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Redescobrir o Douro

Texto: Júlio Santos
Data: 7 de Dezembro, 2016

Voltámos ao Douro “desafiados” pela afirmação tantas vezes ouvida de que uma paisagem nunca se repete. Que as cores mudam a cada instante e, ainda mais, em cada época do ano. Porém, voltámos ao Douro à procura daquilo que mais nos fascina: a diversidade, a atmosfera apaziguante, a descoberta permanente. Encontrámos.

As encostas despidas de cor anunciam o fim de um ciclo. O final da vindima deixa à vista a terra crua, rude, e o sol de final de tarde refletido no xisto e no ocre que resta da vinha, mostra-nos, afinal, que a beleza do Douro é intemporal. O trabalho de um ano não termina, antes prossegue agora na adega, na análise ao segundo, à fermentação do néctar. A terra repousa e toma folego para um novo ciclo.

Essa, porém, é outra história. A história de uma região – a mais velha região demarcada do mundo – que leva Portugal pelo mundo. Essa é a história de um ano de trabalho árduo. De gerações, quintas centenárias, para quem o vinho é desafio, subsistência, orgulho e, agora, ciência. Fazer sempre melhor. O melhor. Reinventar todos os anos uma arte milenar (há registos da produção de vinho do Douro para fins eclesiásticos desde há mais de dois mil anos). Fazer melhor, o melhor. Custe o que custar. Mas essa é outra história. Voltámos ao Douro, porque não existe um tempo certo para ali estar. De outra forma não se entenderia que, cada vez mais, o Douro esteja na moda. Ou, antes, permaneça na moda. Se os primeiros dias de verão conseguem encantar-nos pelas mil tonalidades de verde espelhadas lá em baixo nas águas agora apaziguadas, outono dentro, os dias agora mais curtos, brindam-nos com uma tranquilidade que contrasta de forma quase irreal com a azáfama da vindima, celebração de todo um ano de receios e incertezas, preces e angústias derivadas da consciência de que um só dia de chuva, no tempo errado, pode deitar tudo a perder.

Voltámos ao Douro Vinhateiro, Património Mundial, porque, afinal, há tanto para (vi) ver por aqui que seria inaceitável soberba desdenhar daqueles que por lá se encantaram a ponto de garantirem que “o Douro nunca é igual. O Douro é um estado de alma que nos deixa sem palavras quando pretendemos descrever aquilo que só os sentidos captam”. Sim, o Douro pode ser rude quando a intempérie percorre os vales cavados, a chuva miudinha obriga a cuidados redobrados para não sermos surpreendidos nas falésias do Douro Internacional, ou o orvalho matinal nos convida a prolongar a lareira no hotel. Afinal, como descreveu Miguel Torga num dos infinitos momentos de encantamento, o Douro é “o prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão”.

PERDIDAMENTE, NAS QUINTAS

A extasiante beleza desta descrição de ontem mantém-se intacta – é essa a enorme vantagem da natureza, desde que nós, humanos, profanadores, deixemos que assim aconteça. O que mudou foram as condições fabulosas de que agora podemos beneficiar para refastelarmos os sentidos. A oferta hoteleira é magnífica – de hotéis de cinco estrelas, a estabelecimentos budget, passando por confortáveis estruturas rurais – mas a nossa preferência vai para as quintas familiares, espaços aconchegantes que ajudam a perceber o porquê da tradição vinícola se ter perpetuado. É o caso da Quinta do Crasto, entre a Régua e o Pinhão (www.quintadocastro.pt), propriedade da família de Leonor Roquette, neta de Constantino de Almeida que há um século atrás fundou esta lindíssima propriedade que se estende por mais de 130 hectares, dos quais 70 hectares estão ocupados por vinhas que asseguram uma produção anual superior a um milhão de garrafas (80% para exportação).

