A Toyota procura fazer história nas 24 Horas de Le Mans, a mítica prova de resistência do World Endurance Championship (WEC), conquistando a corrida com um automóvel híbrido. Os primórdios da ideia desta tecnologia por parte da Toyota remontam a 1994, ano em que a marca assumiu o que parecia uma utopia na época – criar um automóvel mais amigo do ambiente, com consumos e níveis de emissões mais baixos, sem comprometer as prestações e o desempenho. Saiba agora o trajeto que tem sido cumprido para cumprir o sonho dos híbridos Toyota e as 24 Horas de Le Mans, pois esta vitória será mais uma demonstração de que esta é uma aposta ganha.
Toyota Prius
Conquistar a prova de resistência de automóveis mais famosa, que pode acompanhar na íntegra desde já na Eurosport, com um híbrido é o objetivo da Toyota, que assumiu em 1994 a ideia de criar um veículo mais amigo do ambiente sem comprometer o desempenho. Daí nasceu o Prius, dois anos depois, sendo o primeiro híbrido de produção em massa na indústria automóvel.
Passado cerca de uma década, em 2005 a Toyota almejava tornar-se uma referência de veículos híbridos também nas pistas. A Toyota Motor Corporation (TMC) apontava para as provas de resistência – as competições que realmente testam a fiabilidade de um automóvel – para ensaiar a sua recente tecnologia denominada ‘Toyota Hybrid System – Racing’ (THS-R), que, entre outras funções, aproveitava a energia cinética das travagens para impulsionar as acelerações, associando um motor elétrico ao motor a principal a gasolina. Recorde-se de que nesta altura nem sequer havia uma categoria própria para híbridos.
Desenvolvendo o sistema de tecnologia THS-R, patenteado pela marca nipónica, a Toyota produziu, em 2006, o primeiro Lexus GS 450h THS-R, baseado no modelo com o mesmo nome mas sem a sigla inerente ao sistema híbrido. No evento 24 horas de Tokachi, em 2006, terminou na 17ª posição de um total de 33 participantes.
Lexus GS 450h THS-R
Toyota Supra HV-R híbrido
Seguiu-se o Toyota Supra HV-R, o primeiro híbrido do mundo a vencer um evento, no ano de 2007. No mesmo circuito, as 24 Horas de Tokachi, os japoneses subiam à primeira posição do pódio à boleia do Supra vitaminado por tecnologia híbrida, que percorreu 616 voltas, totalizando 5091 km. Foram 19 voltas de avanço em relação ao 2º classificado, graças ao motor de potência superior a 700 cv e à tração integral.
Cinco anos depois a marca regressava às competições de resistência. No hiato de meia década a Toyota criou o modelo TS030 HYBRID, que estreava um veículo híbrido no Campeonato do Mundo de Resistência (WEC). O resultado foi a vitória em 3 dos 6 circuitos do campeonato, sublinhando o carácter competitivo, assinalado pelo motor atmosférico V8 de 3,5 l com 530 cv e um motor elétrico de 300 cv.
Toyota TS030 híbrido no Circuito Paul Ricard, França, 11-13 de Janeiro de 2012.
A Toyota manteve a aposta no TS030 HYBRID, apresentando, um ano depois, em 2013, uma versão melhorada, sobretudo no chassis. Foi a primeira participação completa da Toyota no WEC, que terminou com quatro subidas ao pódio e duas vitórias no campeonato.
Nos dois anos seguintes, em 2014 e 2015, o TS030 HYBRID deu lugar ao Toyota TS040 HYBRID. O TS040 veio equipado com um sistema de recuperação de energia, afinado de tração às quatro rodas e capaz de entregar um pico de potência de 1000 cv, um aumento em cerca de 18% em relação ao TS030, ainda que o consumo de combustível se reduzisse em 25%. O motor atmosférico era 3,7 l, de 520 cv e a transmissão de 7 velocidades.
Em 2016 a Toyota apostou no TS050 HYBRID, com um sistema híbrido do modelo totalmente reformulado em relação ao do antecessor TS040. Entre as mudanças, destaca-se a substituição dos super condensadores por baterias de iões de lítio, e a revisão dos sistemas de refrigeração e de transmissão. O motor V8 foi reduzido para um mais eficiente V6 bi-turbo de 2,4 l de 500 cv, potência que duplicava quando entram em ação os motores elétricos. Na penúltima volta, a apenas 5 minutos do final das 24 Horas de Le Mans de 2016, a Toyota morreu na praia, cedendo a vitória para a Porsche. Uma falha no motor impediu a marca japonesa de conquistar pela primeira vez a mítica prova no circuito de La Sarthe, numa das imagens mais cruéis e frustrantes de sempre do desporto automóvel. Ainda não era desta que os híbridos Toyota e as 24 Horas de Le Mans se tornavam num sonho cumprido.
Este ano a Toyota mantém a aposta no TS050 HYBRID, apesar da revisão integral ao modelo. Diz a marca que apenas a estrutura em monobloco do chassis se mantém igual. O motor V6 bi-turbo vem preparado para um maior rendimento, através de alterações na relação de compressão e do sistema de combustão, e as baterias de iões de lítio estão mais desenvolvidas. No exterior, a Toyota procedeu a algumas mudanças para apurar a aerodinâmica do TS050 e respeitar os regulamentos do WEC, designadamente com a subida do splinter dianteiro em 15 mm e o redimensionamento do difusor traseiro. Até à presente data, a época de 2017 tem sido risonho para a Toyota no WEC, pelas vitórias em Silverstone e no SPA.
Festejos da Toyota Gazoo Racing pela vitória nas 6 Horas de Silverstone em abril. A marca japonesa espera pousar para a mesma fotografia em França, dia 18 de junho.
Conseguirá a Toyota destronar a Porsche nas 24 Horas de Le Mans de 2017, marcadas para entre o dia 17 e 18 de junho, e levar para o Japão o título de campeão da prova, muito cobiçada pelos japoneses, aproveitando a partida na pole position? Tendo em conta que a marca esmagou o recorde do circuito, tirando quase dois segundos ao tempo que pertencia aos rivais da Porsche, as perpetivas são muito boas para que os híbridos Toyota e as 24 Horas de Le Mans deixem de ser um sonho de vitória mas se tornem numa realidade, mostrando novamente que a visão da marca ao apostar nesta tecnologia foi um tiro certeiro.