Mercedes S 350d vs BMW 730d

Texto: Ricardo Machado / Fotografia: Vasco Estrelado
Data: 7 de Junho, 2017

IRONIA DO MERCADO…

Por mais difícil que seja encarar um carro com um preço base de 112 600€ como uma versão de acesso, a verdade é que o Mercedes S 350 d é o diesel mais barato da Classe S. Há um S 300 h por 100 550€, mas não é um diesel simples. Combina o conhecido bloco 2.2 de 204 CV com um motor elétrico de 27 CV para debitar um total combinado de 231 CV. Como vimos na edição 411 da Turbo (dezembro de 2015), é tão despachado como poupado. Os 6,4 l/100 km de média ponderada por nós registados retiram mais de um litro aos 7,8 l/100 km verificados com o S 350 d. No entanto, falta-lhe a nobreza do V6 de 258 CV. O motor elétrico ajuda a compensar os cilindros em falta, mas não é a mesma coisa. E não tem a caixa automática de nove velocidades. Mantém-se fiel à 7G-Tronic, enquanto o S 350 d recorre à mais recente 9G-Tronic para manter velocidades de autoestrada com o motor a ronronar nas 1350 rpm.

Desenvolvida internamente pela Mercedes, a nova caixa automática permite ao construtor de Estugarda afirmar-se como o único premium com caixa de nove. Um título válido para as berlinas, porque há mais de um ano que a Land Rover utiliza uma caixa com igual número de relações. Neste caso, a transmissão é de origem ZF, o mesmo fornecedor das caixas automáticas da BMW. No entanto, o construtor de Munique fica-se pela, muito elogiada, variante de oito velocidades.

Como comprovámos com o 730d, não precisa de mais relações para gastar menos meio litro que o Mercedes. Com igual número de cilindros – em linha em vez de em V – e os mesmos três litros de capacidade, o diesel de acesso à Série 7 eleva a potência até aos 265 CV. Já o preço, baixa para os 111 700€. Menos 900€. Um valor considerável noutros segmentos que aqui, perante faturas com seis dígitos, vai provavelmente acabar empregue em opcionais como o Pack aquecimento Comfort (880€), para aquecer os apoios de braços central e das portas, bem como os bancos e o volante.

 

NÚCLEO DE CARBONO

A mesma lógica podia ser aplicada aos consumos. No entanto, a “consciência ambiental” dos proprietários de berlinas de luxo como o BMW Série 7 ou o Mercedes Classe S garante a popularidade das versões de acesso. Se o consumo dependesse apenas da cilindrada e do binário, tínhamos um empate com três litros e 620 Nm. Um equilíbrio que se prolonga pela aerodinâmica, onde o cx de 0,24 coloca as duas berlinas na liderança do segmento.

As diferenças começam nas ligações ao solo. Ambos concordam com pneus 245/45 montados em jantes de 19’’ para a frente. Atrás, as borrachas 275/40 são comuns mas, enquanto o Mercedes mantém as jantes de 19’’, o BMW sobe para as 20’’. A suspensão pneumática adaptativa, de série para ambos, evita que a escolha de pneus comprometa o conforto. Procurando mais fundo, o núcleo do habitáculo em carbono do Série 7 permite ao BMW ser 200 kg mais leve que o Classe S. Mais do que o número de velocidades da caixa, é esta diferença que vai ser determinante para os consumos.

No nosso trajeto de testes, com velocidade estabilizada nos 120 km/h e a cambota a rodar a 1450 rpm, o 730d gastou 7,3 l/100 km. Com mais uma velocidade, o S 350 d baixou o regime para as 1350 rpm, mas não conseguiu baixar dos 7,6 l/100 km. Fixando a velocidade nos 90 km/h, o BMW baixa a rotação para as 1100 rpm – pouco acima das 700 rpm do ralenti – e a média para os 4,7 l/100 km. Sem regime para engrenar a nona a esta velocidade, o Mercedes seguiu em oitava, às 1200 rpm e a gastar 5,2 l/100 km.

Presente em ambos os modelos, o cruise control ativo assume o comando da caixa sempre que os sensores detetam um veículo mais lento. No entanto, apenas o do BMW tem função “à vela”. Uma caraterística do modo de condução Eco Pro a ter em conta quando se utiliza o cruise control para conduzir no limite de velocidade. Em “roda livre” e a descer, os 120 km/h marcados no cruise control facilmente se transformam em 126 km/h. Se a esta velocidade não é grave, a 156 km/h pode ser muito grave…

 

PÁRA-ARRANCA

Em cidade não há pára-arranca de motor ou grelha dianteira ativa que ajude o 730d a baixar dos 8,6 l/100 km. Com quase duas toneladas para mexer a cada semáforo verde, o melhor que o S 350 d consegue são 9,2 l/100 km. Mesmo sem médias particularmente brilhantes, é neste cenário que as caixas automáticas mais se destacam. É só acelerar e travar. Ações que, para quem goste de travar com o pé esquerdo, se fazem com mais naturalidade no Mercedes devido às maiores dimensões da plataforma do pedal do travão. Se no trânsito a progressividade e o conforto são idênticos, nas manobras sobressai a suavidade da caixa do BMW. Embora as duas soluções utilizem conversores de binário, o da Mercedes escorrega mais tornando o S 350 d mais suscetível de dar pequenos saltos nas transições de primeira para marcha atrás.

A viagem até Arraiolos, para a sessão fotográfica, evidenciou as caraterísticas de estradista de ambas as versões de acesso. Sem o rigor do percurso dos consumos, as médias subiram para os 8,1 l/100 km do Mercedes, com o BMW a gastar mais um decilitro. Fora da autoestrada, a caixa 9G-Tronic mostrou-se mais direta que as antecessoras. Ainda não acompanha a rapidez da BMW nas reduções, mas já reduz quando se pressiona a patilha esquerda do volante e não apenas quando lhe apetece. Apesar de serem concebidos a pensar nos ocupantes dos bancos traseiros, BMW Série 7 e Mercedes Classe S tratam bem os “motoristas”. Só não incluem airbags para os joelhos, mas também ninguém está a pensar em utilizá-los.

O melhor é desfrutar da posição de condução, das ajudas eletrónicas, do silêncio, das caixas automáticas e, como acontecia no 730d, dos bancos dianteiros ventilados (1230€) com massagem (1140€). Duplicando os valores, estas mordomias são extensíveis aos bancos traseiros. No entanto, não podemos deixar de notar que, de tão confortáveis que são – têm ajuste elétrico de série e almofadas volumosas – os bancos traseiros do Série 7 não deixam muito espaço para as pernas. O que é irónico num carro desenhado a pensar nos utilizadores daqueles bancos. Há sempre a versão longa. Ou o Classe S, que deixa as regulações elétricas na lista de opcionais, mas oferece mais alguns centímetros de espaço para as pernas. Olhando apenas para os números, os do BMW 730d são mais interessantes. É mais barato e gasta menos. Mas este não é um segmento onde se contem tostões ou gotas de combustível.

 

Aqui valoriza-se a imagem e elogia-se o conforto, tantas vezes opcional. Se no primeiro caso encontramos um empate técnico, no conforto o Mercedes S 350 d continua a ser uma referência. Pode não ter um interior tão sofisticado como o do BMW, mas não obriga os proprietários com mais de 1,80 metros a ponderar a compra da versão longa.

Esta metodologia não se aplica a este ensaio. 

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