prejudicado pela escolha de jantes. As 18’’ de série foram preteridas por umas opcionais de 19’’. Muito bonitas, mas com muito pouca borracha e grande influência na suspensão. Por um lado contam-se as pedras da calçada, por outro o lado mais macio da suspensão revela-se a meio das curvas, sob a forma de movimentos inesperados da carroçaria, criando a sensação de que molas e amortecedores não trabalham em sintonia.

As vibrações transmitidas pelo eixo dianteiro à direção aumentam nas curvas longas em apoio. Pelo contrário, o V60, a calçar igualmente jantes de 19’’ com pneus 235/40, é um exemplo de suavidade, deixando sempre clara a maior vocação para o conforto. Assim, não surpreende quando cede às transferências de massas adornando ligeiramente em curva, sem chegar perto de despertar a eletrónica.

É a descontração nórdica a assumir que não tem de mostrar nada a ninguém. Linhas descomplicadas, para dar forma a um produto que, só pelo nome, se sabe que vai ser seguro e confortável. É esta sobriedade, quem sabe excessiva, que faz do DS 5 uma alternativa ao cinzentismo do segmento. Formas, materiais, comportamento.

Tudo é diferente no novo topo de gama francês. Enquanto algumas soluções podem ser discutíveis, a qualidade dos materiais é inquestionável, tal como os efeitos negativos das jantes de 19’’ no comportamento. Uma opção menos feliz, que faz parte do processo de crescimento de uma marca que aposta na diferença e isso, por si, merece ser reconhecido.

Metodologia abordada no capítulo "Mecânica".