Além do vinho, reconhecido internacionalmente, destaque para o projeto de enoturismo que comporta a casa de família criteriosamente preservada e, para outras épocas, a piscina no topo da prioridade, desenhada pelo arquiteto Souto Moura, cujo enquadramento é já uma espécie de ícone… apto a disputar o protagonismo do vinho produzido ali mesmo ao lado. São, de facto, projetos como este que engrandecem o Douro e nos desafiam a voltar uma e outra vez, na certeza de que, qualquer que seja a época do ano, este é um daqueles lugares onde somos sempre bem recebidos. É assim, também, na Quinta da Covela, já em pleno concelho de Baião, de saída para o Minho (www.quintadacovela.pt), propriedade de Marcelo Lima e Tony Smith, dois amigos que há muito se encantaram por Portugal e pelo Douro onde estão a realizar um trabalho fantástico de recuperação da quinta outrora propriedade da família do realizador Manoel de Oliveira.

Ciosos do património que detêm, conseguiram já “ressuscitar” os quase 34 hectares de vinhas, pomares e bosque mediterrânico e têm em marcha um projeto de enoturismo que bem merece ser conhecido. Ainda mais, claro, pelos apreciadores dos melhores vinhos, algo em que a quinta se especializou, como o demonstram os sucessivos prémios conquistados nos últimos anos.

Além da Quinta da Covela e da Quinta do Crasto, que, tal como o Vallado (www.quintadovallado.com), à saída da Régua, têm os respetivos nomes indelevelmente ligados à produção da nova geração de vinhos maduros, é fundamental prever uma visita a pelo menos uma das quintas especializadas na produção do Vinho do Porto (Quinta da Pacheca e Caves Ferreira, entre outras).

Afinal, foi aqui que tudo começou quando, em 1756, o Marquês de Pombal mandou publicar o decreto –lei que consagrava a região demarcada do Vinho do Porto, quase por imposição dos ingleses que há muito tinham espalhado pelo mundo a fama daquele que é hoje um cartão de visita de toda uma região e um dos produtos mais exportados por Portugal.

 

ESTRADA DE ENCONTROS

Não há momentos ideais para redescobrir o Douro. O que existem são, porventura, pretextos ainda mais convincentes para descobrir uma das mais belas regiões do mundo. Neste caso, tínhamos ao dispor um Porsche Macan e a vontade de percorrer, outra vez, agora com todos os sentidos despertos, “A melhor estrada do mundo para conduzir”. Falamos da EN 222 que liga o Peso da Regua ao Pinhão, 27 quilómetros, 93 curvas, que deixaram em êxtase um júri composto por um físico quântico e designers de pistas de Fórmula 1, de carros de alta cilindrada e de trajetos radicais. O estudo da Avis, que colocou a estrada do Douro à frente da “Big Sur”, na Califórnia e da A 535, no Reino Unido, no total de 25 traçados, enaltece a experiência de condução porque “o tempo gasto nas retas torna-se o momento ideal para apreciar a paisagem envolvente antes de chegar à próxima curva, enquanto possibilita ao condutor o prazer e emoção de uma condução desafiante”. Escolhido o palco e a plateia, o ator principal teria que ser a condizer e a escolha do Porsche Macan não foi obra do acaso. Para ombrear com uma de topo (Douro) só outra de igual gabarito (Porsche). Para gozar a melhor estrada do mundo só um SUV como o Macan. O desafio estava lançado mas… superou todas as expetativas. O Macan não é “só” um SUV capaz de ultrapassar incólume todas as dificuldades (nomeadamente quando a paisagem nos desafiava a uma incursão fora de estrada). O Macan oferece-nos a experiência de condução de um verdadeiro Porsche, bem como o conforto e a segurança que exigimos para a família. Se a EN222 é ou não a melhor estrada do mundo… não sabemos pois ficámos com a sensação de que ao volante de um Macan todas as estradas são as melhores do Mundo.

 

Viagem publicada na Revista Turbo 410.