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Autónomos causam um rombo no mercado automóvel?

Texto: Miguel Policarpo
Data: 13 de Abril, 2018

Condução autónoma, o futuro que dispensa que as pessoas adquiram automóveis. A máquina substitui o homem na condução, não precisando de comprar um carro e usufruindo da mobilidade partilhada. Será assim ou precisamente o contrário?

A intuição diz que o desenvolvimento de veículos autónomos pode tornar obsoleto o conceito de automóvel como o conhecemos hoje em dia. Substituindo a “condução tradicional”, os carros que se conduzem sozinhos serão a realidade do futuro, partilhando as pessoas soluções de mobilidade e dispensando a compra de carros. Mas será assim mesmo? Deixarão as pessoas de comprar automóveis, limitando-se a usufruir de veículos partilhados?

Empresas como a Waymo – originária do projeto de condução autónoma da Google – encontram-se a desenvolver e a testar automóveis autónomos a um ritmo cada vez maior. Os testes já decorrem em ambiente real e envolvem várias marcas, como a Jaguar,a Nissan ou a Volkswagen. O futuro parece passar por este modo de condução e levanta questões como se a utilização de táxis autónomos tornam a compra de automóveis desnecessária para que as pessoas circulem dentro das cidades. Para quê comprar um carro quando tem um autónomo pronto a usar, certo?

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Uma empresa de estudo de mercado, a KPMG, faz a projeção de que por volta de 2030 as vendas de ligeiros de passageiros nos EUA decresçam dos atuais 5.4 milhões de unidades comercializadas para menos de metade, para os 2.1 milhões. Outra empresa do mesmo âmbito, a ReThinkX, acredita que a chegada dos autónomos e a sua massificação resultará em que a procura de carros tradicionais se reduza em 70%. Visões pessimistas para o mercado como o conhecemos atualmente, mas que também podem ser exageradas.

É nesta matéria que existem pontos de vista divergentes no que respeita à propriedade de automóveis. Os autónomos não vêm apenas recriar a indústria automóvel com veículos sem condutor. Vão também iniciar a venda de um produto totalmente novo, uma varidade de sistemas inteligentes transportes robots capazes de se guiarem sozinhos. A massificação deste tipo de produto vai tornar a sua conceção mais barata, popular e versátil, redefinindo a própria indústria em vários pontos e não significando necessariamente que as pessoas abdiquem de comprar um carro.

Custo
Motores elétricos de construção simplificada, carroçarias mais leves e massificação dos autónomos pode significar que o custo final e de manutenção seja até inferior ao de um automóvel convencional.
Atualizações de software
Devido à grande dependência do software para o funcionamento dos autónomos, continuas atualizações podem tornar o carro sempre moderno.
Guardar bens pessoais
Um veículo que se conduz sozinho permite aos ocupantes usufruírem da viagem. Descansar, jogar ou trabalhar são tarefas que requerem objetos e que podem ser guardados no automóvel.
Acessibilidade instantânea
A dor de cabeça de estacionar e sair de estacionamentos de cidades densas acaba. A ideia é solicitar o veículo e que ele venha ter até si.
Diversidade funcional e Modularidade
Adaptado a si. Comprar um automóvel totalmente ao seu gosto e ajustado para uma determinada função é uma realidade com os veículos autónomos.

O custo pode decrescer, graças à simplificação de motores elétricos e à utilização de carroçarias mais leves. Comprar e manter um autónomo pode vir a ser mais barato do que a fatura associada aos veículos tradicionais. Há estimativas de que o preço final de um autónomo se fixe nos 10 mil dólares – cerca de 8,115 euros. Atualmente, a previsão é de que um destes veículos custe 30,000 dólares, correspondente a 24,343 euros. As possibilidade de atualização é também uma razão para que as pessoas queiram adqurir um autónomo. Em média, o consumidor mantém o mesmo carro por 10 anos, mas, dado que o software tem uma importância significativa no funcionamento dos autónomos, com recurso a atualizações podem manter o carro sempre moderno.

A necessidade de manter bens pessoais nos automóveis também entram na equação. Com um autónomo, as pessoas podem descansar, trabalhar e jogar. Há quem acredite que, desta forma, têm que deixar os objetos dentro do carro. Por fim, a acessibilidade instantânea, sendo que um autónomo conseguirá aparecer no local num espaço de minutos após ser solicitado, evita dores de cabeça para os condutores em cidades densas. A diversidade funcional e a modularidade dos autónomos concluem as razões pelas quais as pessoas ainda quererão adquirir automóveis. Adaptados às suas necessidades, tornam-se no veículo perfeito para cada um.

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Devido a estes argumentos, há quem acredite que a questão deixa de ser sobre se o consumidor deixa de querer comprar um carro próprio. O desafio será a adaptação e disponibilizar uma oferta que satisfaça as necessidades de quem procura um carro.

Ressalva-se, no entanto, a óbvia importância da manutenção da oferta de carros “tradicionais” para quem gosta de conduzir. Para esta discussão, o gosto pela condução deverá sobrepor-se ao alegado custo económico inferior, à funcionalidade ou à modularidade de um autónomo. Mas essa é uma discussão diferente que não apenas a dos autónomos e o mercado automóvel…


Fonte: SingularityHub